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Litíase Biliar Após Cirurgia Bariátrica: Quando e Como Abordar?

Introdução

A litíase biliar é uma complicação frequente após a cirurgia bariátrica, especialmente em procedimentos que resultam em perda ponderal rápida, como o bypass gástrico em Y-de-Roux (RYGB) e a gastrectomia vertical (sleeve). A incidência de formação de cálculos pode atingir 30–40% nos primeiros 12 a 18 meses, com até 15% dos pacientes evoluindo com sintomas ou complicações como colecistite aguda, pancreatite biliar ou coledocolitíase. O manejo adequado depende do tipo de procedimento bariátrico, da anatomia reconstruída e da apresentação clínica.


Mecanismos Fisiopatológicos

A rápida perda de peso induz:

  • Supersaturação biliar por colesterol,
  • Diminuição da motilidade da vesícula biliar,
  • Aumento de mucinas e nucleação,
  • Redução da ingesta lipídica estimuladora de contração biliar.

Tais fatores explicam por que a litíase se desenvolve principalmente nos primeiros 6–12 meses pós-operatórios.


Quando Suspeitar e Quando Intervir

1. Paciente assintomático com cálculos

Não há indicação de colecistectomia profilática na maioria dos centros. A conduta é expectante, exceto em casos especiais:

  • Cálculos > 1 cm,
  • Vesícula completamente preenchida,
  • História prévia de pancreatite biliar,
  • Paciente com acesso cirúrgico futuro dificultado.

Alguns grupos utilizam ursofalk (ácido ursodesoxicólico) 300–600 mg/dia por 6 meses, capaz de reduzir a incidência de litíase sintomática, sobretudo em RYGB.

2. Paciente sintomático (cólica biliar ou colecistite leve)

A conduta é colecistectomia laparoscópica, idealmente realizada por cirurgião com experiência em pacientes pós-bariátricos, que apresentam:

  • Adhesões frequentes,
  • Alterações anatômicas de troca de porta,
  • Maior fragilidade tecidual.

3. Colecistite aguda moderada/grave

Seguir o protocolo de Tokyo Guidelines:

  • Antibióticos,
  • Colecistectomia de urgência se possível,
  • Drenagem percutânea em casos selecionados.

4. Pancreatite biliar

Após estabilização clínica, realizar colecistectomia.
O timing depende do tipo de bariátrica:

  • Sleeve: anatomia normal → colecistectomia na mesma internação.
  • Bypass gástrico: alta chance de coledocolitíase → investigar colédoco antes de operar.

Coledocolitíase no Paciente Bariátrico: Como Abordar?

A abordagem depende profundamente da anatomia pós-cirúrgica:


A. Gastrectomia Vertical (Sleeve)

Anatomia do duodeno e papila mantida.
CPRE convencional possível.

Tratamento padrão:

  • CPRE diagnóstica + terapêutica,
  • Esfincterotomia,
  • Balão/ Basket,
  • Colecistectomia subsequente.

B. Bypass Gástrico em Y-de-Roux (RYGB)

É o cenário mais desafiador. O acesso à papila é bloqueado pela alça alimentar.

Opções:

  1. CPRE por enteroscopia de duplo balão
    • Técnica exigente, limitada a centros avançados.
    • Sucesso ~70%.
  2. CPRE transgástrica laparoscópica
    • A via mais resolutiva em muitos centros.
    • Procedimento combinado: laparoscopia cria gastrotomia no estômago excluído → endoscopista acessa a papila.
    • Alta taxa de sucesso > 95%.
  3. CPRE guiada por EUS (EDGE)
    • Criação de uma fístula temporária entre o pouch e o estômago excluído usando LAMS.
    • Opção moderna e altamente eficaz.
    • Exige endoscopista avançado.
  4. Exploração cirúrgica da via biliar
    • Via transcística ou coledocotomia laparoscópica, quando experiência disponível.

Quando Operar Antes da Bariátrica?

Indicações de colecistectomia prévia:

  • Cálculos sintomáticos,
  • Cálculos > 1,5 cm,
  • Vesícula em porcelana,
  • Pólipos > 1 cm,
  • Suspeita de malignidade,
  • História prévia de pancreatite biliar.

Para pacientes assintomáticos, a tendência atual é não operar previamente, exceto quando o acesso futuro pode ser especialmente difícil (superobesidade com grande parede abdominal ou barreira logística).


Pontos-Chave

  • A litíase biliar é comum após cirurgia bariátrica (30–40%).
  • Colecistectomia profilática não é indicada rotineiramente.
  • A abordagem depende do tipo de cirurgia:
    • Sleeve → CPRE convencional possível.
    • Bypass → técnicas avançadas (enteroscopia, EDGE, CPRE transgástrica).
  • O tratamento deve ser individualizado e multidisciplinar.
  • A cirurgia bariátrica exige planejamento prévio quanto ao risco de litíase.

Conclusão

A litíase biliar no pós-operatório de cirurgia bariátrica não é apenas frequente, mas também clinicamente relevante, podendo gerar quadros graves como pancreatite e colangite. O sucesso do manejo está em reconhecer o tipo de reconstrução do trato gastrointestinal, antecipar dificuldades técnicas e atuar com abordagem multidisciplinar envolvendo cirurgião bariátrico, cirurgião hepatobiliar e endoscopista avançado.

“A cirurgia moderna exige não apenas técnica, mas estratégia.” — Adaptado de Halsted

Colecistostomia: Indicações e Resultados na Prática Cirúrgica

Introdução

A colecistostomia é um procedimento fundamental no arsenal terapêutico para o manejo da colecistite aguda em pacientes de alto risco cirúrgico. Enquanto a colecistectomia laparoscópica permanece como tratamento definitivo, a colecistostomia surge como uma alternativa segura, minimamente invasiva e eficaz, especialmente em pacientes com comorbidades significativas ou contraindicações à anestesia geral.

No Brasil, onde o acesso à saúde ainda enfrenta desafios estruturais, a colecistostomia percutânea tem ganhado espaço como opção terapêutica em hospitais públicos e privados. Estudos locais destacam sua aplicação em pacientes idosos, portadores de doenças cardiovasculares avançadas ou em uso de anticoagulantes, perfis frequentes em nossa população.

Este artigo abordará as indicações, técnicas, complicações e resultados da colecistostomia, com foco na prática do cirurgião do aparelho digestivo.


Indicações da Colecistostomia

A colecistostomia é indicada principalmente em:

  1. Colecistite aguda refratária ao tratamento clínico em pacientes com alto risco cirúrgico (ASA ≥ III).
  2. Pacientes com distúrbios de coagulação (em uso de anticoagulantes ou com cirrose hepática).
  3. Colecistite acalculosa em pacientes críticos (ex.: internados em UTI).
  4. Gestantes no terceiro trimestre com colecistite aguda.
  5. Obstrução biliar em pacientes inaptos para CPRE.

Segundo as Diretrizes de Tóquio (TG13), a colecistostomia é recomendada para colecistite moderada (grau II) ou grave (grau III) não responsiva a antibioticoterapia. No Brasil, dados do Colégio Brasileiro de Cirurgiões apontam que até cerca de 5% dos casos de colecistite aguda podem ser tratados inicialmente com colecistostomia, especialmente em hospitais de referência.

Técnicas de Colecistostomia

  1. Percutânea (Guiada por US/TC):
  • Via transhepática (preferencial para reduzir vazamento biliar).
  • Via transperitoneal (menos utilizada devido a maior risco de complicações).
  • Técnica de Seldinger ou trocarte direto.
  1. Laparoscópica:
  • Opção quando a colecistectomia é inicialmente planejada, mas abortada devido a inflamação intensa.
  1. Cirúrgica Aberta:
  • Reservada para falha das técnicas minimamente invasivas.

Aplicação na Cirurgia Digestiva

A colecistostomia tem papel crucial no manejo escalonado da colecistite aguda:

  • Fase aguda: Alívio da sepse biliar.
  • Fase definitiva: Decisão entre remoção do cateter ou colecistectomia tardia.

Estudos brasileiros demonstram que 30-40% dos pacientes submetidos à colecistostomia evoluem para colecistectomia eletiva, enquanto os demais mantêm o cateter como tratamento definitivo, principalmente idosos e pacientes com comorbidades graves.


Pontos-Chave para o Cirurgião Digestivo

  1. Seleção adequada do paciente é fundamental para evitar complicações.
  2. Via transhepática reduz vazamento biliar e deslocamento do cateter.
  3. Antibioticoterapia pré e pós-procedimento é essencial para evitar sepse.
  4. Remoção do cateter após 4-6 semanas (avaliar maturação do trajeto fistuloso).
  5. Monitorar complicações:
  • Deslocamento do cateter (27%).
  • Vazamento biliar (3-6%).
  • Abscesso peri-hepático (9%).

Conclusões Aplicadas à Prática

A colecistostomia é uma ferramenta valiosa no tratamento da colecistite aguda em pacientes de alto risco. No cenário brasileiro, onde a população envelhecida e as comorbidades cardiovasculares são prevalentes, seu uso deve ser considerado de forma individualizada.

Embora a colecistectomia laparoscópica permaneça como padrão-ouro, a colecistostomia oferece uma alternativa segura e eficaz, reduzindo mortalidade e tempo de internação. Futuros estudos prospectivos, como o CHOCOLATE trial, trouxeram mais evidências sobre seu papel definitivo.

“A cirurgia é a arte de salvar vidas, mas também de saber quando não operar.”William Stewart Halsted

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Colecistostomia #CirurgiaDigestiva #ColecistiteAguda #MedicinaCirúrgica #ResidênciaMédica

Manejo das Afecções Biliares nos Pacientes Bariátricos

A cirurgia bariátrica é uma das principais intervenções no manejo da obesidade mórbida, proporcionando perda ponderal significativa e melhora nas comorbidades associadas, como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemia. Contudo, essa intervenção acarreta alterações fisiológicas importantes no trato gastrointestinal, que podem favorecer o surgimento de afecções biliares, como a colelitíase. Este artigo tem como objetivo discutir as afecções biliares em pacientes bariátricos, abrangendo desde a relação entre a obesidade e a doença biliar até o manejo das complicações biliares antes e após a cirurgia bariátrica, além de abordar a propedêutica diagnóstica e terapêutica no acesso às vias biliares em pacientes submetidos ao bypass gástrico.

Introdução

A obesidade é uma condição de saúde pública crescente no Brasil. De acordo com o IBGE, mais de 20% da população brasileira é considerada obesa, o que coloca esses indivíduos em maior risco de desenvolver doenças biliares, entre outras comorbidades. A colelitíase (formação de cálculos biliares) é particularmente prevalente nesta população, sendo exacerbada pela rápida perda de peso que segue a cirurgia bariátrica. Dada a relevância do tema, é fundamental que cirurgiões e residentes compreendam as implicações das afecções biliares nos pacientes bariátricos e as abordagens terapêuticas adequadas.

Doença Biliar e Obesidade

A colelitíase afeta de 2% a 15% da população geral, mas em pacientes obesos esse número é substancialmente maior. A obesidade é um fator de risco importante para a formação de cálculos biliares devido à supersaturação da bile com colesterol, hipomotilidade da vesícula biliar e fatores dietéticos. Estudos indicam que pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 40 têm um risco 8 vezes maior de desenvolver colelitíase em comparação com indivíduos de peso normal.

Nos pacientes bariátricos, a rápida perda de peso após a cirurgia é um dos maiores contribuintes para o surgimento de cálculos biliares. A prevalência de colelitíase em pacientes pós-cirurgia bariátrica varia entre 6,7% a 52,8%, sendo os cálculos de colesterol os mais comuns. Além disso, a hipomotilidade da vesícula biliar após o bypass gástrico favorece o acúmulo de bile e a formação de “sludge” biliar, o que pode evoluir para cálculos e suas complicações.

Manejo da Colelitíase e Suas Complicações Antes e Após a Cirurgia Bariátrica

O manejo da vesícula biliar no contexto da cirurgia bariátrica é um tema controverso. Alguns cirurgiões optam por realizar colecistectomia profilática durante a cirurgia bariátrica em pacientes com cálculos assintomáticos documentados. Essa abordagem visa prevenir complicações futuras, como a colecistite aguda ou pancreatite biliar, que podem ser mais difíceis de tratar após o bypass gástrico, devido às alterações anatômicas.

Entretanto, muitos cirurgiões adotam uma abordagem seletiva, realizando a colecistectomia apenas em pacientes com sintomas ou doenças biliares comprovadas por exames de imagem. Essa prática é sustentada pelo fato de que não há consenso claro sobre a necessidade de remover a vesícula biliar em todos os pacientes durante a cirurgia bariátrica. Estima-se que cerca de 4% dos pacientes necessitarão de colecistectomia após o bypass gástrico, um número que pode ser considerado aceitável para evitar a remoção profilática da vesícula em todos os casos.

As complicações da colelitíase, como a colecistite, pancreatite biliar e a coledocolitíase, podem ocorrer tanto no pré quanto no pós-operatório bariátrico. Nessas situações, o manejo segue as diretrizes usuais, com colecistectomia laparoscópica sendo a primeira linha de tratamento. No entanto, em pacientes submetidos ao bypass gástrico, a abordagem endoscópica para remover cálculos biliares pode ser mais desafiadora.

Propedêutica Radiológica e Endoscópica nos Pacientes Bariátricos

O diagnóstico das afecções biliares em pacientes bariátricos pode ser dificultado pela anatomia alterada após a cirurgia. A ultrassonografia abdominal, o exame de escolha para diagnosticar colelitíase na população geral, pode ter sensibilidade reduzida em pacientes obesos devido à presença de gordura abdominal. Além disso, após o bypass gástrico, o acesso ao trato gastrointestinal superior é limitado, o que dificulta exames como a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE).

A ressonância magnética com colangiopancreatografia (RMCP) e a colangiografia transhepática percutânea são métodos alternativos valiosos no diagnóstico de coledocolitíase e outras afecções das vias biliares em pacientes bariátricos. Em casos mais complexos, o uso de ultrassom intraoperatório durante a colecistectomia pode auxiliar no diagnóstico e manejo.

Prevenção da Colelitíase Após Cirurgia Bariátrica

A formação de cálculos biliares é especialmente comum durante a fase de perda rápida de peso que se segue à cirurgia bariátrica. Para mitigar esse risco, muitos especialistas recomendam o uso de ursodiol (ácido ursodesoxicólico), que atua na dissolução de colesterol e reduz a formação de cálculos biliares. Estudos indicam que a administração de 600 mg de ursodiol por dia durante os primeiros 6 meses após a cirurgia reduz significativamente a incidência de colelitíase, especialmente na fase de perda ponderal acelerada.

Acesso Endoscópico das Vias Biliares Após Bypass Gástrico

A alteração anatômica após o bypass gástrico de Roux-en-Y torna o acesso endoscópico convencional ao trato biliar, como a CPRE, extremamente difícil. Nesse cenário, uma abordagem bem-sucedida envolve a CPRE transgástrica percutânea assistida por laparoscopia, que permite acessar a árvore biliar via o estômago remanescente. Este procedimento, realizado em conjunto com especialistas em endoscopia, mostrou-se altamente eficaz, com taxas de sucesso superiores a 95% na canulação do ducto biliar comum.

Coledocolitíase
CPRE

Conclusão

As afecções biliares são um desafio comum e relevante em pacientes bariátricos, principalmente devido às alterações fisiológicas e anatômicas decorrentes da cirurgia e da rápida perda de peso. O manejo adequado envolve uma abordagem multidisciplinar, utilizando técnicas radiológicas avançadas e estratégias preventivas como o uso de ursodiol. O cirurgião digestivo deve estar apto a manejar as complicações biliares tanto no pré quanto no pós-operatório, considerando as particularidades anatômicas e fisiológicas desses pacientes.

“O entendimento das alterações morfofuncionais pós-bariátrica e sua relação com o sistema biliar é crucial para a condução segura e eficaz do paciente obeso no pós-operatório” Prof. Dr. Ozimo Gama

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Anatomia Cirúrgica das Vias Biliares Aplicada para Colecistectomia Segura

A colecistectomia é um dos procedimentos cirúrgicos mais comuns no tratamento de doenças da vesícula biliar, como colelitíase e colecistite aguda. A correta compreensão da anatomia cirúrgica das vias biliares é fundamental para garantir uma colecistectomia laparoscópica segura, evitando complicações graves, como lesões ao ducto biliar. Este texto é voltado para estudantes de medicina, residentes de cirurgia geral e pós-graduandos em cirurgia do aparelho digestivo, abordando aspectos essenciais da anatomia cirúrgica das vias biliares com foco na segurança cirúrgica.

Introdução

A colecistectomia, seja ela aberta ou laparoscópica, envolve a retirada da vesícula biliar, um órgão pequeno, mas de grande importância no armazenamento e liberação de bile. As complicações durante a colecistectomia são frequentemente relacionadas ao desconhecimento ou à falta de reconhecimento das variações anatômicas das vias biliares. Estudos indicam que entre 0,3% a 1,5% dos pacientes podem apresentar lesões das vias biliares durante esse procedimento, o que pode resultar em morbidade significativa. Este artigo discutirá a anatomia detalhada das vias biliares e seus aspectos aplicados à colecistectomia segura.

Anatomia Descritiva

As vias biliares consistem no sistema de dutos que transportam a bile do fígado para o duodeno. Esse sistema é composto pelos ductos biliares intra-hepáticos, que se unem para formar o ducto hepático comum, o ducto cístico, que conecta a vesícula biliar ao ducto hepático, e o ducto colédoco, que desemboca na ampola de Vater no duodeno. A vesícula biliar é localizada na fossa cística da superfície visceral do fígado, e sua drenagem ocorre através do ducto cístico.

Dimensões Normais

O ducto hepático comum mede, em média, 4 a 5 cm de comprimento e tem um diâmetro aproximado de 4 a 6 mm. O ducto cístico, por sua vez, mede cerca de 2 a 4 cm de comprimento, com um diâmetro de 3 mm. Já o ducto colédoco tem, em média, 6 a 8 cm de comprimento e um diâmetro que varia de 6 a 8 mm.

Anatomia Topográfica e Relações Anatômicas

A vesícula biliar está situada entre o lobo direito e o lobo quadrado do fígado, na fossa vesicular. Suas relações anatômicas incluem o duodeno, a cabeça do pâncreas e o fígado. Na cirurgia, o triângulo de Calot é uma das principais referências anatômicas. Esse triângulo é formado pelo ducto cístico, ducto hepático comum e a borda inferior do fígado, contendo a artéria cística, que é uma importante estrutura a ser identificada e preservada durante a colecistectomia.

Variações Anatômicas Mais Relevantes

As variações anatômicas das vias biliares são comuns e podem estar presentes em até 25% da população. Entre as mais frequentes estão:

  • Ducto cístico curto ou com inserção alta no ducto hepático.
  • Ducto cístico espiralado, o que dificulta sua dissecção.
  • Trifurcação dos ductos biliares, onde o ducto hepático direito se divide antes de formar o ducto hepático comum.
  • Artéria cística de origem anômala, como proveniente da artéria hepática direita ou, em raros casos, da artéria hepática comum.

Essas variações anatômicas são importantes, pois lesões inadvertidas durante a dissecção podem causar complicações como fístulas biliares, estenoses e lesões vasculares.

Vascularização da Via Biliar

A vascularização das vias biliares é fornecida principalmente pela artéria cística, que se origina da artéria hepática direita. Adicionalmente, a artéria hepática direita e a artéria gastroduodenal fornecem ramos que contribuem para a irrigação do ducto hepático comum e colédoco. No entanto, a parte supraduodenal do colédoco é mais suscetível a isquemia, especialmente em casos de manipulação excessiva durante a cirurgia. A compreensão da rede arterial é vital para evitar lesões vasculares e garantir o sucesso da anastomose biliar, quando necessário.

Pontos de Reparo Anatômico para uma Colecistectomia Laparoscópica Segura

Para evitar lesões inadvertidas, os cirurgiões devem seguir alguns princípios básicos de segurança:

  1. Identificação do Triângulo de Calot: A correta visualização das estruturas no triângulo de Calot é essencial. A artéria cística deve ser cuidadosamente dissecada e clipada antes da secção.
  2. Dissecção crítica de segurança: O conceito de “visão crítica de segurança” implica a dissecção completa da vesícula do leito hepático, de forma que as únicas duas estruturas conectadas à vesícula sejam o ducto cístico e a artéria cística. Isso reduz significativamente o risco de lesões às vias biliares principais.
  3. Variações Anatômicas: O cirurgião deve estar ciente das possíveis variações anatômicas e, em caso de dúvida, deve recorrer a exames de imagem intraoperatórios, como a colangiografia.
Prof. Dr. Ozimo Gama

Pontos-Chave e Conclusões Aplicadas à Prática do Cirurgião Digestivo

Para garantir uma colecistectomia segura, o conhecimento profundo da anatomia cirúrgica das vias biliares é indispensável. A incidência de lesões biliares pode ser minimizada seguindo protocolos rigorosos, como a dissecção anatômica cuidadosa, a utilização de exames complementares intraoperatórios e o respeito pelas variações anatômicas individuais. No Brasil, a colecistectomia laparoscópica é o padrão ouro, sendo realizada em aproximadamente 95% dos casos, com uma taxa de complicação de menos de 1%. No entanto, lesões das vias biliares ainda são uma causa significativa de morbidade pós-operatória, destacando a importância de uma educação anatômica continuada.

Em última análise, a chave para uma colecistectomia laparoscópica segura está na visualização precisa das estruturas anatômicas e na aplicação de técnicas cirúrgicas comprovadas. Seguindo esses princípios, é possível reduzir significativamente o risco de complicações graves e melhorar os resultados para os pacientes. Como já afirmado por Lahey: “O reconhecimento e a compreensão das variações anatômicas nas vias biliares são fundamentais para evitar complicações nas cirurgias biliares.” Gostou? Nos deixe um comentário ✍️, compartilhe em suas redes sociais e/ou mande sua dúvida pelo 💬 Chat On-line em nossa DM do Instagram.

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Tratamento da Colecistite Gangrenosa

Abordagem Cirúrgica e Opções Técnicos

A colecistite gangrenosa (CG) é uma complicação grave e rara da colecistite aguda, resultando em necrose da parede da vesícula biliar. Pacientes com múltiplas comorbidades, como diabetes e doenças cardiovasculares, são particularmente suscetíveis, com uma prevalência maior em idosos e homens. Este artigo explora o tratamento da colecistite gangrenosa, com ênfase na abordagem cirúrgica e nos desafios intraoperatórios.

Introdução

A colecistite gangrenosa ocorre devido à hipoperfusão da vesícula biliar, seja por obstrução aguda do ducto cístico ou por doenças arteriais, como a ateromatose da artéria cística. Essa obstrução leva a isquemia e posterior necrose da parede vesicular, culminando em complicações sérias, como perfuração e sepse. A rápida evolução para choque séptico exige diagnóstico e tratamento precoce. No Brasil, os casos de colecistite aguda são frequentes, mas as formas gangrenosas representam uma minoria, embora com alta mortalidade, especialmente em pacientes idosos e com doenças associadas. Em muitos centros, a mortalidade associada à CG pode chegar a 15%, sendo crucial que os cirurgiões digestivos estejam preparados para manejar essa condição.

Prof. Dr. Ozimo Gama
Colecistite

Propedêutica Cirúrgica

O diagnóstico da colecistite gangrenosa é desafiador, uma vez que os sintomas muitas vezes se sobrepõem aos da colecistite aguda. Os pacientes apresentam dor no quadrante superior direito, febre e leucocitose significativa. A ultrassonografia frequentemente revela espessamento da parede vesicular e fluido pericolecístico, mas não consegue distinguir de forma confiável a forma gangrenosa da colecistite comum. Sinais clínicos de piora rápida e a evolução para síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS) indicam a necessidade de intervenção urgente. A resposta ao tratamento inicial, incluindo reposição volêmica e antibioticoterapia de amplo espectro, deve ser monitorada de perto. Quando a condição do paciente não melhora rapidamente, a intervenção cirúrgica é indicada.

Aplicação na Cirurgia Digestiva

A cirurgia de escolha para colecistite gangrenosa é a colecistectomia, sendo a laparoscopia o método preferido em centros com experiência em cirurgia minimamente invasiva. No entanto, a taxa de conversão para cirurgia aberta pode chegar a 75% em casos de CG, devido à presença de aderências densas, necrose ou dificuldade em visualizar as estruturas anatômicas cruciais, como o ducto biliar comum e a artéria cística.

Técnicas Cirúrgicas

  • Abordagem convencional: A colecistectomia começa com a dissecção cuidadosa do triângulo de Calot, usando tração e contra-tração para melhor visualização. Deve-se evitar a dissecção agressiva da vesícula, especialmente quando há risco de perfuração, para minimizar a contaminação da cavidade abdominal com bile purulenta.
  • Abordagem top-down: Em casos de inflamação severa, uma abordagem “fundus-first” pode ser adotada, dissecando a vesícula do fundo até a placa cística, o que pode reduzir o risco de lesões aos ductos biliares principais.
  • Colecistectomia subtotal: Quando a inflamação ou necrose impede a dissecção segura, uma colecistectomia subtotal pode ser realizada. Embora essa abordagem evite lesões vasculares e biliares, ela pode estar associada a complicações tardias, como retenção de cálculos no coto cístico e necessidade de reintervenção.

Pontos-chave

  • Risco aumentado: Pacientes com colecistite gangrenosa têm risco significativamente maior de morbidade e mortalidade, com taxas de conversão para cirurgia aberta superiores a 50%.
  • Preferência pela colecistectomia: Embora a drenagem percutânea da vesícula possa ser uma opção temporária para pacientes com alto risco cirúrgico, a colecistectomia continua sendo o tratamento definitivo para CG, pois remove a fonte de infecção.
  • Técnica laparoscópica: A laparoscopia é preferida quando viável, mas a conversão para laparotomia deve ser considerada precocemente quando houver dificuldades técnicas ou risco de lesão aos ductos biliares.
  • Importância da colangiografia: Em casos de anatomia duvidosa ou inflamação grave, a colangiografia intraoperatória pode ajudar a definir as estruturas anatômicas e prevenir lesões aos ductos biliares.

Conclusão Aplicada à Prática do Cirurgião Digestivo

A colecistite gangrenosa representa um desafio considerável para cirurgiões digestivos, especialmente em pacientes idosos e com múltiplas comorbidades. A identificação precoce e a intervenção cirúrgica apropriada são cruciais para melhorar os resultados clínicos. Embora a colecistectomia laparoscópica seja ideal, a alta taxa de conversão para a técnica aberta demonstra a complexidade do procedimento. O manejo adequado da CG exige uma equipe cirúrgica experiente e a capacidade de tomar decisões intraoperatórias rápidas para minimizar as complicações.

“Não existe cálculo biliar inocente.”
Charles Mayo (1865-1939)

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Tratamento da Coledocolitíase no Paciente com Bypass Gástrico

Abordagens Cirúrgicas e Opções Técnicas

A coledocolitíase, caracterizada pela presença de cálculos no ducto biliar comum (CBD), é uma complicação potencialmente grave que pode causar icterícia obstrutiva, pancreatite e colangite. Em pacientes que realizaram o bypass gástrico em Y-de-Roux, o tratamento dessa condição se torna mais complexo devido às alterações anatômicas decorrentes da cirurgia bariátrica, tornando o acesso ao ducto biliar pelo método endoscópico tradicional (CPRE) um desafio significativo.

Introdução

O bypass gástrico em Y-de-Roux é um dos procedimentos mais realizados no tratamento da obesidade mórbida, resultando em perda de peso significativa e, consequentemente, em uma maior prevalência de cálculos biliares. No entanto, as alterações anatômicas criadas por esse procedimento, como a separação do estômago proximal do restante do trato gastrointestinal, impedem o acesso ao ducto biliar pelo estômago convencional. Nesse contexto, o manejo da coledocolitíase, que afeta até 18% dos pacientes submetidos à colecistectomia, exige uma abordagem multidisciplinar e técnicas cirúrgicas e endoscópicas inovadoras.

Propedêutica Cirúrgica

O diagnóstico e o manejo da coledocolitíase em pacientes com bypass gástrico podem ser desafiadores, pois o acesso ao ducto biliar comum por vias endoscópicas tradicionais é inviável. Nestes casos, a apresentação clínica pode variar de sintomas leves de icterícia a quadros graves de colangite ascendente.

Para a avaliação inicial, a ultrassonografia abdominal continua sendo o exame de escolha para identificar dilatação do ducto biliar e a presença de cálculos. No entanto, devido à complexidade anatômica, exames como a colangiopancreatografia por ressonância magnética (MRCP) são frequentemente necessários para fornecer uma visão mais detalhada da anatomia do trato biliar.

Uma vez confirmado o diagnóstico de coledocolitíase, o tratamento deve ser instituído rapidamente, a fim de evitar complicações como abscessos hepáticos ou pancreatite biliar. As opções terapêuticas variam dependendo da gravidade da apresentação clínica e da disponibilidade de recursos no centro de tratamento. Para pacientes com colangite ascendente, por exemplo, a descompressão urgente do ducto biliar é necessária. Nestes casos, o uso de técnicas minimamente invasivas, como a colangiografia trans-hepática percutânea (PTC), pode ser a melhor alternativa quando a CPRE não é viável.

Em pacientes estáveis, várias abordagens cirúrgicas são possíveis. Uma técnica amplamente utilizada é a colecistectomia laparoscópica assistida por CPRE transgástrica. Nesse procedimento, um acesso cirúrgico é feito no estômago excluído do paciente, permitindo que o endoscópio seja inserido diretamente na papila duodenal, facilitando a remoção dos cálculos e a descompressão do ducto biliar.

Coledocolitíase
CPRE

Aplicação na Cirurgia Digestiva

A cirurgia digestiva avançada em pacientes com bypass gástrico exige um planejamento cuidadoso e uma abordagem técnica que considere as alterações anatômicas decorrentes da cirurgia bariátrica. As seguintes estratégias têm sido eficazes no manejo da coledocolitíase nesses pacientes:

  1. ERCP assistida por laparoscopia: Esse procedimento permite o acesso ao trato biliar usando técnicas combinadas de laparoscopia e endoscopia. A transposição do endoscópio pelo estômago excluído oferece uma alternativa eficiente para a remoção dos cálculos, com baixa taxa de complicações.
  2. Colangiografia trans-hepática percutânea (PTC): Em pacientes instáveis ou com contraindicações para procedimentos invasivos, a PTC é uma alternativa valiosa para a descompressão biliar emergente. Essa técnica minimamente invasiva pode ser associada à dilatação do esfíncter de Oddi para expulsar os cálculos.
  3. Exploração cirúrgica do ducto biliar comum: Em casos complexos, onde as técnicas minimamente invasivas falham, a exploração laparoscópica ou aberta do ducto biliar pode ser necessária. A abordagem transcística ou a coledocotomia são opções viáveis, dependendo da localização e do tamanho dos cálculos. A utilização de cateteres tipo Fogarty ou cestas de Dormia pode ser útil para a remoção dos cálculos.
  4. Técnicas reconstrutivas: Para pacientes com múltiplos cálculos biliares ou complicações, a realização de anastomoses biliodigestivas, como a coledocoduodenostomia ou a hepaticojejunostomia em Y-de-Roux, pode ser considerada. Essas abordagens proporcionam um alívio duradouro, evitando futuros episódios de obstrução.

Pontos-chave

  • Pacientes com bypass gástrico em Y-de-Roux apresentam desafios únicos no tratamento da coledocolitíase devido à anatomia alterada do trato digestivo.
  • A ERCP tradicional é inviável nesses pacientes, sendo substituída por abordagens combinadas, como a ERCP transgástrica assistida por laparoscopia ou a PTC.
  • A ultrassonografia e a MRCP são ferramentas essenciais para o diagnóstico, enquanto a intervenção cirúrgica deve ser cuidadosamente planejada, considerando as condições clínicas e anatômicas do paciente.
  • Em centros especializados, as taxas de sucesso com essas abordagens minimamente invasivas são altas, com complicações graves ocorrendo em menos de 10% dos casos.

Conclusão Aplicada à Prática do Cirurgião Digestivo

O tratamento da coledocolitíase em pacientes submetidos ao bypass gástrico representa um desafio técnico significativo, exigindo conhecimento especializado em cirurgia digestiva avançada e endoscopia. A abordagem ideal deve ser individualizada, considerando a condição clínica do paciente e as habilidades da equipe cirúrgica. As técnicas minimamente invasivas, como a ERCP assistida por laparoscopia, são as preferidas quando viáveis, mas o cirurgião deve estar preparado para realizar intervenções mais complexas, como a coledocotomia ou anastomoses biliodigestivas, quando necessário.

Nas palavras do cirurgião Steven Strasberg, “O sucesso na cirurgia hepato-biliar depende não apenas da habilidade técnica, mas também da capacidade de adaptar-se às circunstâncias anatômicas e clínicas únicas de cada paciente.”

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Tratamento da Colelitíase no Paciente Cirrótico

Desafios e Abordagens Cirúrgicas

A colelitíase, ou presença de cálculos na vesícula biliar, é uma condição comum em cirróticos, mas seu manejo cirúrgico apresenta desafios únicos devido às complicações inerentes à cirrose e à hipertensão portal. A cirurgia, neste contexto, exige uma abordagem criteriosa para minimizar riscos e maximizar a segurança do paciente. Este artigo destina-se a estudantes de medicina, residentes de cirurgia geral e pós-graduandos em cirurgia do aparelho digestivo, com o objetivo de fornecer uma visão abrangente sobre o tratamento da colelitíase no paciente cirrótico, destacando as melhores práticas, evidências científicas e diretrizes atuais.

Prof. Dr. Ozimo Gama
Cirrose

Introdução

A cirrose é uma condição crônica que afeta severamente a função hepática e está associada a um aumento expressivo da morbidade e mortalidade perioperatória. No Brasil, a cirrose hepática é responsável por 10 mil óbitos anuais, segundo o Ministério da Saúde, o que reforça a importância do seu manejo adequado, sobretudo em contextos cirúrgicos. A prevalência de colelitíase em pacientes cirróticos pode chegar a 30%, sendo que esses pacientes estão sujeitos a complicações graves, como a hipertensão portal e a coagulopatia, que complicam a realização de uma colecistectomia.

Portanto, ao tratar a colelitíase em pacientes com cirrose, é fundamental um planejamento cirúrgico cuidadoso e uma consideração detalhada dos riscos associados. O objetivo deste artigo é discutir as opções de tratamento para colelitíase em cirróticos, com ênfase nas abordagens cirúrgicas e estratégias para otimizar a segurança e os resultados.

Colecistectomia x Cirrose Hepática

Pacientes com cirrose hepática apresentam risco aumentado de complicações cirúrgicas, em parte devido à hipertensão portal, varizes perivesiculares, coagulopatia e distorção anatômica do fígado. A avaliação pré-operatória inclui a classificação do paciente pelo escore Child-Pugh ou MELD (Model for End-stage Liver Disease), que ajudam a prever a mortalidade pós-operatória. Um escore MELD acima de 14, por exemplo, indica um risco significativo de mortalidade após procedimentos cirúrgicos.

A colecistectomia é a principal intervenção cirúrgica para o tratamento da colelitíase, e a via laparoscópica é preferida, sempre que possível, devido aos seus benefícios em comparação com a abordagem aberta. Estudos mostram que a colecistectomia laparoscópica (LC) em pacientes cirróticos está associada a menor perda de sangue, menos infecções de ferida e internação hospitalar mais curta. No entanto, o risco de complicações, como hemorragia, é cerca de 20% maior em comparação com pacientes sem cirrose.

Em pacientes cirróticos com colecistite aguda, a situação torna-se ainda mais delicada. Nestes casos, o manejo não operatório inicial é preferível, incluindo o uso de antibióticos e drenagem percutânea da vesícula biliar (colecistostomia), especialmente para pacientes com cirrose avançada (Child-Pugh C ou MELD elevado). Caso a condição clínica do paciente melhore com o manejo não cirúrgico, uma colecistectomia eletiva pode ser planejada após seis semanas, garantindo uma melhor estabilidade hemodinâmica e recuperação hepática.

Aplicação na Cirurgia Digestiva

No contexto da cirurgia digestiva, a principal abordagem para pacientes cirróticos com colelitíase é a colecistectomia laparoscópica. A técnica laparoscópica oferece vantagens significativas em comparação com a abordagem aberta, como menor trauma cirúrgico, recuperação mais rápida e menor taxa de infecção. Contudo, devido à complexidade anatômica causada pela cirrose e presença de varizes, a dissecção deve ser realizada com extremo cuidado, evitando a manipulação excessiva da área do triângulo de Calot, onde as varizes são comuns.

Em casos de inflamação severa ou varizes pericolecísticas, a abordagem de colecistectomia subtotal pode ser preferida. Esta técnica permite remover a maior parte da vesícula, minimizando o risco de sangramento catastrófico que pode ocorrer durante a dissecção em áreas com hipertensão portal. O uso de dispositivos de energia para selar vasos sanguíneos e técnicas de hemostasia avançadas, como o uso de cola de fibrina e selantes de celulose, são fundamentais para evitar sangramentos.

Outro ponto relevante é a necessidade de otimização médica pré-operatória. Cirróticos devem ter a coagulopatia corrigida antes da cirurgia, com a administração de vitamina K e, em alguns casos, plasma fresco congelado. A função renal e cardíaca também deve ser monitorada rigorosamente, e a presença de ascite deve ser manejada com diuréticos. Em centros de referência, o uso de octreotida intravenosa para reduzir a pressão portal pode ser considerado.

Pontos-chave

  • Risco aumentado: A cirrose aumenta significativamente a mortalidade cirúrgica, com uma taxa de até 60% em pacientes com Child-Pugh C.
  • Abordagem laparoscópica: A colecistectomia laparoscópica é a abordagem preferida, com menor morbidade em comparação com a cirurgia aberta.
  • Manejo não cirúrgico inicial: Em pacientes com colecistite aguda e alto risco cirúrgico, drenagem percutânea deve ser considerada antes de uma intervenção cirúrgica definitiva.
  • Técnicas hemostáticas avançadas: O uso de dispositivos de energia e hemostáticos auxiliares é crucial para minimizar o risco de sangramento intraoperatório.
  • Avaliação pré-operatória cuidadosa: A classificação Child-Pugh e o escore MELD são essenciais para prever a mortalidade e determinar a melhor abordagem terapêutica.

Conclusões Aplicadas à Prática do Cirurgião Digestivo

O tratamento da colelitíase no paciente cirrótico exige uma abordagem individualizada e multidisciplinar. A escolha da intervenção, seja ela cirúrgica ou não, deve considerar a gravidade da doença hepática, a presença de complicações associadas e as habilidades técnicas do cirurgião. No Brasil, onde a cirrose é uma causa frequente de morbidade, é crucial que cirurgiões e equipes médicas sejam bem treinados para manejar essas situações com a maior segurança possível.

A colecistectomia laparoscópica permanece o padrão-ouro no manejo da colelitíase, mas cirurgiões devem estar preparados para adaptar suas técnicas e, quando necessário, optar por abordagens alternativas, como a colecistectomia subtotal. Além disso, a otimização pré-operatória e a correção das disfunções fisiológicas são fundamentais para reduzir complicações e melhorar os desfechos cirúrgicos.

Como afirmou Steven Strasberg, “A dissecção cuidadosa do triângulo de Calot e o uso de abordagens alternativas em cirurgias de risco são elementos essenciais para o sucesso cirúrgico em pacientes com complicações hepáticas.”

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O Papel da CPRE no Tratamento da Pancreatite Aguda Biliar

A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) tem sido estudada como uma potencial intervenção para reduzir a gravidade da pancreatite aguda biliar (AP). Contudo, diversas pesquisas sugerem que seu benefício é limitado a cenários clínicos específicos. Este artigo tem como objetivo explorar o papel da CPRE na pancreatite biliar, com base nas evidências mais recentes.

Prof. Dr. Ozimo Gama
Manejo da Coledocolitíase

CPRE na Pancreatite Biliar Leve

Para pacientes com pancreatite biliar leve, estudos demonstram que a CPRE não traz benefícios significativos na redução da gravidade ou complicações da doença. Um estudo multicêntrico randomizado não encontrou vantagens na realização de CPRE urgente com esfinterotomia em comparação ao manejo conservador nesses pacientes.88,101 Portanto, a intervenção precoce com CPRE não é recomendada para casos de pancreatite biliar leve, com a prática de manejo conservador prevalecendo como a mais indicada.

CPRE na Pancreatite Biliar Grave

A CPRE também foi avaliada em pacientes com pancreatite biliar grave, mas os resultados não sustentam seu uso de rotina. Em um ensaio clínico multicêntrico, pacientes com pancreatite biliar grave, sem sinais de colangite, foram submetidos a CPRE urgente com esfinterotomia versus manejo conservador. Os resultados mostraram que a CPRE urgente não reduziu significativamente as complicações principais ou a mortalidade (38% no grupo CPRE vs 44% no grupo conservador).102 Esses achados indicam que, em pacientes com pancreatite biliar grave, sem colangite, o manejo conservador deve ser preferido.

Em outro estudo, os pesquisadores avaliaram a CPRE em pacientes com pancreatite grave e confirmação de cálculos ou lama biliar no ducto biliar comum por ultrassonografia endoscópica (EUS). Os resultados, novamente, mostraram que a CPRE com esfinterotomia não reduziu a mortalidade ou as principais complicações em comparação ao tratamento conservador em seis meses.103

Indicações Atuais da CPRE na Pancreatite Biliar

Com base nas evidências disponíveis, as diretrizes atuais recomendam que a CPRE não seja realizada de forma rotineira em casos de pancreatite biliar, independentemente da gravidade, na ausência de colangite.23

Contudo, a CPRE tem um papel crucial em dois cenários específicos:

  1. Colangite associada à pancreatite: A CPRE deve ser realizada urgentemente quando há suspeita ou confirmação de colangite concomitante.
  2. Coledocolitíase sintomática ou persistente: Nos casos de cálculos biliares no ducto biliar comum (coledocolitíase) que causam sintomas persistentes ou em pacientes sem resolução espontânea da obstrução, a CPRE é indicada eletivamente.

Conclusões

A CPRE tem um papel limitado no manejo da pancreatite biliar, sendo indicada apenas em casos de colangite ou coledocolitíase sintomática. Nos demais casos, o manejo conservador é preferível, conforme demonstrado por estudos recentes e as diretrizes atuais. Com esses achados, a CPRE deve ser utilizada de forma seletiva e com base em critérios clínicos rigorosos, evitando o uso desnecessário dessa intervenção em pacientes que podem ser manejados de forma conservadora.

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Como Eu Trato Colelitíase e Suas Complicações

Um Guia Prático para Estudantes de Medicina e Residentes de Cirurgia

A colelitíase, ou a formação de cálculos biliares na vesícula, é uma condição amplamente prevalente, especialmente no contexto do aumento da síndrome metabólica e do envelhecimento populacional. Cerca de 10% a 20% da população adulta pode desenvolver cálculos biliares, embora apenas 20% dessa população apresente sintomas ou complicações. Com mais de 1,2 milhões de colecistectomias realizadas anualmente nos Estados Unidos, a cirurgia continua sendo o tratamento padrão para colelitíase sintomática, com complicações potencialmente graves como a colecistite aguda, colangite e pancreatite biliar. No Brasil, estudos epidemiológicos indicam que a colelitíase afeta cerca de 15% da população adulta.

Introdução

A colelitíase se refere à formação de cálculos biliares no trato biliar, com maior prevalência na vesícula biliar. Esta condição pode ser assintomática ou associada a dor abdominal, chamada cólica biliar. A maioria dos pacientes permanece assintomática, mas, em alguns casos, podem surgir complicações graves, como colecistite aguda, colangite ou pancreatite. A escolha do tratamento depende da presença ou ausência de sintomas e complicações.

Diagnóstico e Classificação

O diagnóstico de colelitíase frequentemente é feito incidentalmente por ultrassonografia abdominal. Para pacientes com sintomas, a ultrassonografia tem uma acurácia de cerca de 95% na detecção de cálculos. Além disso, em casos mais complicados, exames como a colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM) e a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) podem ser usados para detectar cálculos no ducto biliar comum.

A classificação das complicações da colelitíase inclui:

  • Colecistite aguda: Inflamação da vesícula biliar, geralmente causada por obstrução do ducto cístico por cálculos.
  • Colangite: Infecção bacteriana da via biliar, associada à obstrução biliar.
  • Pancreatite biliar: Inflamação do pâncreas causada por cálculos impactados no ducto biliar.
  • Coledocolitíase: Presença de cálculos no ducto biliar comum.

Aplicação na prática da Cirurgia Digestiva

O manejo cirúrgico da colelitíase varia de acordo com a apresentação clínica do paciente. Para pacientes assintomáticos, a colecistectomia profilática não é indicada, exceto em casos de risco elevado, como na presença de vesícula em porcelana (associada ao câncer de vesícula biliar).

  1. Colelitíase sintomática: A abordagem cirúrgica padrão é a colecistectomia laparoscópica, preferencialmente realizada nas primeiras 72 horas após o início dos sintomas em casos de colecistite aguda. A colecistectomia tem uma taxa de mortalidade inferior a 1%, sendo extremamente eficaz na resolução dos sintomas.
  2. Coledocolitíase: Pacientes com coledocolitíase podem requerer uma abordagem multimodal, combinando a CPRE para remoção de cálculos no ducto biliar e colecistectomia subsequente. A laparoscopia também pode ser utilizada para explorar o ducto biliar comum, permitindo a retirada dos cálculos.
  3. Pancreatite biliar: A pancreatite causada por cálculos biliares requer estabilização inicial do paciente, com reposição volêmica e analgesia. A colecistectomia deve ser realizada na mesma internação para prevenir recorrências, exceto em casos de pancreatite grave com necrose pancreática, onde o cirurgião deve aguardar até a resolução do quadro inflamatório.
  4. Tratamento de emergência: Casos de colangite e pancreatite biliar requerem intervenção imediata, com drenagem biliar emergente via CPRE ou drenagem percutânea seguida de colecistectomia, dependendo do estado clínico do paciente.

Em casos mais raros, como a síndrome de Mirizzi ou o íleo biliar, intervenções complexas são necessárias. A síndrome de Mirizzi, caracterizada pela obstrução do ducto biliar comum por compressão extrínseca de um cálculo, pode requerer remoção cirúrgica e, às vezes, reconstrução da via biliar.

Pontos-Chave

  1. A ultrassonografia abdominal é o exame inicial mais adequado para o diagnóstico de colelitíase.
  2. A colecistectomia laparoscópica continua sendo o tratamento padrão para colelitíase sintomática e colecistite aguda.
  3. Pacientes com coledocolitíase e pancreatite biliar requerem uma abordagem multimodal, incluindo CPRE e colecistectomia.
  4. A colangite aguda é uma emergência médica e deve ser tratada com descompressão biliar urgente.
  5. No Brasil, estima-se que cerca de 15% dos adultos tenham colelitíase, com uma incidência crescente devido a fatores de risco como obesidade e diabetes.

Conclusão

O tratamento cirúrgico da colelitíase e suas complicações é bem estabelecido, com a colecistectomia laparoscópica sendo o padrão de tratamento para a maioria dos pacientes sintomáticos. Entretanto, é importante que os profissionais de saúde identifiquem as complicações precocemente e adaptem o tratamento à condição clínica do paciente. O uso da CPRE e da colecistectomia precoce reduzem significativamente as taxas de complicações graves, como pancreatite e colangite. Além disso, o manejo adequado da dor e o reconhecimento rápido das emergências, como a colangite, são essenciais para melhorar os desfechos clínicos.

Prof. Dr. Ozimo Gama

Como o Dr. Steven Strasberg observou:
“A decisão cirúrgica em pacientes com doença do trato biliar deve ser orientada não apenas pelos achados de imagem, mas pela fisiopatologia subjacente e pelo quadro clínico individualizado.”

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“Aleijados Biliares”| O flagelo silencioso da lesão do ducto biliar na colecistectomia laparoscópica

No âmbito da cirurgia digestiva, poucas complicações causam tanto temor aos cirurgiões quanto a lesão do ducto biliar (LDB) durante a colecistectomia laparoscópica. Apesar de ser o padrão-ouro para o tratamento da colelitíase sintomática, este procedimento carrega um perigo oculto que pode transformar uma operação de rotina em um evento que altera a vida tanto do paciente quanto do cirurgião.

A colecistectomia laparoscópica, introduzida no final dos anos 1980, revolucionou a cirurgia da vesícula biliar. No entanto, trouxe consigo um risco aumentado de LDB em comparação com a abordagem aberta. No Brasil, um estudo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões relatou uma taxa de LDB de 0,18% em colecistectomias laparoscópicas, ligeiramente inferior à média global de 0,3-0,7%.

As consequências da LDB são graves, frequentemente exigindo cirurgia reconstrutiva complexa e resultando em significativa morbidade, mortalidade e custos de saúde. Um estudo brasileiro estimou que os casos de LDB levam a uma média de 22 dias adicionais de internação hospitalar e um aumento de 30 vezes nos custos hospitalares.

Pontos-Chave:

  1. Fatores de Risco: Compreender os fatores relacionados ao paciente (ex: colecistite aguda, obesidade) e ao cirurgião (ex: inexperiência, interpretação errônea da anatomia) é crucial.
  2. Estratégias de Prevenção: a) Visão Crítica de Segurança: Esta técnica, defendida por Steven Strasberg, é fundamental na prevenção da LDB. b) Colangiografia Intraoperatória: Embora controversa, pode ajudar na identificação da anatomia biliar. c) “Cultura de Segurança”: Adotar uma mentalidade que priorize a segurança do paciente acima da conclusão do procedimento a todo custo.
  3. Reconhecimento e Manejo: O reconhecimento precoce da LDB é vital. O reparo imediato por cirurgiões hepatobiliares experientes proporciona os melhores resultados.
  4. Treinamento e Educação: Treinamento baseado em simulação e protocolos padronizados podem ajudar a reduzir as taxas de LDB, especialmente entre residentes de cirurgia.

Como cirurgiões digestivos, devemos permanecer vigilantes contra a ameaça da LDB. Aderindo às técnicas adequadas, mantendo um alto índice de suspeita e fomentando uma cultura de segurança, podemos minimizar esta complicação potencialmente devastadora. A jornada para zero LDB está em andamento, exigindo educação contínua, autorreflexão e um compromisso com a excelência na prática cirúrgica.

“O desafio da cirurgia é a mão do cirurgião curar um paciente pela precisão na estrutura e propósito.” – Joseph E. Murray

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Prof. Dr. Ozimo Gama

Manejo da Lesão da Via Biliar | Colecistectomia Segura

A lesão do trato biliar (LTB) permanece uma das complicações mais temidas na cirurgia digestiva, particularmente após a colecistectomia laparoscópica. Ao nos aprofundarmos neste tópico crítico, é essencial reconhecer que no Brasil, aproximadamente 60.000 colecistectomias são realizadas anualmente, com LTB ocorrendo em 0,3-0,5% dos casos. Essa porcentagem aparentemente pequena se traduz em centenas de pacientes enfrentando complicações potencialmente transformadoras de vida a cada ano.

O manejo da LTB é semelhante a navegar por um labirinto – complexo, desafiador e exigindo extrema precisão. A chave para o tratamento bem-sucedido está no reconhecimento precoce e intervenção rápida. Estudos demonstraram que atrasos no diagnóstico além de duas semanas podem comprometer significativamente os resultados.

Quando confrontado com uma suspeita de LTB, o primeiro passo é o encaminhamento imediato a um especialista hepatobiliar. No Brasil, onde o acesso a cuidados especializados pode ser geograficamente desafiador, as consultas de telemedicina tornaram-se cada vez mais valiosas, permitindo rápida contribuição especializada mesmo em áreas remotas.

A pedra angular do manejo da LTB é o diagnóstico preciso. A Colangiopancreatografia por Ressonância Magnética (CPRM) emergiu como o padrão-ouro, oferecendo visualização detalhada da anatomia biliar sem a invasividade da CPRE. Em um estudo realizado na Universidade de São Paulo, a CPRM demonstrou 95% de precisão na delineação da extensão e localização das lesões biliares.

Uma vez diagnosticado, a abordagem de tratamento depende de vários fatores, incluindo o tipo e extensão da lesão, o momento do diagnóstico e a condição geral do paciente. Para lesões menores, como vazamentos biliares do coto do ducto cístico, a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) com colocação de stent pode ser suficiente. No entanto, para transecções ou estenoses de ductos principais, a reconstrução cirúrgica é frequentemente necessária.

O tratamento cirúrgico de escolha para LTBs maiores é a hepaticojejunostomia em Y de Roux. Este procedimento, quando realizado por mãos experientes, pode alcançar taxas de sucesso de até 90%. É crucial enfatizar que tentativas de reparo por não especialistas estão associadas a piores resultados e devem ser evitadas.

Pontos-Chave:

  1. Reconhecimento precoce e encaminhamento especializado são primordiais.
  2. CPRM é a modalidade diagnóstica preferida.
  3. A estratégia de tratamento depende do tipo de lesão, momento e fatores do paciente.
  4. Hepaticojejunostomia em Y de Roux é o padrão-ouro para lesões maiores.
  5. O acompanhamento a longo prazo é essencial, pois complicações podem ocorrer anos após o reparo.

Conclusões para a Prática da Cirurgia Digestiva: Como cirurgiões digestivos, devemos abordar a cirurgia do trato biliar com uma mistura de confiança e humildade. A prevenção continua sendo a melhor estratégia, alcançada através de técnica meticulosa e uso liberal da colangiografia intraoperatória. Quando ocorre uma lesão, o reconhecimento rápido e o encaminhamento apropriado podem fazer a diferença entre uma complicação gerenciável e um evento que altera a vida.

No Brasil, onde a regionalização dos cuidados especializados ainda está evoluindo, é crucial estabelecer caminhos claros de encaminhamento e utilizar recursos de telemedicina quando necessário. Ao fazer isso, podemos garantir que cada paciente receba o mais alto padrão de cuidados, independentemente de sua localização geográfica.

“O desafio na cirurgia não está no fazer, mas em saber quando fazer e, mais importante, quando não fazer.” – Moshe Schein

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Prof. Dr. Ozimo Gama

A Complexidade Oculta da Colecistectomia Laparoscópica: Morbimortalidade e Desafios Persistentes

A colecistectomia laparoscópica é um dos procedimentos cirúrgicos mais comuns nos Estados Unidos, com mais de 750.000 operações realizadas anualmente, das quais 55% ocorrem em ambiente ambulatorial. Embora considerada um procedimento rotineiro, a colecistectomia laparoscópica continua a apresentar uma morbidade significativa, chegando a quase 10% em análises nacionais que incluem procedimentos ambulatoriais e hospitalares. No Brasil, estima-se que aproximadamente 300.000 colecistectomias sejam realizadas anualmente, com uma crescente adoção da técnica laparoscópica devido aos seus benefícios clínicos.

Benefícios e Riscos Inerentes

Quando introduzida, a laparoscopia trouxe benefícios evidentes em comparação à colecistectomia aberta, com reduções imediatas em infecções de feridas e complicações graves como pneumonia e sepse. No entanto, o aumento na incidência de lesões de ducto biliar (LDB) também foi rapidamente reconhecido, com uma taxa inicial de aproximadamente 0,5%. Embora avanços no treinamento laparoscópico e medidas de segurança tenham reduzido essa incidência, os dados mais recentes indicam que a taxa de LDB tem se mantido estável em cerca de 0,1% a 0,3%, conforme relatado por grandes bases de dados nacionais como a GallRiks.

Impactos na Qualidade de Vida e Mortalidade

As lesões de ducto biliar são responsáveis por significativa morbidade e custos elevados de saúde. Estudos demonstram que pacientes com LDB apresentam piores índices psicológicos e de qualidade de vida a longo prazo. Uma análise retrospectiva revelou um aumento na mortalidade geral, de 8,8% para 20%, em pacientes com LDB no estado de Nova York. Outros estudos corroboram esses achados, mostrando uma maior taxa de mortalidade em um ano para aqueles que sofrem essa complicação. No Brasil, dados indicam que a taxa de mortalidade pós-colecistectomia laparoscópica é inferior a 0,1%, alinhando-se às estatísticas internacionais, mas ainda há variações regionais que necessitam de atenção e padronização.

Custos Econômicos e Implicações Legais

Além do impacto clínico, as LDBs acarretam custos financeiros significativos. Análises revelam um aumento de 126% nos pagamentos para pacientes com LDB em comparação aos sem LDB, devido à maior permanência hospitalar e à necessidade de múltiplos procedimentos. Estima-se que o custo de tratamento de uma LDB iatrogênica possa superar os $100,000. Esses incidentes também são a principal causa de litígios em cirurgias gastrointestinais, com 20-30% das LDBs laparoscópicas resultando em ações judiciais. No Brasil, embora os custos possam ser menores devido às diferenças nos sistemas de saúde, o impacto econômico e legal das complicações permanece significativo, com um número crescente de processos relacionados a erros médicos.

Complicações Além das Lesões de Ducto Biliar

As complicações gerais da colecistectomia laparoscópica são variadas e podem ser graves. Entre as complicações mais comuns estão infecções da ferida cirúrgica, que ocorrem em até 4% dos casos. Hemorragias intraoperatórias e pós-operatórias são reportadas em cerca de 1-2% dos pacientes. Outras complicações incluem lesões intestinais e vasculares, que podem ocorrer em aproximadamente 0,2% dos casos. A taxa de mortalidade associada à colecistectomia laparoscópica é baixa, em torno de 0,1%, mas pode aumentar significativamente em pacientes com complicações graves como sepse e falência múltipla de órgãos. No contexto brasileiro, estudos mostram taxas de complicações semelhantes, com variações de acordo com a experiência do cirurgião e a infraestrutura disponível.

Medidas de Prevenção para uma Colecistectomia Segura

A prevenção de complicações na colecistectomia laparoscópica requer uma abordagem multifacetada, incluindo:

  1. Treinamento e Capacitação: Cirurgiões devem receber treinamento extensivo em técnicas laparoscópicas, incluindo simulações e supervisão em procedimentos iniciais.
  2. Uso de Tecnologia Avançada: Ferramentas como colangiografia intraoperatória podem ajudar na visualização dos ductos biliares e na prevenção de LDBs.
  3. Identificação Crítica das Estruturas: A técnica do “Critical View of Safety” (CVS) é crucial para assegurar a identificação correta das estruturas anatômicas antes da dissecção.
  4. Monitoramento Intraoperatório: A vigilância constante durante a cirurgia, com monitoramento de sinais vitais e resposta do paciente, pode ajudar a identificar e corrigir problemas rapidamente.
  5. Protocolo de Segurança: Implementar protocolos padronizados de segurança, como listas de verificação pré-operatórias, pode reduzir erros e melhorar os resultados cirúrgicos.

Considerações Finais

Embora a colecistectomia laparoscópica seja amplamente realizada, ela continua associada a uma morbi-mortalidade significativa. Os dados, que incluem informações tanto de pacientes hospitalizados quanto ambulatoriais, corroboram estudos anteriores e ressaltam a necessidade contínua de vigilância e melhoria nos padrões de segurança deste procedimento. A taxa de complicações de quase 10% e a incidência persistente de LDB indicam que esforços adicionais são necessários para melhorar os resultados e reduzir os riscos.

Nota Histórica

“Cirurgia é uma ciência de incerteza e uma arte de probabilidade” – William Stewart Halsted.

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PROF. DR. OZIMO GAMA

A história da PRIMEIRA COLECISTECTOMIA

A história da medicina é repleta de marcos que redefiniram os limites do conhecimento e da prática clínica. Um desses marcos é a primeira colecistectomia realizada por Karl Langenbuch, um episódio que não só alterou o tratamento das doenças da vesícula biliar, mas também estabeleceu novas diretrizes para a cirurgia abdominal. Esta narrativa explorará a evolução histórica da anatomia biliar, a biografia de Langenbuch, seus preparativos experimentais, o quadro clínico do primeiro paciente operado, e a importância histórica desse feito pioneiro.

Evolução Histórica do Conhecimento da Anatomia Biliar

Até o século XIX, o entendimento da anatomia biliar era rudimentar. A vesícula biliar era vista como um órgão de pouca importância, e seu papel na digestão não era totalmente compreendido. As investigações anatômicas e os avanços na técnica de dissecação, como os realizados por Andreas Vesalius no século XVI, foram cruciais para o entendimento da função e estrutura da vesícula biliar. No entanto, a verdadeira inovação veio com a descoberta das técnicas assépticas e a evolução dos conhecimentos cirúrgicos que permitiram a realização de procedimentos complexos como a colecistectomia.

Karl Langenbuch e a Primeira Colecistectomia

Karl Langenbuch, um cirurgião alemão, é amplamente reconhecido por realizar a primeira colecistectomia em 1882. Nascido em 1852, Langenbuch foi um pioneiro na cirurgia biliar, impulsionado por sua insatisfação com as opções de tratamento disponíveis para os pacientes com colecistite crônica e cálculos biliares. Observando que o tratamento conservador muitas vezes falhava, ele começou a explorar a remoção da vesícula biliar como uma solução definitiva. Langenbuch realizou experimentos em animais para testar a viabilidade da remoção da vesícula biliar, constatando que os animais sobreviviam sem ela. Essa descoberta, aliada à observação de casos de ausência congênita da vesícula biliar em humanos e outros animais, convenceu-o de que a remoção desse órgão era possível e segura.

Preparativos Experimentais e Técnicos

Antes de realizar a primeira colecistectomia humana, Langenbuch desenvolveu e refinou sua técnica através de dissecações anatômicas e operações experimentais em cadáveres e animais. Em 15 de julho de 1882, Langenbuch realizou a operação em Wilhelm Daniels, um paciente com colecistite crônica severa e dor debilitante, que havia se tornado dependente de morfina.

Evolução Perioperatória do Paciente

Internação e Preparativos

Wilhelm Daniels foi admitido no Hospital Lazarus em 10 de julho de 1882, cinco dias antes da cirurgia. Durante a internação, foram administrados laxantes e enemas para limpar o trato gastrointestinal, preparando o paciente para a operação. A dieta pré-operatória consistia em alimentos leves e líquidos, visando minimizar a carga sobre o sistema digestivo e reduzir o risco de complicações durante a cirurgia.

Durante a Cirurgia

A operação, que durou aproximadamente 90 minutos, foi realizada com uma técnica asséptica rigorosa, refletindo o compromisso de Langenbuch com a prevenção de infecções. A equipe cirúrgica incluía o assistente regular de Langenbuch, Dr. Lohlein, e o Professor F. Busch. O procedimento envolveu uma incisão oblíqua paralela à margem costal direita e um T vertical, cuidadosamente executado para acessar e remover a vesícula biliar, que estava significativamente dilatada e cheia de bile e cálculos biliares pequenos. O procedimento foi realizado com precisão, e a vesícula biliar foi removida com sucesso após a ligação e divisão do ducto cístico. A operação foi acompanhada por Dr. A. Martin, um ginecologista que também auxiliou no procedimento.

Pós-Operatório Imediato

No dia seguinte à operação, Langenbuch encontrou Daniels fumando um charuto e relatando a completa ausência de dor, um resultado surpreendente e positivo. O paciente foi monitorado de perto para sinais de complicações e recebeu cuidados de suporte, incluindo analgesia, para garantir uma recuperação confortável. A febre não foi observada, e o paciente foi mantido em repouso absoluto por 12 dias para promover a cicatrização adequada.

Alta Hospitalar e Recuperação

Após uma recuperação bem-sucedida e sem complicações, Wilhelm Daniels recebeu alta hospitalar após oito semanas. Durante sua estadia, ele recuperou 13,5 kg, e a dependência de morfina foi eliminada. A recuperação completa do paciente foi um testemunho da eficácia do procedimento e da habilidade de Langenbuch. O paciente relatou sentir-se totalmente curado e livre da dor debilitante que havia sofrido por anos.

Importância Histórica

A primeira colecistectomia não apenas provou a viabilidade do procedimento, mas também estabeleceu um novo padrão para o tratamento cirúrgico de doenças da vesícula biliar. A técnica de Langenbuch, embora inicialmente criticada, eventualmente se tornou um procedimento comum e essencial na cirurgia digestiva. A importância de seu trabalho é evidenciada pela evolução dos métodos de colecistectomia e a redução das complicações associadas à doença biliar.

Nota Histórica

“Um cirurgião não é apenas um artesão; ele é um cientista da vida e da morte. A habilidade técnica deve ser sempre acompanhada por um entendimento profundo da fisiologia e da anatomia.” – William Halsted

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Prevenção da Lesão da Via Biliar Durante a Colecistectomia: Recomendações Gerais

A lesão da via biliar (LVB) é uma complicação grave que pode ocorrer durante a colecistectomia, resultando em significativa morbidade e impacto na qualidade de vida do paciente. A prevenção dessa complicação é essencial para garantir a segurança e o sucesso da cirurgia. Este artigo aborda as recomendações gerais para a prevenção da LVB, com base nas diretrizes atuais e melhores práticas em cirurgia.

Identificação Anatômica Clara

Um dos passos mais cruciais na prevenção da LVB é a identificação clara das estruturas anatômicas. A técnica do “triângulo de Calot”, que envolve a dissecção cuidadosa para visualizar a vesícula biliar, o ducto cístico e a artéria cística, é fundamental. Essa abordagem minimiza o risco de identificar erroneamente o ducto biliar comum como o ducto cístico.

Uso de Colangiografia Intraoperatória

A colangiografia intraoperatória é uma ferramenta valiosa para confirmar a anatomia biliar e detectar possíveis anomalias. Essa prática deve ser considerada, especialmente em casos complexos ou quando houver dúvida sobre a anatomia. Estudos demonstram que a colangiografia pode reduzir a incidência de LVB ao fornecer uma visualização detalhada da árvore biliar.

Formação e Treinamento Cirúrgico

A educação contínua e o treinamento são essenciais para manter a proficiência técnica. Workshops, simulações e o uso de tecnologias de realidade virtual podem ajudar os cirurgiões a aprimorar suas habilidades e aumentar a conscientização sobre os riscos de LVB. Programas de treinamento devem enfatizar a importância da identificação anatômica correta e do uso de técnicas seguras.

Revisão de Práticas Cirúrgicas

A revisão periódica das práticas cirúrgicas e a implementação de protocolos de segurança podem ajudar a reduzir a incidência de LVB. As instituições devem promover uma cultura de segurança e incentivar os cirurgiões a relatar e discutir complicações para aprendizado contínuo e melhoria dos procedimentos.

Abordagem Multidisciplinar

Em casos de LVB identificada intra ou pós-operatória, uma abordagem multidisciplinar é essencial. A colaboração entre cirurgiões, radiologistas e gastroenterologistas pode otimizar o manejo e reduzir as complicações associadas. A intervenção precoce e apropriada pode melhorar significativamente os desfechos para os pacientes.

Técnica do Critical View of Safety (CVS)

Introduzida em 1995, a técnica do Critical View of Safety (CVS) garante a abordagem mais segura para a colecistectomia ao promover o reconhecimento correto dos elementos da vesícula biliar, especialmente o triângulo hepatocístico (composto pelo ducto cístico, ducto biliar comum e fígado). A literatura demonstra que, quando o CVS é identificado, o risco de complicações intraoperatórias iatrogênicas é minimizado. Portanto, o uso rotineiro do CVS é recomendado em detrimento de outras técnicas, como a abordagem infundibular. No entanto, alcançar uma CVS completa é facilmente obtido em apenas 50% dos casos.

A lesão do ducto biliar comum é mais comum durante a curva de aprendizado inicial na colecistectomia laparoscópica (< 50 casos). Portanto, o uso do CVS pode ser de maior importância para treinandos e residentes; nesse cenário, o treinando ou residente deve assegurar o CVS, e o cirurgião supervisor deve confirmar o CVS antes que o ducto cístico e a artéria cística sejam ligados.

Procedimentos de Resgate

Sempre que um CVS não puder ser alcançado e a anatomia biliar não puder ser claramente definida, técnicas alternativas, como a abordagem “fundus-first” ou a colecistectomia subtotal (STC), devem ser consideradas. Estudos mostram que a técnica “fundus-first” está associada a taxas reduzidas de conversão e complicações iatrogênicas durante operações difíceis. No entanto, STC está associada a infecções significativas no local cirúrgico, necessidade de reintervenções e uma estadia hospitalar prolongada em comparação com a colecistectomia total.

Imagem Biliar Intraoperatória

A colangiografia intraoperatória (IOC) pode ser usada para reconhecer coledocolitíase e definir a anatomia biliar. No entanto, seu uso rotineiro não é aconselhável atualmente, pois não está associado a uma redução significativa nas taxas de complicações e LVBs durante a colecistectomia laparoscópica (LC). Alternativamente, a colangiografia com fluorescência de verde de indocianina (ICG-C) pode ser uma técnica útil para visualizar as estruturas do trato biliar sem a necessidade de imagem por raios X.

Considerações Finais

Prevenir a LVB requer um esforço conjunto de conhecimento anatômico, uso de tecnologias auxiliares e um compromisso contínuo com a educação e a prática segura. Os cirurgiões devem estar atentos aos sinais de risco e utilizar todas as ferramentas disponíveis para garantir a segurança do paciente.

Em 1924, o renomado cirurgião britânico Sir Berkeley Moynihan escreveu: “O cirurgião que falha em identificar corretamente as estruturas anatômicas durante uma operação corre o risco de causar mais mal do que benefício.” Essa máxima permanece verdadeira e reforça a importância da precisão e do cuidado na prática cirúrgica.

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Prevenção Terciária da Lesão da Via Biliar

A lesão do ducto biliar (LDB) durante a colecistectomia laparoscópica continua sendo um espectro que assombra cirurgiões em todo o mundo. Com uma incidência que varia de 0,5% a 0,9%, esta complicação, embora incomum, carrega consigo o potencial de alterar drasticamente o curso da vida de um paciente. O que torna este cenário ainda mais desafiador é o fato de que apenas um terço dessas lesões são detectadas intraoperatoriamente, deixando os dois terços restantes como bombas-relógio silenciosas, prontas para detonar no período pós-operatório.

A prevenção terciária da LDB refere-se às medidas tomadas após a ocorrência da lesão para minimizar suas consequências e otimizar os resultados para o paciente. Este é um território onde a experiência, o julgamento clínico e a habilidade técnica convergem para determinar o destino do paciente.

O primeiro pilar da prevenção terciária é o reconhecimento precoce. Estudos demonstram que o reparo precoce do ducto biliar (dentro de 72 horas após a lesão) está associado a uma estadia hospitalar mais curta e a uma melhor qualidade de vida do paciente. Além disso, os resultados a longo prazo após um reparo precoce têm se mostrado favoráveis.

O segundo pilar é a escolha do cirurgião e do centro para o reparo. A análise de Stewart e Way em 1995 revelou resultados significativamente superior quando o reparo foi realizado por um cirurgião experiente em cirurgia biliar em comparação com o cirurgião primário (94% vs 17% de sucesso). Isso sublinha a importância crucial de encaminhar o paciente a um centro especializado em cirurgia hepatobiliar quando a lesão é identificada.

O terceiro pilar é a técnica cirúrgica adequada. A reconstrução biliar deve seguir princípios fundamentais: ser livre de tensão, utilizar segmentos de ducto bem vascularizados, garantir anastomose mucosa-mucosa e drenar todos os segmentos do fígado. A escolha entre anastomose ducto-ducto término-terminal e hepaticojejunostomia em Y de Roux deve ser feita com base na extensão e localização da lesão, bem como na experiência do cirurgião.

PRÍNCIPIOS TÉCNICOS DAS ANASTOMOSES BILIOENTÉRICAS

O quarto pilar é o manejo pós-operatório cuidadoso. Isso inclui a vigilância de complicações precoces, como vazamentos biliares e estenoses, bem como o acompanhamento a longo prazo para detectar complicações tardias.

É importante ressaltar que cada tentativa fracassada de reparo torna a cirurgia subsequente mais difícil e menos recompensadora. Portanto, a decisão de tentar um reparo ou encaminhar o paciente deve ser tomada com extrema cautela, sempre priorizando o melhor interesse do paciente.

Em conclusão, a prevenção terciária da lesão do ducto biliar é uma arte que demanda não apenas habilidade técnica, mas também humildade e sabedoria para reconhecer as próprias limitações. É um lembrete constante de que, na medicina, assim como na vida, às vezes o ato mais corajoso é pedir ajuda.

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Nota histórica: William Stewart Halsted, pioneiro da cirurgia moderna, uma vez observou: “O cirurgião deve evitar cuidadosamente o ducto biliar comum, pois sua lesão é um dos acidentes mais graves que podem ocorrer durante uma operação na vesícula biliar.” Esta observação, feita há mais de um século, permanece pertinente até hoje, sublinhando a importância contínua da prevenção e do manejo cuidadoso das lesões biliares.

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Lesão da Via Biliar: Inevitabilidade ou Evento Adverso?

A colecistectomia laparoscópica, procedimento que revolucionou a cirurgia biliar, trouxe consigo um dilema persistente: a lesão iatrogênica da via biliar. Este artigo examina a natureza dessa complicação, questionando se deve ser considerada um evento adverso inerente ou uma falha evitável.

Desde a introdução da colecistectomia laparoscópica há cerca de três décadas, a incidência de lesões do ducto biliar comum permanece estável, oscilando entre 0,4% e 0,7%. Este fato intrigante persiste apesar dos avanços tecnológicos, da padronização de técnicas e da crescente experiência dos cirurgiões.

A anatomia complexa da região hepatobiliar, combinada com as limitações inerentes à abordagem laparoscópica, cria um cenário propício para erros de percepção. O estudo seminal de Way e Hunter, analisando 252 casos de lesões biliares, revelou que 97% dessas lesões resultaram de ilusões de percepção visual, não de falhas técnicas ou de conhecimento.

Estratégias para mitigar o risco de lesão incluem a abordagem do infundíbulo, a “visão crítica de segurança”, a dissecção retrógrada e a colangiografia intraoperatória. No entanto, nenhuma dessas técnicas provou ser infalível. Surpreendentemente, mesmo a colangiografia, frequentemente considerada o padrão-ouro para identificação anatômica, falhou em prevenir ou detectar lesões em muitos casos.

A questão central permanece: devemos considerar a lesão da via biliar durante a colecistectomia laparoscópica como um risco inerente do procedimento ou como evidência de prática abaixo do padrão? A resposta não é simples e tem implicações significativas, tanto do ponto de vista médico quanto legal.

Argumenta-se que, se um cirurgião empregou todos os métodos reconhecidos para identificar a anatomia corretamente e ainda assim ocorreu uma lesão, isso não deve ser automaticamente rotulado como negligência. A cirurgia, afinal, é tanto uma arte quanto uma ciência, sujeita às limitações da percepção humana e às variabilidades anatômicas.

Por outro lado, a comunidade cirúrgica tem a responsabilidade de continuar buscando métodos para reduzir a incidência dessas lesões. Isso inclui treinamento avançado em anatomia biliar, simulações que reproduzam cenários desafiadores e educação contínua sobre os processos cognitivos envolvidos na tomada de decisão cirúrgica.

É crucial que os pacientes sejam plenamente informados sobre este risco específico. A conveniência e os benefícios da abordagem laparoscópica vêm com um pequeno, mas significativo, aumento no risco de lesão biliar em comparação com a cirurgia aberta tradicional.

Em conclusão, enquanto continuamos a debater se a lesão da via biliar durante a colecistectomia laparoscópica é um evento adverso inevitável ou uma complicação evitável, é imperativo que mantenhamos um equilíbrio entre a busca pela perfeição técnica e o reconhecimento das limitações humanas. Somente através de uma abordagem honesta e reflexiva poderemos avançar na segurança cirúrgica e na qualidade do cuidado ao paciente.

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“To study the phenomena of disease without books is to sail an uncharted sea, while to study books without patients is not to go to sea at all.” – William Osler

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Heurística da Lesão da Via Biliar: Um Desafio Cognitivo na Cirurgia Biliar

A lesão iatrogênica da via biliar durante a colecistectomia permanece um dos desafios mais complexos e devastadores na cirurgia do aparelho digestivo. Apesar dos avanços tecnológicos e da padronização de técnicas cirúrgicas, a incidência dessas lesões não diminuiu significativamente nas últimas décadas. Este fenômeno intrigante levanta questões fundamentais sobre os processos cognitivos envolvidos na tomada de decisão cirúrgica e na percepção anatômica durante procedimentos laparoscópicos.

A heurística, definida como atalhos mentais utilizados para simplificar a tomada de decisões complexas, desempenha um papel crucial na ocorrência de lesões da via biliar. O cirurgião, ao se deparar com a anatomia biliar, frequentemente recorre a mapas cognitivos baseados em experiências prévias. Estes mapas, embora geralmente úteis, podem levar a interpretações errôneas em situações de variabilidade anatômica ou inflamação severa.

Um dos fenômenos mais intrigantes neste contexto é a “ilusão do ducto biliar”. Esta ilusão ocorre quando a tração na vesícula biliar cria uma angulação no ducto biliar comum que se assemelha à junção entre o ducto cístico e a vesícula. Esta falsa percepção pode levar o cirurgião a posicionar incorretamente seu mapa cognitivo, resultando em dissecção no espaço errado e potencial lesão do ducto biliar comum.

A tecnologia laparoscópica, embora tenha revolucionado a cirurgia biliar, também introduz desafios perceptivos únicos. A visão bidimensional e o campo visual limitado podem exacerbar a desorientação espacial, tornando mais difícil para o cirurgião reconhecer marcos anatômicos cruciais.

As lesões do ducto biliar (LDBs) continuam sendo um problema persistente na colecistectomia, apesar dos esforços para reduzi-las. As causas das LDBs são complexas e envolvem múltiplos fatores, incluindo a proximidade anatômica das estruturas, a variabilidade na anatomia, as limitações das visões laparoscópicas e os vieses cognitivos e erros na percepção e julgamento do cirurgião.

A teoria cognitiva moderna nos oferece insights valiosos para compreender este fenômeno. O pensamento do Sistema 1 (rápido, automático) versus o Sistema 2 (lento, deliberado) desempenha um papel crucial na tomada de decisões cirúrgicas. O uso de heurísticas e mapas cognitivos pelos cirurgiões, embora eficiente na maioria das situações, pode levar a erros críticos quando aplicado inadequadamente.

Vários fatores colocam o ducto biliar “em risco” durante a cirurgia. A proximidade e variabilidade anatômica são fatores primários, mas a experiência limitada de alguns cirurgiões com a anatomia do porta hepatis também contribui significativamente. As limitações da visão laparoscópica e da consciência espacial, juntamente com as distrações do ambiente da sala de operações, aumentam ainda mais o risco de lesões.

Falhas perceptivas podem ocorrer de várias formas durante a cirurgia. A má interpretação dos marcos anatômicos é uma armadilha comum, especialmente quando combinada com a “ilusão do ducto biliar”, onde o ducto biliar comum é confundido com o ducto cístico. Isso pode levar ao posicionamento incorreto do mapa cognitivo do cirurgião no espaço anatômico errado, um erro que pode ter consequências devastadoras.

Além disso, vieses cognitivos como o viés de confirmação e a fixação cognitiva podem impedir a correção de erros uma vez iniciados. O cirurgião pode inconscientemente interpretar informações subsequentes de maneira a confirmar sua percepção inicial equivocada, perpetuando assim o erro. O viés em direção à ação ou decisão, a fixação cognitiva e a crença nas primeiras impressões são outros fatores que podem impedir a correção oportuna de erros.

Para mitigar estes riscos, é crucial desenvolver estratégias que abordem tanto os aspectos técnicos quanto os cognitivos da cirurgia biliar. Estas incluem:

  1. Treinamento avançado em anatomia biliar, incluindo variações comuns.
  2. Simulações que reproduzam a “ilusão do ducto biliar” e outras armadilhas perceptivas.
  3. Implementação de “time-outs” intraoperatórios para reavaliação anatômica.
  4. Educação em psicologia cognitiva e reconhecimento de vieses para cirurgiões.
  5. Desenvolvimento de protocolos de “parada” quando a anatomia não está clara.

Além disso, propõe-se uma série de soluções para abordar esses desafios. A melhoria da educação anatômica e do treinamento em simulação é fundamental, com ênfase especial no ensino do reconhecimento da “ilusão do ducto biliar”. O treinamento em psicologia cognitiva e prevenção de erros deve ser incorporado aos programas de residência cirúrgica.

Mudanças sistêmicas para otimizar o ambiente da sala de operações também são cruciais. Isso pode incluir a redução de distrações, a melhoria da ergonomia e a implementação de protocolos de segurança mais rigorosos. Técnicas como o “time-out do ducto biliar” para confirmar marcos anatômicos antes da dissecção crítica podem ajudar a prevenir erros.

Finalmente, é essencial incentivar o uso de “regras de parada” quando a anatomia não está clara. Isso envolve cultivar uma cultura cirúrgica que valorize a prudência e a segurança acima da velocidade ou do orgulho profissional. Os cirurgiões devem ser encorajados a pedir ajuda, converter para cirurgia aberta ou adiar o procedimento quando confrontados com anatomia incerta ou situações de alto risco.

A compreensão da heurística da lesão da via biliar não apenas melhora a segurança cirúrgica, mas também oferece insights valiosos sobre os processos cognitivos humanos em ambientes de alta complexidade e pressão. Ao abordar tanto os aspectos técnicos quanto os psicológicos da cirurgia biliar, podemos esperar uma redução significativa nas lesões do ducto biliar e uma melhoria geral nos resultados para os pacientes.

Em conclusão, a prevenção de lesões do ducto biliar requer uma abordagem multifacetada que combine excelência técnica, compreensão profunda da anatomia, consciência dos processos cognitivos e um compromisso inabalável com a segurança do paciente. Somente através desses esforços combinados poderemos esperar superar este desafio persistente na cirurgia biliar.

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“To study the phenomena of disease without books is to sail an uncharted sea, while to study books without patients is not to go to sea at all.” – William Osler

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Visão Crítica de Segurança

A colecistectomia laparoscópica é um procedimento amplamente adotado, mas que, infelizmente, apresenta uma taxa aumentada de lesões biliares em comparação com a colecistectomia aberta. Mesmo após mais de uma década desde sua introdução nos Estados Unidos, a lesão do ducto biliar continua a ser um problema significativo, ocorrendo até mesmo em cirurgiões experientes e altamente competentes. Este artigo aborda a importância da “Visão Crítica de Segurança” na prevenção dessas lesões, oferecendo insights valiosos para estudantes de medicina, residentes de cirurgia geral e pós-graduandos em cirurgia do aparelho digestivo.

A Complexidade das Lesões Biliares

As lesões biliares durante a colecistectomia laparoscópica geralmente resultam de erros de visualização durante a dissecção. Um dos métodos originais para identificar o ducto cístico envolve a técnica “infundibular”, onde o ducto cístico é dissecado nos aspectos anterior e posterior do triângulo de Calot. No entanto, essa técnica pode levar à identificação errônea do ducto biliar comum como o ducto cístico, especialmente em casos de colecistite aguda, onde o ducto cístico pode estar oculto sob uma massa inflamatória.

Técnica da Visão Crítica de Segurança

A “Visão Crítica de Segurança” é uma técnica alternativa que visa clarear completamente o triângulo de Calot de tecido fibroso e gorduroso, de modo que as únicas estruturas visíveis sejam o ducto cístico e a artéria cística. Após essa dissecção, a base do fígado (segmento IV) deve ser visível, sem outras estruturas atravessando em direção à vesícula biliar. Se isso não puder ser alcançado, a dissecção deve ser interrompida e a colangiografia deve ser realizada para definir a anatomia, ou a cirurgia deve ser convertida para uma colecistectomia aberta.

Importância da Colangiografia Intraoperatória (CIO)

A CIO é uma ferramenta crucial na prevenção de lesões biliares, pois permite a visualização clara da anatomia biliar. No entanto, se a dissecção inicial isola erroneamente o ducto biliar comum, a CIO pode resultar em uma coledocotomia desnecessária. É vital que o cirurgião interprete corretamente a CIO, visualizando todos os ductos proximais para evitar a ligadura errônea do ducto biliar comum.

Prática Segura e Prevenção de Lesões

Dissecar cuidadosamente a junção do pescoço da vesícula biliar com o ducto cístico é o fator mais importante para definir a anatomia e prevenir lesões biliares. A técnica da “Visão Crítica de Segurança” minimiza o risco de lesão inadvertida ao garantir que apenas o ducto cístico e a artéria cística estejam presentes no triângulo de Calot antes de qualquer corte.

Conclusão

Adotar a “Visão Crítica de Segurança” na colecistectomia laparoscópica é fundamental para reduzir as taxas de lesões biliares. Esta técnica garante uma identificação precisa da anatomia, evitando erros técnicos comuns que podem levar a complicações graves. A vigilância contínua e a adaptabilidade dos cirurgiões são essenciais para a implementação dessas estratégias preventivas.

Nas palavras de Sir William Osler, “O bom médico trata a doença; o grande médico trata o paciente que tem a doença.” À medida que buscamos prevenir lesões no ducto biliar, lembremo-nos da importância da precisão e vigilância em cada procedimento cirúrgico.

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Etapas de Prevenção da Lesão Biliar na Colecistectomia Laparoscópica

A colecistectomia laparoscópica é uma técnica amplamente utilizada para tratar doenças da vesícula biliar, sendo realizada aproximadamente 750.000 vezes por ano nos Estados Unidos. Apesar dos benefícios de ser uma técnica minimamente invasiva, a colecistectomia laparoscópica apresenta desafios, incluindo um risco aumentado de lesões no ducto biliar. Este artigo fornece uma visão educacional sobre as estratégias de prevenção dessas lesões, voltado para estudantes de medicina, residentes de cirurgia geral e pós-graduandos em cirurgia do aparelho digestivo.

Compreendendo a Complexidade das Lesões no Ducto Biliar (LDB)

As lesões no ducto biliar frequentemente resultam de uma série de decisões tomadas em cenários complexos e heterogêneos. A prevenção dessas lesões justifica-se plenamente, dadas as consequências catastróficas que podem causar. Estratificamos a prevenção de LDB em quatro níveis clássicos: prevenção primária, secundária, terciária e quaternária.

Prevenção Primária

A prevenção primária é o nível mais importante, visando evitar a ocorrência de LDB. Isso é alcançado realizando a cirurgia corretamente, identificando bem a anatomia regional através da “Visão Crítica de Segurança”, realizando manobras hemostáticas seguras, utilizando Colangiografia Intraoperatória (CIO) e tendo um baixo limiar para interromper a cirurgia e realizar procedimentos alternativos, se necessário.

Treinamento adequado é essencial para prevenir primariamente uma LDB. Embora a curva de aprendizado da colecistectomia laparoscópica seja difícil de alcançar ao final da residência, é fundamental que os trainees sejam sempre cautelosos e humildes. Estudos mostram que a curva de aprendizado reduz as lesões associadas (> 50 casos), mas não elimina aquelas que ocorrem após a realização de muitas cirurgias, conhecidas como “lesões de especialistas” (> 200 casos).

A CIO desempenha um papel crucial na prevenção de lesões, diagnóstico intraoperatório e prevenção de lesões complexas, pois permite uma identificação mais clara da anatomia, evitando dissecções errôneas. Estudos populacionais mostram que a taxa de LDB é duas vezes maior em populações onde a CIO não é rotineiramente utilizada. Além disso, a colangiografia por fluorescência representa uma alternativa promissora, utilizando substâncias fluorescentes como a Indocianina Verde, que permitem a identificação dos ductos biliares sem dissecção prévia, melhorando a interpretação da anatomia.

Procedimentos alternativos, como colecistectomia subtotal ou parcial, são válidos em casos de processos inflamatórios avançados com anatomia regional obscura. No entanto, é importante lembrar que a conversão para cirurgia aberta aumenta o risco de LDB, especialmente em cenários de hemorragia e inflamação avançada.

Prevenção Secundária

A prevenção secundária refere-se ao diagnóstico precoce de LDB para limitar seus efeitos deletérios. O diagnóstico intraoperatório de lesões é essencial para evitar a progressão de lesões não percebidas, que são as mais ameaçadoras para os pacientes. Nesses casos, a CIO é indispensável para facilitar o diagnóstico e evitar danos adicionais às estruturas do hilo hepático.

Prevenção Terciária

A prevenção terciária envolve a instalação de terapias apropriadas e oportunas para evitar complicações e sequelas após os procedimentos de reparo. O cirurgião deve avaliar se está adequadamente equipado para realizar uma CIO eficaz, se sente-se confortável para realizar um reparo primário ou uma anastomose biliodigestiva, ou se seria melhor concluir a cirurgia e encaminhar o paciente para um centro terciário.

Prevenção Quaternária

A prevenção quaternária é um conceito mais contemporâneo, referindo-se às atividades realizadas para evitar, reduzir ou mitigar os danos causados pela exposição ao sistema de saúde. No caso das LDB, isso inclui evitar a exposição do paciente ao risco de sofrer uma lesão, discutindo as indicações para a colecistectomia laparoscópica com mais especificidade.

Conclusão

Prevenir lesões no ducto biliar durante a colecistectomia laparoscópica exige uma abordagem multifacetada, integrando imagens de alta qualidade, técnicas de dissecção cuidadosas e uma consciência aumentada das variações anatômicas. A vigilância contínua e a adaptabilidade dos cirurgiões são essenciais para a implementação dessas estratégias preventivas.

Nas palavras de Sir William Osler, “O bom médico trata a doença; o grande médico trata o paciente que tem a doença.” À medida que buscamos prevenir lesões no ducto biliar, lembremo-nos da importância da precisão e vigilância em cada procedimento cirúrgico.

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Palavras-chave: Colecistectomia laparoscópica, prevenção de lesões no ducto biliar, técnicas cirúrgicas, triângulo de Calot, colangiografia intraoperatória


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Colecistectomia Segura Laparoscópica

A colecistectomia laparoscópica é um procedimento fundamental na cirurgia moderna, com aproximadamente 750.000 operações realizadas anualmente nos Estados Unidos. Embora a natureza minimamente invasiva dessa técnica ofereça inúmeros benefícios, ela também apresenta desafios únicos, incluindo um risco aumentado de lesões graves no ducto biliar em comparação com a colecistectomia aberta. Este artigo tem como objetivo fornecer uma visão educacional das estratégias para prevenir essas lesões, voltado para estudantes de medicina, residentes de cirurgia geral e pós-graduandos em cirurgia do aparelho digestivo.

Compreendendo o Risco

Apesar da experiência adquirida ao longo dos anos de prática, as lesões no ducto biliar ocorrem em uma taxa relativamente constante. Estudos indicam que a colecistectomia laparoscópica tem uma incidência mais alta de lesões graves no ducto biliar (0,5%) em comparação com a colecistectomia aberta (0,1-0,2%). A principal causa dessas lesões é a identificação errônea do ducto biliar comum (CBD) como o ducto cístico, agravada pelo ambiente visual alterado e pela perda de feedback tátil na cirurgia laparoscópica.

Principais Estratégias Preventivas

Otimização da Imagem

A imagem de alta qualidade é crucial. Utilizar um endoscópio angulado (30° ou 45°) pode proporcionar uma melhor visualização. Comece dissecando o triângulo de Calot para identificar claramente o ducto cístico. Certifique-se de que o ducto cístico possa ser rastreado ininterruptamente até a base da vesícula biliar.

Etapas Iniciais de Dissecação

Abra os planos teciduais entre a vesícula biliar e o suposto ducto cístico. Se a anatomia estiver obscura ou se houver suspeita de uma anomalia biliar, prossiga com cautela e considere a realização de colangiogramas operatórios liberais. Evite colocar clipes em estruturas que não estejam totalmente mobilizadas e converta para um procedimento aberto se necessário.

Reconhecendo e Respondendo aos Sinais de Alerta

Certos achados intraoperatórios devem levantar a suspeita de uma possível lesão no ducto biliar. Estes incluem:

  • A necessidade de mais de oito clipes, indicando sangramento excessivo.
  • Um ducto não totalmente abarcado por um clipe padrão de 9 mm.
  • Encontro de estruturas linfáticas ou vasculares extras.
  • Presença de uma grande artéria atrás do ducto, sugerindo que pode ser a artéria hepática direita posterior ao CBD.
Gerenciamento de Ilusões Anatômicas

O processamento visual na cirurgia laparoscópica pode levar a ilusões anatômicas convincentes. Os cirurgiões devem estar cientes de que experiência, conhecimento e habilidade técnica por si só são insuficientes para proteger contra a identificação errônea dos ductos. Aplicar consistentemente a visão crítica de segurança e utilizar colangiogramas operatórios pode mitigar esses riscos.

Ênfase Educacional

A prevenção de lesões no ducto biliar requer uma abordagem multifacetada, integrando imagens de alta qualidade, técnicas de dissecação cuidadosas e uma maior consciência das variações anatômicas. Os cirurgiões devem permanecer vigilantes e adaptáveis, atualizando continuamente suas técnicas com base nas pesquisas mais recentes e diretrizes clínicas.

Nas palavras de Sir William Osler, “O bom médico trata a doença; o grande médico trata o paciente que tem a doença.” Enquanto nos esforçamos para prevenir lesões no ducto biliar, lembremo-nos da importância da precisão e vigilância em cada procedimento cirúrgico.

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Palavras-chave: Colecistectomia laparoscópica, prevenção de lesões no ducto biliar, técnicas cirúrgicas, triângulo de Calot, colangiograma operatório


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Prevenção de Lesões do Ducto Biliar

A compreensão das lesões do ducto biliar durante colecistectomias laparoscópicas exige uma análise aprofundada não apenas das técnicas cirúrgicas, mas também dos fatores humanos e da psicologia cognitiva envolvidos. Este texto destina-se a estudantes de medicina, residentes de cirurgia geral e pós-graduandos em cirurgia do aparelho digestivo, oferecendo uma visão abrangente e científica sobre como a integração dessas disciplinas pode contribuir para a prevenção de lesões iatrogênicas.

Mecanismos e Classificação das Lesões do Ducto Biliar

Lesões do ducto biliar são uma complicação séria e muitas vezes evitável da colecistectomia laparoscópica. Elas podem ser classificadas em diferentes classes baseadas na anatomia lesada e na técnica cirúrgica empregada. Entre as classificações mais comuns, destacam-se:

  • Classe I: Dano ao ducto colédoco (CBD) confundido com o ducto cístico.
  • Classe II: Dano ao ducto hepático comum (CHD).
  • Classe III: Lesão de ramos biliares direitos ou esquerdos.
  • Classe IV: Dano simultâneo a múltiplos ductos biliares.

A compreensão detalhada dessas classificações permite aos cirurgiões identificar e mitigar riscos específicos durante a cirurgia.

Fatores Humanos e Psicologia Cognitiva

Os fatores humanos referem-se ao estudo de como os seres humanos interagem com os elementos de um sistema. Na cirurgia, isso inclui a interação entre o cirurgião, a equipe médica, os instrumentos cirúrgicos e o ambiente operatório. A psicologia cognitiva, por sua vez, estuda os processos mentais envolvidos na percepção, memória, julgamento e tomada de decisão.

Vieses Cognitivos: Um aspecto crítico da psicologia cognitiva são os vieses que afetam o julgamento clínico. O “confirmation bias” (viés de confirmação), por exemplo, ocorre quando um cirurgião interpreta dados de forma a confirmar suas expectativas pré-existentes, potencialmente levando a erros.

Estresse e Desempenho: O estresse é um fator significativo que pode comprometer a performance cirúrgica. Modelos como o “Yerkes-Dodson Law” indicam que um nível moderado de estresse pode melhorar o desempenho, mas níveis excessivos levam a um declínio acentuado.

Ilusões Anatômicas: Ilusões anatômicas são um perigo constante, mesmo para cirurgiões experientes. A confiança excessiva na habilidade técnica sem uma verificação constante pode resultar em erros críticos. A conscientização contínua sobre a possibilidade de tais ilusões é crucial para a segurança do paciente.

Estratégias de Prevenção

Educação e Treinamento: Programas de treinamento contínuo que enfatizam a importância do reconhecimento precoce de anatomias variantes e a prática da colangiografia intraoperatória são fundamentais. A colangiografia permite a visualização direta das vias biliares, ajudando a confirmar a anatomia antes da dissecção.

Checklists Cirúrgicos: A implementação de checklists cirúrgicos, como os desenvolvidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pode melhorar a comunicação dentro da equipe cirúrgica e garantir que todos os passos críticos sejam seguidos.

Simulação e Prática Deliberada: A utilização de simulações realistas para praticar procedimentos complexos e lidar com complicações inesperadas permite aos cirurgiões aprimorar suas habilidades em um ambiente seguro e controlado.

Ambiente Operacional: Melhorias no ambiente cirúrgico, incluindo iluminação adequada, disposição ergonômica dos instrumentos e minimização de distrações, podem ajudar a reduzir o risco de lesões.

Regras Práticas para Prevenir Lesões do Ducto Biliar

Otimização da Imagem:

  • Use equipamentos de imagem de alta qualidade.

Passos Iniciais e Objetivos:

  • Utilize o triângulo de Calot para orientação antes de iniciar a dissecção; encontre o ducto cístico começando pelo triângulo.
  • Puxe o infundíbulo da vesícula biliar lateralmente para abrir o triângulo de Calot.
  • Limpe a parede medial do infundíbulo da vesícula biliar.
  • Assegure que o ducto cístico possa ser traçado ininterruptamente até a base da vesícula biliar.
  • Abra qualquer plano tecidual sutil entre a vesícula biliar e o presumido ducto cístico; o verdadeiro ducto cístico pode estar escondido ali.

Fatores que Sugerem que se Está Dissecando o Ducto Comum em Vez do Ducto Cístico:

  • O ducto quando clipado não é totalmente englobado por um clipe padrão M/L (9 mm).
  • Qualquer ducto que possa ser traçado sem interrupção até passar atrás do duodeno é provavelmente o CBD.
  • A presença de outra estrutura ductal inesperada.
  • Uma artéria grande atrás do ducto – a artéria hepática direita corre posteriormente ao CBD.
  • Estruturas linfáticas e vasculares extras encontradas na dissecção.
  • Os ductos hepáticos proximais não opacificam nas colangiografias operatórias.

Obtenção Liberal de Colangiografias Operatórias:

  • Sempre que a anatomia for confusa.
  • Quando a inflamação e as aderências resultarem em uma dissecção difícil.
  • Sempre que uma anomalia biliar for suspeita; assuma que o que parece ser uma anatomia anômala é realmente normal e confusa até ser provada por colangiografias.

Evitar Lesões Não Intencionais nas Estruturas Ductais:

  • Apenas coloque clipes em estruturas que estão totalmente mobilizadas; a ponta de um clipe fechado não deve conter tecido.
  • A necessidade de mais de oito clipes sugere que a operação pode ser sangrenta o suficiente para justificar a conversão para um procedimento aberto.
  • A consideração da necessidade de transfusão de sangue sugere que a operação deve ser convertida para um procedimento aberto.
  • Abra quando a inflamação ou o sangramento obscurecer a anatomia.

Aspectos Humanos na Cirurgia

Além dos fatores técnicos, é fundamental considerar os aspectos humanos que podem influenciar o desempenho cirúrgico. A fadiga, o estresse emocional, a pressão do tempo e a dinâmica de equipe são fatores que podem aumentar a probabilidade de erros. A promoção de um ambiente de trabalho saudável e a implementação de práticas que reduzem o estresse, como pausas regulares e suporte psicológico, podem contribuir significativamente para a segurança do paciente.

Conclusão

A integração dos princípios dos fatores humanos e da psicologia cognitiva na prática cirúrgica é vital para a prevenção de lesões do ducto biliar durante colecistectomias laparoscópicas. Cirurgiões bem treinados, cientes de seus próprios vieses e operando em ambientes otimizados, são mais propensos a realizar cirurgias seguras e eficazes. Como William Osler disse: “A medicina é uma ciência da incerteza e uma arte da probabilidade.”

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Colecistectomia Laparoscópica

A colecistectomia laparoscópica, estabelecida nas últimas duas décadas como o padrão-ouro para o tratamento da colelitíase, apresenta desafios significativos quando complicações ocorrem. Embora a maioria dos procedimentos seja realizada sem intercorrências, situações complexas exigem do cirurgião uma compreensão profunda da anatomia cirúrgica e das técnicas de manejo de complicações. Este texto abordará os principais desafios da colecistectomia laparoscópica complicada, direcionado a estudantes de medicina, residentes de cirurgia geral e pós-graduandos em cirurgia do aparelho digestivo.

Desafios Anatômicos

O triângulo hepatocístico, formado pela vesícula biliar, o ducto hepático comum e o fígado, é uma estrutura anatômica crítica na colecistectomia. A dissecção inadequada desta região pode resultar em lesões graves. A artéria cística, originando-se geralmente da artéria hepática direita, pode apresentar variações anatômicas, incluindo sua origem de uma artéria hepática direita aberrante, complicando a identificação e ligadura. A placa cística, área fibrosa sobre a qual a vesícula biliar se assenta, é outra região crucial. Pequenos ductos biliares, os ductos de Luschka, podem penetrar na vesícula e causar vazamento biliar se lesados. Em cerca de 10% dos pacientes, um ducto biliar periférico grande se localiza imediatamente abaixo da placa cística, aumentando o risco de lesão.

Prevenção da Lesão da Via Biliar

Aspectos Anatômicos

Compreender a complexidade anatômica da árvore biliar é essencial para a prevenção de lesões. O triângulo de Calot é um ponto chave onde a artéria cística e o ducto cístico se encontram. A “vista crítica de segurança” deve ser alcançada antes de qualquer ligadura ou corte, o que implica na identificação clara de duas e somente duas estruturas (ducto cístico e artéria cística) entrando na vesícula biliar. Além disso, é fundamental reconhecer variações anatômicas comuns, como a presença de uma artéria hepática direita acessória ou a confluência baixa do ducto cístico com o ducto hepático comum. A colangiografia intraoperatória pode auxiliar na confirmação da anatomia biliar e na prevenção de lesões inadvertidas.

Técnicas Cirúrgicas

  1. Dissecção Cuidadosa: Utilizar técnicas de dissecção romba e aguda para separar os tecidos no triângulo de Calot. Evitar o uso excessivo de eletrocautério próximo ao ducto biliar comum para minimizar o risco de lesão térmica.
  2. Vista Crítica de Segurança: Antes de ligar ou cortar qualquer estrutura, garantir que duas e apenas duas estruturas estão claramente identificadas entrando na vesícula biliar. Esta técnica reduz significativamente a incidência de lesões do ducto biliar.
  3. Colangiografia Intraoperatória (IOC): A IOC é uma ferramenta valiosa para mapear a anatomia biliar durante a cirurgia. Sua utilização regular pode ajudar na identificação de variações anatômicas e na confirmação do trajeto dos ductos biliares, prevenindo lesões inadvertidas.
  4. Exposição Adequada: Posicionar o paciente de forma que o fígado seja elevado e a vesícula biliar fique bem exposta. Utilizar tração adequada para visualizar claramente a anatomia biliar.
  5. Conversão para Laparotomia: Se a anatomia não puder ser claramente identificada laparoscopicamente ou se ocorrerem complicações, a conversão para cirurgia aberta deve ser considerada prontamente para assegurar a segurança do paciente.

Complicações e Manejo

Lesões do Ducto Biliar Comum (CBD)

As lesões do CBD são mais frequentes na colecistectomia laparoscópica (0,1% a 0,5%) em comparação com a aberta (0,2%). A perda de feedback tátil, a identificação incorreta da anatomia e o uso indevido de cautério contribuem para esse risco. A prevenção envolve técnicas de dissecção adequadas e obtenção da “vista crítica de segurança” antes de aplicar clipes no ducto cístico. Se a anatomia for difícil de visualizar, a colangiografia intraoperatória (IOC) é recomendada.

Colangiografia

Sangramento

O sangramento, particularmente no acesso inicial ao abdômen, pode ser fatal. Hemorragias na região da porta hepatis não devem ser tratadas laparoscopicamente; a conversão para laparotomia é muitas vezes necessária. Pequenas hemorragias podem ser controladas com clipes ou eletrocautério, mas é essencial garantir que estruturas vitais não foram lesadas.

Lesões Intestinais

Lesões intestinais podem ocorrer durante a criação do acesso abdominal, adesiólise ou dissecção da vesícula biliar. A lesão por eletrocirurgia deve ser reparada com sutura cuidadosa. A incidência de lesão visceral ou vascular por trocar ou agulha de Veress é de 0,2%.

Contaminação por Cálculo Biliar

O derramamento de cálculos biliares deve ser evitado. Pequenas pedras podem ser deixadas no abdômen sem preocupação, mas grandes pedras ou bile infectada exigem remoção cuidadosa. Em caso de derramamento significativo, a conversão para cirurgia aberta pode ser necessária para evitar abscessos intra-abdominais.

Cuidados Pós-Operatórios

Após uma colecistectomia laparoscópica não complicada, os cuidados pós-operatórios são simples. Os pacientes podem iniciar uma dieta líquida clara assim que acordam e, se não houver náuseas, passar para uma dieta regular. Alta hospitalar é geralmente possível poucas horas (24h) após a cirurgia. No entanto, os pacientes e seus familiares devem estar cientes de possíveis complicações pós-operatórias, como vazamento biliar, sangramento, pancreatite, perfuração intestinal, infecção da ferida e íleo.

Considerações Finais

A colecistectomia laparoscópica, apesar de ser um procedimento amplamente realizado, não está isenta de complicações. A familiaridade com a anatomia cirúrgica e a aplicação de técnicas de dissecção seguras são essenciais para minimizar riscos. Além disso, o manejo adequado das complicações, quando ocorrem, é crucial para garantir a segurança do paciente e o sucesso do procedimento.

“Primum non nocere” – Hipócrates

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Colecistectomia Subtotal: Uma Abordagem Segura para Situações Complexas

Introdução

A colecistectomia subtotal tem ganhado destaque como uma técnica cirúrgica vital em casos de colecistite severa, onde a dissecção completa da vesícula biliar é dificultada por inflamação intensa ou aderências extensas. Esta técnica é particularmente útil para estudantes de medicina, residentes de cirurgia geral e pós-graduandos em cirurgia do aparelho digestivo que buscam compreender abordagens alternativas em situações desafiadoras.

O que é Colecistectomia Subtotal?

A colecistectomia subtotal é uma técnica onde parte da vesícula biliar é deixada in situ, seja devido à dificuldade técnica ou risco aumentado de complicações ao tentar remover a vesícula biliar completamente. Existem duas variações principais: a colecistectomia subtotal fenestrada e a colecistectomia subtotal reconstituinte.

Vantagens e Desvantagens das Técnicas Subtotais

Fenestrada vs. Reconstituinte

A técnica fenestrada envolve deixar a base da vesícula biliar aberta para a cavidade peritoneal, enquanto a técnica reconstituinte fecha o lúmen da vesícula biliar na bolsa de Hartmann.

Vantagens da Técnica Fenestrada:

  1. Menor probabilidade de formar um remanescente da vesícula biliar.
  2. Redução da incidência de fístula biliar, que geralmente se resolve espontaneamente.
  3. Facilidade na drenagem de secreções biliares remanescentes.

Desvantagens da Técnica Fenestrada:

  1. Maior risco de fístulas biliares pós-operatórias, embora a maioria resolva sem intervenção.

Vantagens da Técnica Reconstituinte:

  1. Menor incidência de fístulas biliares imediatas.
  2. Fechamento seguro do lúmen, reduzindo o risco de vazamento biliar.

Desvantagens da Técnica Reconstituinte:

  1. Possibilidade de formação de remanescente da vesícula biliar, potencialmente sintomático a longo prazo.
  2. Requer maior habilidade técnica para fechar o lúmen da vesícula biliar de maneira eficaz.

Procedimento Cirúrgico

A técnica moderna de colecistectomia subtotal envolve abrir a vesícula biliar ao longo de seu eixo longitudinal e remover todas as pedras. O lúmen é cuidadosamente drenado e pode ser considerado o uso de colangiografia intraoperatória para visualizar possíveis pedras no ducto biliar comum. No caso da técnica fenestrada, a base da vesícula biliar é deixada aberta, com a borda cortada podendo ser suturada para prevenir vazamentos. Já na técnica reconstituinte, a abertura é fechada com suturas ou grampeadores, criando um remanescente fechado.

Considerações Finais

A decisão entre as técnicas fenestrada e reconstituinte deve ser baseada na avaliação intraoperatória e na experiência do cirurgião. Estudos comparativos diretos entre as técnicas são escassos, e o conhecimento atual é baseado em revisões e meta-análises que indicam a necessidade de mais pesquisas, especialmente com foco em seguimento a longo prazo.

Conclusão

A colecistectomia subtotal é uma técnica valiosa em situações complexas, oferecendo opções seguras para a remoção da vesícula biliar. A escolha entre a técnica fenestrada e a reconstituinte depende de vários fatores intraoperatórios, e ambos têm seus prós e contras. Com mais estudos e dados, será possível otimizar ainda mais essa técnica, garantindo segurança e eficácia para os pacientes.

“A cirurgia é a arte de trabalhar em um pequeno espaço, com grande precisão.” – Harvey Cushing

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Fatores Humanos na Lesão do Ducto Biliar na Colecistectomia Laparoscópica

A lesão do ducto biliar deve ser considerada evitável, mas em um estudo publicado no American Journal of Surgery em 2003, mais de 70% dos cirurgiões consideraram-na inevitável. Após as primeiras experiências com essas lesões no início dos anos 90, Hunter e Troidl propuseram várias técnicas para prevenir lesões: uso de telescópio de 30º, evitar diatermia próxima ao ducto hepático comum, dissecação próxima à junção vesícula biliar-ducto cístico, evitar dissecação desnecessária perto da junção ducto cístico-ducto hepático comum e conversão para abordagem aberta quando incerto. No entanto, para aplicar essas técnicas, é necessário interpretar corretamente a anatomia.

Prevenindo Erros de Identificação

Os erros de identificação são devidos à falha em alcançar a identificação conclusiva das estruturas císticas. O ducto cístico e a artéria cística são as únicas estruturas que requerem divisão durante a colecistectomia, portanto, o objetivo da dissecação é identificar essas estruturas conclusivamente. Existem vários métodos para identificar o ducto cístico. Na abordagem aberta, a exibição da confluência do ducto cístico com o ducto hepático comum para formar o ducto biliar comum era utilizada, mas não é considerada segura na abordagem laparoscópica. Na cirurgia laparoscópica, técnicas usadas incluem colangiografia intraoperatória, técnica infundibular e técnica da visão crítica.

A técnica infundibular é um método usado inicialmente para identificação ductal com base na demonstração tridimensional da forma de funil da extremidade inferior da vesícula biliar e do ducto cístico adjacente. Para obter essa visão, o ducto cístico é seguido até a vesícula biliar ou a extremidade inferior da vesícula biliar é rastreada até o ducto cístico. Quando a dissecação é completada, a união em forma de funil do ducto cístico com a vesícula biliar pode ser vista em três dimensões. A falácia dessa técnica é obter uma falsa “visão infundibular” quando o ducto biliar comum é seguido até uma massa inflamatória onde o ducto cístico está escondido. Essa ilusão visual ocorre especialmente na presença de inflamação aguda ou crônica severa, uma grande pedra no fundo de Hartmann, bandas adesivas entre a vesícula biliar e o ducto hepático comum e vesícula biliar intra-hepática.

Técnica da Visão Crítica de Segurança

A técnica da visão crítica de segurança, defendida por Strasberg, envolve a identificação tentativa dessas estruturas císticas por dissecação no triângulo de Calot, seguida pela dissecação da vesícula biliar do leito hepático. Nessa técnica, o triângulo de Calot é limpo de gordura e tecido fibroso, e após o destacamento da vesícula biliar, apenas duas estruturas estão conectadas à extremidade inferior da vesícula biliar: o ducto cístico e a artéria cística. Não é necessário ou recomendado que o ducto biliar comum seja visualizado. A falha em alcançar essa visão crítica é uma indicação absoluta para conversão ou possivelmente colangiografia para definir a anatomia ductal.

Desde sua introdução, essa técnica de visão crítica foi aceita por muitos cirurgiões pelos resultados superiores em minimizar lesões de ducto biliar. Averginos et al. em 2009 publicaram o resultado de 1046 colecistectomias sem lesão de ducto biliar usando a técnica da visão crítica. Apenas cinco pacientes tiveram vazamentos biliares transitórios no período pós-operatório, que cessaram dentro de 2 a 14 dias. Similarmente, Yegiyants e Collins analisaram o papel da visão crítica de segurança em 3.000 pacientes submetidos a colecistectomia eletiva e relataram uma lesão de ducto biliar, que ocorreu durante a dissecação do triângulo de Calot, antes de alcançar a visão crítica. Sanjay et al. em 2010 estudaram sua segurança em 447 colecistectomias realizadas para patologias biliares agudas e não relataram lesões de ducto biliar.

Colangiografia Intraoperatória e Outros Métodos

Outro método de identificação conclusiva das estruturas císticas é a colangiografia intraoperatória rotineira. Vários estudos prospectivos tentaram avaliar a utilidade da colangiografia intraoperatória na prevenção de lesões do ducto biliar comum. Uma meta-análise de 40 séries de casos detalhando 327.523 colecistectomias laparoscópicas e 405 lesões maiores foi realizada em 2002. A taxa de lesão foi reduzida pela metade no grupo de colangiografia intraoperatória rotineira (0,21%) em comparação com o grupo seletivo (0,43%). Além disso, no grupo seletivo, apenas 21,7% das lesões do ducto biliar comum foram detectadas intraoperatoriamente. Fletcher et al. descobriram que a colangiografia intraoperatória rotineira reduziu a incidência de lesão. No entanto, outros estudos sugerem que a gravidade, mas não a incidência de lesões biliares, é reduzida pela colangiografia intraoperatória rotineira.

Técnicas recentes para identificar corretamente a anatomia biliar incluem o uso de corantes. Ishizawa et al. relataram o uso de técnica de colangiografia fluorescente com a injeção intravenosa de verde de indocianina. A estrutura biliar foi delineada em todos os 52 pacientes estudados usando o sistema de imagem fluorescente. No entanto, o custo envolvido é um obstáculo para o uso generalizado. Similarmente, Sari et al. propuseram injetar azul de metileno na vesícula biliar após aspirar a bile com uma agulha de Varess antes de iniciar a dissecação.

Fatores Humanos na Lesão do Ducto Biliar

Embora uma instrução rigorosa nos princípios de técnica cirúrgica segura para colecistectomia seja essencial, pode ser igualmente importante desenvolver novas estratégias de treinamento que utilizem o conhecimento de fatores psicológicos na produção de erros. Esse é o enfoque dos fatores humanos descrito por Reason em “organizações de alta confiabilidade”, como o controle de tráfego aéreo e a indústria de energia nuclear. Nesses ambientes, profissionais altamente treinados realizam tarefas técnicas complexas e às vezes precisam tomar decisões rápidas em condições de incerteza, com consequências potencialmente desastrosas em caso de erros.

Conclusão

Lesões de ducto biliar lançaram uma sombra de apreensão sobre um procedimento maravilhoso como a colecistectomia laparoscópica. Milhões de pessoas já se beneficiaram desse avanço contra doenças da vesícula biliar. Portanto, para preservar esses benefícios, o cirurgião operatório deve estar ciente dos fatores responsáveis por essas lesões e tomar medidas apropriadas para preveni-las. Isso requer aderência estrita aos princípios de dissecação meticulosa, para que apenas estruturas positivamente identificadas sejam divididas. O uso rotineiro de colangiografias intraoperatórias e a conversão para procedimento aberto em caso de falha de progresso ou anatomia incerta podem reduzir significativamente esse infortúnio.

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Prevenção das Lesões Iatrogênicas das Vias Biliares na Colecistectomia Laparoscópica

As lesões iatrogênicas das vias biliares que ocorrem durante a colecistectomia se apresentam como um verdadeiro desafio cirúrgico. Estas lesões podem representar uma grande complicação no tratamento de doenças comuns como a colelitíase, que afeta aproximadamente 10% da população. A literatura continua a registrar níveis variando de 0,1% a 0,6% de lesões nas vias biliares em procedimentos laparoscópicos, mesmo em centros de referência.

A mudança de paradigma proporcionada pela laparoscopia é uma das principais explicações para o aumento da frequência de lesões iatrogênicas dos ductos biliares. O conhecimento incompleto da tecnologia e dos instrumentos, bem como o treinamento inadequado em habilidades cirúrgicas, determinam o aumento do número de lesões nos ductos biliares, associado ao aumento da gravidade e reparação inadequada. Tal conhecimento incompleto levou, em vez da cura da colecistectomia para colelitíase, ao surgimento de uma doença crônica com morbidade e mortalidade significativas: a lesão iatrogênica dos ductos biliares (aleijados biliares).

Em resumo, podemos dizer que o prognóstico de um paciente com lesão acidental das vias biliares depende crucialmente de dois fatores. O primeiro diz respeito ao grau de remanescente hepático e do ducto biliar no momento da reconstrução. O segundo, por sua vez, está relacionado à técnica de reconstrução do fluxo biliar. Se no primeiro caso o cirurgião não pode interferir, o mesmo não acontece com o segundo. Isso depende inteiramente dele. Deve-se enfatizar que o reconhecimento da lesão durante a cirurgia é muito importante, pois permite a reparação em melhores condições do que quando realizada no pós-operatório, na presença de coleperitônio, infecção ou fístula.

Lesões maiores podem contribuir para um impacto considerável na qualidade de vida, no estado funcional do fígado e na sobrevivência de pacientes jovens. As reconstruções cirúrgicas atuais visam restaurar o trânsito biliar por meio da anastomose biliodigestiva mucosa-mucosa, sem tensão.

Quando a perda de substância no ducto biliar é pequena, podemos realizar a reconstrução de extremidade a extremidade, desde que a sutura possa ser realizada sem tensão. Como na maior parte do tempo as bordas do trato biliar são removidas e/ou a porção distal não pode ser identificada, a reconstrução do trato biliar é feita, mais comumente, através de derivação do ducto biliar comum ou drenagem bileodigestiva com um segmento excluído de jejuno de aproximadamente 40 a 60 cm (reconstrução em Y de Roux). As lesões do trato biliar geralmente ocorrem perto do hilo hepático, tornando a reconstrução bileodigestiva muito difícil ou impossível. Além disso, está relacionada a maior incidência de câncer de ducto biliar a longo prazo, devido ao refluxo crônico de suco pancreático-biliar para a árvore biliar.

Em uma pesquisa realizada por Massarweh et al., com 1412 cirurgiões do American College of Surgeons, constatou-se que cirurgiões mais jovens e mais experientes que praticavam em hospitais universitários tinham um número estatisticamente menor de lesões iatrogênicas do ducto biliar.

O reconhecimento e a avaliação da gravidade das lesões nos ductos e comprometimento das estruturas vasculares, que podem ocorrer em até 32% dos pacientes, geralmente são feitos no período pós-operatório. Para uma extensão mais abrangente do problema, a angio-colangiografia por ressonância magnética tem sido muito útil ao considerar a extensão vascular das lesões. Tian Yu, com o objetivo de prevenir lesões no ducto biliar, relatou a realização de colecistectomia subtotal em 48 pacientes com colecistite aguda com inflamação no ducto cístico alto.

As lesões ocorrem com mais frequência durante os primeiros 100 casos de curva de aprendizado, associadas a casos agudos e ao uso de equipamentos inadequados. O uso da colangiografia pré-operatória rotineira na prevenção de lesões iatrogênicas do ducto biliar é controverso. A realização da colangiografia de rotina permite a identificação de lesões, mas não tem sido útil na prevenção de lesões. Portanto, a colangiografia tem se mostrado útil na detecção e reparo mais adequado.

Fatores relacionados à técnica cirúrgica estão diretamente ligados às lesões do trato biliar. Entre eles, na maioria dos casos, estão o sangramento da área cística do triângulo ou do trato biliar, a tração excessiva da vesícula biliar e a presença de variações anatômicas não reconhecidas.

Alguns marcos anatômicos do hilo hepático têm sido citados como parâmetros importantes para orientação durante a dissecção. O sulco de Rouvière deve ser identificado e a dissecção não deve ser feita abaixo da base do segmento IV e do ligamento hepatoduodenal. Acreditamos que a prevenção de lesões do trato biliar começa antes do procedimento, e algumas etapas devem ser seguidas rotineiramente:

  1. A equipe deve ter conhecimento dos equipamentos, utilizando ferramentas adequadas (câmera, monitor, insuflador e ótica de 30º);
  2. O paciente deve estar em uma boa posição, conforme a experiência da equipe;
  3. O anestesiologista deve ter experiência com procedimentos laparoscópicos;
  4. O cirurgião e os assistentes devem ter treinamento em simuladores e animais, e supervisão de cirurgiões mais experientes nos primeiros casos humanos;
  5. Bom conhecimento da anatomia das vias biliares e suas variações;
  6. Durante o procedimento, a tração e apresentação devem ser feitas de forma suave;
  7. Visualizar as estruturas biliares com tração inferior da vesícula biliar para cima e lateralmente (em direção ao ombro direito do paciente) com o infundíbulo puxado para baixo e para os lados, proporcionando o achatamento das estruturas e visualização clara do triângulo do trato biliar;
  8. A dissecção circular do infundíbulo cístico começa com a abertura do peritônio e adesões do triângulo posterior do trato biliar, utilizando bisturis e baixa frequência; o uso criterioso do cautério ou clipes durante a hemorragia é importante, limpando a área com gaze antes de proceder à secção ou ligadura final;
  9. Deve haver identificação prévia do ducto cístico, hepático e artérias císticas antes da clipagem e secção das estruturas, sendo essencial identificar a transição infundíbulo-cístico, começando da direita para a esquerda, e em caso de dúvida, antes da secção, deve-se realizar um estudo radiológico;
  10. A dissecção do fundo da vesícula biliar deve manter o eixo do plano (especialmente o infundíbulo) durante todo o procedimento e, necessariamente, o campo cirúrgico deve estar bem iluminado, sem sangue ou bile e com visualização do hilo hepático.

Como disse Lahey: “A primeira regra da cirurgia é saber quando não operar”.

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Lesão da Via Biliar na Colecistectomia Laparoscópica

A lesão da via biliar é uma complicação temida e frequentemente debilitante associada a procedimentos cirúrgicos no abdome superior, especialmente durante a colecistectomia. Com a crescente adoção da abordagem laparoscópica, houve um aumento na incidência dessas lesões, tornando crucial a compreensão de sua patogênese para melhorar os desfechos cirúrgicos e a segurança do paciente.

Colecistectomia Segura

Anomalias Anatômicas: O Campo Minado da Cirurgia Biliar

As variações anatômicas da árvore biliar são numerosas e frequentemente surpreendentes, mesmo para os cirurgiões mais experientes. Anomalias do ducto cístico e do ducto hepático direito, por exemplo, podem predispor a erros durante a dissecção. O ducto cístico pode se unir ao ducto hepático comum em posições altas ou baixas, e a ausência do ducto hepático direito em até 25% dos pacientes adiciona uma camada de complexidade. Além disso, a presença de ductos hepáticos direitos com trajetos prolongados e extra-hepáticos, conhecidos como ductos de Bismuth tipo 5, são particularmente vulneráveis durante a colecistectomia laparoscópica.

Erros Técnicos: A Principal Causa de Lesões

A maioria das lesões da via biliar é atribuída a erros técnicos ou à má interpretação da anatomia. Durante a colecistectomia laparoscópica, o cirurgião pode confundir o ducto biliar comum com o ducto cístico, resultando na ligadura e ressecção do ducto errado. Esse erro é mais comum em casos de inflamação aguda, onde a anatomia normal está distorcida. A utilização inadequada de equipamentos, como a eletrocauterização excessiva, também pode causar lesões térmicas aos ductos biliares, levando a estenoses biliares tardias.

Fatores Patológicos: Inflamação e Isquemia

Pacientes com colecistite aguda ou crônica apresentam maior risco de lesão da via biliar devido à inflamação intensa e fibrose na área do triângulo de Calot. Nesses casos, a dissecção torna-se desafiadora, com maior probabilidade de lesão do ducto hepático comum ou dos ductos hepáticos direitos. A dissecção excessiva pode interromper o fluxo sanguíneo axial dos ductos biliares, que é essencialmente suprido por pequenas artérias que correm ao longo das bordas laterais dos ductos. A interrupção desse fluxo pode resultar em estenoses biliares secundárias à isquemia.

Avanços na Imagem Pré-Operatória

A imagem pré-operatória avançada, como a colangiografia por ressonância magnética (RM) e a tomografia computadorizada (TC) colangiográfica, tem o potencial de reduzir a incidência de lesões da via biliar, identificando anomalias anatômicas antes da cirurgia. Estudos mostram que anomalias ductais direitas estão presentes em 4,8% a 8,4% da população geral. A adoção ampla dessas técnicas de imagem, embora custosa, pode ser justificada pela redução das complicações pós-operatórias.

Estratégias de Prevenção: A Chave para a Segurança

Para minimizar o risco de lesão da via biliar, é essencial que os cirurgiões adiram rigorosamente aos princípios básicos da colecistectomia segura. Isso inclui a visualização clara da anatomia relevante, a utilização de equipamentos de vídeo de alta resolução e assistência adequada para exposição e retração. Não se deve ligar ou dividir qualquer estrutura sem identificar claramente sua anatomia.

Em casos complexos, como aqueles com colecistite aguda, a conversão para uma abordagem aberta deve ser considerada quando a anatomia não pode ser claramente definida. A realização de uma colecistostomia parcial, removendo a vesícula biliar longe da junção do ducto cístico com o ducto hepático comum, pode ser uma abordagem mais segura em casos de inflamação severa.

Conclusão

A prevenção das lesões da via biliar exige uma combinação de conhecimento anatômico detalhado, habilidades técnicas refinadas e o uso judicioso de tecnologias avançadas. Como disse Lahey: “O cirurgião que não compreende as variações anatômicas da via biliar está condenado a causar danos.” Gostou? Nos deixe um comentário ✍️ , ou mande sua dúvida pelo 💬 Chat On-line em nossa DM do Instagram.


Visão Crítica de Segurança

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Prevenção da Lesão da Via Biliar

INTRODUÇÃO

Carl Langenbuch é creditado como o primeiro cirurgião a realizar uma colecistectomia aberta (CA) em 1882. Ele havia feito suas pesquisas em animais e cadáveres antes de realizar o primeiro procedimento em um ser humano. Langenbuch postulou que a remoção da vesícula biliar resultaria na extração dos cálculos biliares e do órgão que os produzia. Em 1985, E. Muhe, de Boblingen, Alemanha, realizou a primeira colecistectomia laparoscópica (CL), mas enfrentou grande oposição de seus colegas.

Três anos depois, um ginecologista francês, P. Mouret, realizou uma CL, o que influenciou F. Dubois e J. Perissat a desenvolverem suas técnicas para essa abordagem. A popularização dessa técnica nos Estados Unidos deve ser creditada a E.J. Reddick e D.O. Olsen, de Nashville, Tennessee, que realizaram seu primeiro caso em 1988 e estabeleceram os princípios da operação como ela é conhecida atualmente. Durante a década de 1990, foram descritas tentativas de reduzir ainda mais a abordagem laparoscópica minimamente invasiva para uma única incisão. O uso de trocartes e instrumentos de pequeno diâmetro, de 2 a 3 mm, conhecido como técnica de needlescopic, também foi experimentado. Nenhuma dessas técnicas ganhou aceitação geral devido à falta de benefícios comprovados.

A CL tornou-se o primeiro procedimento de uma revolução que mudou a maneira como a cirurgia abdominal estava sendo realizada. Nos 15 anos seguintes, uma abordagem laparoscópica foi relatada como viável para quase todos os procedimentos abdominais. Esse avanço resultou em um benefício significativo para o paciente na maioria dos procedimentos, devido às vantagens inerentes da técnica laparoscópica. Para a CL, no entanto, ainda há um risco aumentado de lesão do ducto biliar (LDB) em comparação com a agora histórica CA. O denominador comum na ocorrência de LDB é a falha em identificar claramente a anatomia do triângulo de Calot. Embora essa desvantagem persistente da CL não justifique a realização de uma CA, ela precisa ser continuamente abordada. Passos para prevenir LDB foram descritos nos primeiros anos da CL, e em 1995 Strassberg descreveu o termo “visão crítica de segurança” como o passo mais importante na prevenção de LDB durante o procedimento.

Passos Técnicos Importantes para Evitar Lesões do Ducto Biliar

A partir da técnica cirúrgica descrita, os principais passos para evitar lesões do ducto biliar (LDB) são:

  1. Máxima tração cefálica do fundo da vesícula biliar.
  2. Retração lateral e inferior (em direção ao pé direito) da bolsa de Hartmann, puxando-a para longe do fígado e evitando o alinhamento do ducto cístico com o ducto biliar comum.
  3. Inicie a dissecção na parte superior do colo da vesícula biliar e conduza-a de lateral para medial.
  4. Gire a bolsa de Hartmann medialmente para uma dissecção póstero-lateral da serosa da vesícula biliar.
  5. Liberte o colo da vesícula biliar do leito hepático, criando uma janela que seja tão grande quanto necessário para expor claramente a anatomia do triângulo de Calot e obter uma visão crítica de segurança.
  6. Coloque os clipes sob visualização direta de ambos os ramos em uma direção medial para lateral, a partir do porto subxifoide.
  7. Realize a colangiografia intraoperatória se houver quaisquer dúvidas sobre a anatomia biliar.
  8. Ao iniciar o descolamento subsequente da vesícula biliar do leito hepático, mantenha a dissecção próxima à parede da vesícula biliar e longe das estruturas do hilo do fígado. O uso criterioso de eletrocautério é recomendado.

Dicas e Truques para Evitar Complicações

  • Assuma que cada caso tem um ducto cístico curto e/ou outras anomalias anatômicas. O objetivo é a dissecção do ducto cístico começando na junção com a vesícula biliar.
  • Use a técnica da visão crítica de segurança para limpar o triângulo de Calot e individualizar, identificar e isolar completamente o ducto cístico e a artéria antes de dividi-los.
  • Durante toda a operação, sempre tenha em mente que sua interpretação da anatomia pode estar errada ou equivocada; isso serve como uma salvaguarda para prevenir lesões dos ductos biliares (LDBs).
  • Uma reação de pânico ao sangramento, resultando na aplicação de vários clipes ou cauterização em massa, leva ao desastre. A compressão, irrigação e sucção, e o uso de uma pinça de bico de pato para pegar o ponto de sangramento são recomendados. Esteja ciente do aumento de 16 vezes da visão laparoscópica.
  • Cuidado com a retração excessiva da bolsa de Hartmann, que pode levar à interpretação errada do ducto biliar comum como sendo o ducto cístico. Ao se deparar com um ducto cístico largo, a colangiografia é obrigatória para garantir que é o ducto cístico e não o ducto biliar comum. Para o fechamento, podem ser colocadas 2 suturas endoloop em vez de clipes de titânio regulares.

Diretrizes de Tóquio 2018: Passos Seguros Durante Colecistectomia para Colecistite Aguda

As Diretrizes de Tóquio 2018 (TG18) foram uma conferência de consenso com mais de 60 especialistas de todo o mundo. Um dos objetivos do TG18 foi estratificar a colecistite aguda por gravidade e recomendar o tratamento com base na severidade. Os passos seguros do TG18 durante a colecistectomia para colecistite incluem os seguintes:

  • Se a vesícula biliar estiver distendida e interferir na visão, ela deve ser descomprimida por aspiração com agulha.
  • Retração eficaz da vesícula biliar para desenvolver um plano na área do triângulo de Calot e identificar seus limites (contra-tração).
  • Iniciar a dissecção a partir da folha posterior do peritônio que cobre o colo da vesícula biliar e expor a superfície da vesícula biliar acima do sulco de Rouvière.
  • Manter o plano de dissecção na superfície da vesícula biliar durante toda a colecistectomia laparoscópica (CL).
  • Dissecar a parte inferior do leito da vesícula biliar (pelo menos um terço) para obter a visão crítica de segurança (CVS).
  • Criar a visão crítica de segurança (CVS).
  • Para hemorragia persistente, obter hemostasia principalmente por compressão e evitar o uso excessivo de eletrocautério ou clipes.

Lesão do Ducto Biliar (LDB) na Colecistectomia: Desafios e Prevenção

A lesão do ducto biliar (LDB) é uma complicação muito séria da colecistectomia. Após a curva de aprendizado inicial da laparoscopia (50 casos), estudos mais recentes indicam que as taxas de LDB durante a colecistectomia laparoscópica variam entre 0,08% e 0,5%, geralmente mais altas do que as taxas relatadas para a colecistectomia aberta (0,1%–0,2%). Contudo, a LDB pode ser subestimada em cirurgias abertas. A maioria das lesões de LDB (97%) resulta de erros na percepção visual, com falhas nas habilidades técnicas representando apenas 3%. Aproximadamente 25% das lesões são reconhecidas durante a operação inicial. Fatores que contribuem para lesões iatrogênicas incluem tração excessiva que distorce a anatomia, anomalias anatômicas, presença de inflamação, uso inadequado de cautério ou problemas relacionados ao controle de hemorragia intraoperatória, entre outros. Além disso, graus mais altos de gravidade da colecistite aguda estão associados a um maior risco de LDB. O manejo depende do momento em que a lesão é reconhecida, da localização da lesão e se há lesão vascular concomitante.

PREVENÇÃO DA LESÃO DO DUCTO BILIAR

Uma técnica cirúrgica adequada, conhecimento de possíveis anomalias anatômicas, obtenção da visão crítica de segurança e uso de colangiografia radiográfica e/ou fluorescente são medidas que ajudam a evitar a LDB. A visão crítica de segurança foi descrita por Strasberg e colegas como um método de identificação consistente do ducto cístico e da artéria. No entanto, pode ser difícil de obter em casos com inflamação severa. Consiste em cumprir 3 critérios: (1) o triângulo hepatocístico deve estar livre de gordura e tecido fibroso, (2) o terço inferior da vesícula biliar deve estar separado do fígado para expor a placa cística, e (3) dois e apenas dois estruturas devem ser vistas entrando na vesícula biliar. Essas duas estruturas devem ser visualizadas anteriormente e posteriormente com um laparoscópio angular ou “balançando” o fundo da vesícula. A visão crítica de segurança é amplamente apoiada pela opinião de especialistas como o método mais confiável de identificação anatômica, e, portanto, é recomendada como uma diretriz importante para colecistectomias laparoscópicas.

Se houver incerteza sobre a anatomia biliar ou suspeita de anomalias anatômicas, a colangiografia via vesícula biliar ou ducto cístico deve ser usada, se possível, para esclarecer as estruturas. Relatórios mostram que o uso de colangiografia pode reduzir o risco de lesões do ducto biliar, embora alguns estudos não tenham encontrado associação. No entanto, se uma lesão biliar for suspeitada intraoperatoriamente, a colangiografia intraoperatória é eficaz para aumentar as chances de reconhecimento precoce, melhorando os resultados no tratamento da LDB. A Sociedade Americana de Cirurgiões Gastrointestinais e Endoscópicos recomenda o “uso liberal” de colangiografia ou outras modalidades para delinear com precisão a anatomia cirúrgica. Alguns defensores sugerem o uso rotineiro de colangiografia, citando não apenas uma menor taxa de LDB, mas também a prevenção de lesões excisionais mais graves. A anatomia biliar também pode ser visualizada usando ultrassonografia intraoperatória, se a experiência estiver disponível.

Conclusão

A colecistectomia é um dos procedimentos da cirurgia do aparelho digestivo que mais comumente são realizados em todo o mundo, mas pode estar repleta de potenciais problemas. O Safe Cholecystectomy Task Force da Sociedade Americana de Cirurgiões Gastrointestinais Endoscópicos identificou vários fatores importantes para garantir a segurança na colecistectomia laparoscópica:

  • Estabelecimento da visão crítica de segurança
  • Compreensão da anatomia
  • Obtenção de exposição adequada
  • Solicitação de ajuda a um colega mais experiente
  • Reconhecimento de quando converter ou abandonar o procedimento

As complicações após a colecistectomia incluem lesões ou vazamentos do ducto biliar, sangramento, lesões vasculobiliares combinadas, cálculos biliares retidos, cálculos biliares derramados, abscessos, estenoses, hérnias e síndrome pós-colecistectomia (PCS). Embora as taxas dessas complicações sejam geralmente muito baixas, a conscientização e uma alta suspeita clínica quando um paciente apresenta sintomas semanas, meses ou anos após a colecistectomia podem ajudar no diagnóstico e tratamento adequado.

Ductos Subvesicais (ductos de Luschka)

Introdução A doença da vesícula biliar continua sendo uma das condições cirúrgicas mais comuns nas sociedades ocidentais, e a colecistectomia minimamente invasiva é um dos procedimentos cirúrgicos mais frequentes. Um princípio fundamental da anatomia cirúrgica é a variabilidade estrutural da árvore biliar. Uma variação anatômica comum com implicações cirúrgicas é o ducto subvesical, erroneamente chamado de “ducto de Luschka”. No texto anatômico de Herbert von Luschka, ele descreveu glândulas intra-murais que drenam para o lúmen da vesícula biliar, bem como uma rede de ductos microscópicos no tecido mole ao redor da vesícula, e não ductos biliares subvesicais.

Importância Clínica e Risco de Lesões A importância clínica do ducto subvesical reside no risco potencial de lesão durante a colecistectomia e procedimentos hepatobiliares. Vazamentos biliares ocorrem em aproximadamente 0,2-2% das colecistectomias minimamente invasivas. Lesões inadvertidas e não detectadas do ducto subvesical são uma causa frequente de vazamentos biliares, sendo responsáveis por até 27% dos vazamentos.

Classificação dos Ductos Subvesicais Schnelldorfer et al. categorizaram os ductos subvesicais em:

  1. Ductos biliares subvesicais segmentares ou setoriais
  2. Ductos biliares subvesicais acessórios
  3. Ductos biliares hepato-cisto-vesiculares
  4. Ductos biliares subvesicais aberrantes

Princípio da Visão Crítica de Segurança O princípio da visão crítica de segurança é utilizado para identificar o ducto cístico e a artéria durante a colecistectomia laparoscópica, prevenindo a identificação errônea do ducto biliar comum ou ductos aberrantes como o ducto cístico. Para alcançar a visão crítica de segurança, três condições devem ser atendidas: primeiro, o triângulo hepatocístico deve ser limpo de gordura e tecido fibroso; segundo, o terço inferior da vesícula biliar deve ser separado do fígado para expor a placa cística; e finalmente, apenas duas estruturas devem ser vistas entrando na vesícula biliar.

Detecção Pré-operatória e Técnicas Avançadas Ductos subvesicais podem ser representados preoperativamente com técnicas de imagem especializadas. No entanto, a imagem pré-operatória padrão (principalmente a ultrassonografia) não detectará esses ductos na maioria dos casos. Uma dissecção cuidadosa durante a colecistectomia utilizando o princípio da visão crítica de segurança, bem como a laparoscopia de alta definição, pode permitir a detecção, dissecção e controle intraoperatórios dos ductos subvesicais. O uso da laparoscopia tridimensional (3D) pode melhorar a percepção de profundidade do cirurgião, facilitando a identificação da anatomia biliar normal e aberrante. A colangiografia intraoperatória fluorescente com verde de indocianina (ICG) foi descrita por Ishizawa et al., e seu uso levou à identificação de ductos biliares aberrantes durante a colecistectomia laparoscópica.

Identificação Intraoperatória de Vazamentos Biliares A importância da identificação intraoperatória de vazamentos biliares também deve ser enfatizada. A tecnologia avançada disponível atualmente pode ser utilizada para identificar e prevenir vazamentos biliares significativos associados à colecistectomia.

Anatomia e Variações do Ducto Cístico O ducto cístico geralmente tem 2-4 cm de comprimento e 2-3 mm de diâmetro. Ele se junta ao ducto hepático comum em diferentes configurações, sendo a mais comum uma inserção angular em 75% dos casos, seguida por uma inserção paralela em 20% e uma inserção espiral em 5% dos casos. O ducto cístico pode ocasionalmente se juntar ao ducto hepático direito ou ao ducto setorial direito em 0,6-2,3% dos casos. É raramente ausente, mas mais frequentemente a ausência se deve a um encurtamento inflamatório ou erosão por um cálculo, como na síndrome de Mirizzi. Para uma colecistectomia segura, é importante exibir sua junção com a vesícula biliar, em vez do ponto de inserção no ducto biliar comum.

Ducto Subvesical e Suas Variações O ducto subvesical, localizado próximo ao leito da vesícula biliar, está presente em 34,5% dos casos. Uma revisão mais recente relatou uma incidência de 3-10%. O diâmetro médio do ducto geralmente é inferior a 2 mm. Quatro tipos de ductos foram identificados:

  1. Ducto segmentar ou setorial: Ducto segmentar posterior direito que corre próximo ao leito da vesícula biliar para se juntar ao ducto principal.
  2. Ducto acessório: Surge do ducto segmentar anterior ou posterior direito e drena no ducto principal.
  3. Ducto hepato-cisto-vesicular: Drena na vesícula biliar.
  4. Série de ductos minúsculos que terminam cegamente no tecido conjuntivo do leito da vesícula biliar.

Conclusão A identificação e manejo adequado das variações anatômicas da árvore biliar, como os ductos subvesicais, são essenciais para prevenir lesões durante a colecistectomia laparoscópica. Técnicas avançadas e uma abordagem cirúrgica meticulosa são fundamentais para garantir a segurança do paciente e a eficácia do procedimento.

Colecistectomia Segura: Preditores de Dificuldade Técnica

Introdução

A colecistectomia laparoscópica é amplamente reconhecida por suas vantagens sobre a colecistectomia aberta, incluindo redução da dor pós-operatória, estadias hospitalares mais curtas e tempos de recuperação mais rápidos. No entanto, a transição para técnicas laparoscópicas introduziu um maior risco de lesões do ducto biliar, com incidências relatadas sendo duas a três vezes maiores do que em procedimentos abertos. Dadas as graves consequências associadas à LDB, identificar preditores de colecistectomia difícil e implementar estratégias de manejo apropriadas são cruciais para melhorar os resultados dos pacientes.

Preditores Pré-operatórios de Colecistectomia Difícil

Gênero: O gênero masculino é um preditor significativo de colecistectomia difícil. Análises retrospectivas indicam taxas mais altas de aderências, desafios anatômicos, taxas de conversão e inflamação aguda ou crônica em pacientes do sexo masculino. Fatores contribuintes possíveis incluem a consulta médica tardia e a colecistite recorrente, levando a um aumento da fibrose. Além disso, diferenças fisiológicas, como maior massa muscular e menor circunferência torácica, podem complicar o procedimento.

Idade: A idade avançada (acima de 65-70 anos) está associada a taxas de conversão mais altas devido a históricos mais longos de doença calculosa biliar e frequentes ataques de colecistite. Apesar desses desafios, a colecistectomia laparoscópica em pacientes idosos geralmente resulta em menos complicações em comparação com procedimentos abertos.

Obesidade: O IMC mais alto introduz várias dificuldades técnicas, como obter acesso para a criação do pneumoperitônio, retração do fundo da vesícula biliar e dissecação do triângulo de Calot em um ambiente com excesso de gordura. Pacientes obesos também necessitam de cuidados anestésicos e de enfermagem especializados. Embora se notem tempos operatórios aumentados e taxas de conversão mais altas, a colecistectomia laparoscópica ainda oferece menor morbidade pós-operatória em comparação com a colecistectomia aberta.

Histórico de Colecistite Aguda, Colangite, Pancreatite e Icterícia: Essas condições levam a cicatrizes e fibrose, complicando a delineação anatômica e a dissecação. A colecistite recorrente pode encurtar o ducto cístico, fazendo com que a vesícula biliar pareça drenar diretamente no ducto biliar comum (DBC). A pancreatite aguda, embora não afete diretamente a vesícula biliar, pode causar aderências que dificultam a exposição operatória. A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) prévia com stent também pode contribuir para dificuldades intraoperatórias.

Cirrose: A cirrose hepática apresenta um risco significativo de hemorragia devido a colaterais dilatados no triângulo de Calot, coagulopatia e trombocitopenia. A menor complacência do fígado fibroso complica ainda mais a retração da vesícula biliar e a exposição do triângulo de Calot. O uso de tesouras ultrassônicas e a manutenção de uma hemostasia meticulosa são essenciais nesses casos.

Laparotomia Anterior: Cirurgias abdominais anteriores, especialmente múltiplos procedimentos abdominais superiores, frequentemente resultam em aderências, complicando o acesso ao local operatório. O planejamento pré-operatório para o acesso peritoneal e o aconselhamento do paciente sobre a possibilidade de conversão são imperativos.

Fatores Intraoperatórios que Predizem Dificuldade

Aderências densas, vesícula biliar tensa (mucocele/empiema), colecistite aguda, anatomia pouco clara, triângulo de Calot congelado, síndrome de Mirizzi, fístula colecistoentérica, vesícula biliar intra-hepática e cálculos biliares grandes complicam significativamente a colecistectomia laparoscópica. O nível de dificuldade varia com a experiência do cirurgião. Aderências no triângulo de Calot, em particular, apresentam o maior risco de conversão para cirurgia aberta.

Estratégias de Manejo

Acesso Difícil: Locais alternativos para a criação do pneumoperitônio, como o ponto de Palmer, podem ser utilizados em pacientes com cirurgias abdominais superiores anteriores ou obesidade. As aderências devem ser abordadas com dissecação afiada ou métodos rombos, dependendo de sua densidade.

Estratégias de Resgate: Em casos em que a dissecção segura não é viável, estratégias como colecistectomia subtotal, colecistectomia do fundo para a tríade, colecistostomia tubular ou conversão para cirurgia aberta são recomendadas. A colangiografia intraoperatória ou ultrassonografia laparoscópica podem auxiliar na compreensão da anatomia biliar.

Síndrome de Mirizzi e Fístula Colecisto-colédoco: O manejo depende do tipo de síndrome de Mirizzi. A colecistectomia total ou subtotal é tipicamente suficiente para o Tipo I, enquanto casos mais complexos (Tipos II-IV) podem necessitar de coledocoplastia ou anastomose bilioentérica.

Conclusão

A transição para a colecistectomia laparoscópica, embora benéfica, introduz maiores riscos de complicações, como a lesão do ducto biliar. Identificar preditores pré-operatórios e intraoperatórios de colecistectomia difícil é essencial para planejar e executar intervenções cirúrgicas seguras. Os cirurgiões devem estar preparados para implementar várias estratégias de manejo para minimizar os riscos e garantir a segurança do paciente. Como Lahey afirmou apropriadamente, “O cirurgião que vê diante de si apenas a anatomia normal enfrentará mais dificuldades.”

Colecistectomia Segura: Plano R4U

Introdução A colecistectomia laparoscópica (CL) é um procedimento comum, mas a variação anatômica dos ductos biliares extra-hepáticos e a identificação incorreta de estruturas podem levar a complicações graves, como lesões biliares. A identificação precisa de marcos anatômicos, como o sulco de Rouvière (SR), é essencial para a segurança do procedimento. A técnica do Critical View of Safety (CVS) é amplamente recomendada para minimizar esses riscos, utilizando marcos anatômicos confiáveis como o SR para orientar a dissecção.

Terminologia Na literatura cirúrgica e anatômica, o SR é referido por diferentes nomes, incluindo incisura dextra de Gans e le sillon du processus caudé. Rouvière foi o primeiro a nomeá-lo “le sillon du processus caudé”, e na anatomia cirúrgica é amplamente conhecido como sulco de Rouvière.

Relevância Anatômica e Cirúrgica Os textos anatômicos clássicos não incluem dados consistentes sobre o SR. Estudos relatam a presença do SR em 68% a 80% dos fígados. A importância de identificar o SR reside no fato de que o ducto cístico e a artéria cística estão localizados anterossuperiormente ao sulco, enquanto o ducto biliar comum (CBD) está abaixo do nível do SR. Dissecções iniciadas ventralmente ao SR demonstraram menor incidência de lesões ao CBD. Além disso, o SR é crucial para realizar ressecções hepáticas segmentares ou seccionais direitas com segurança.

Resultados As variações anatômicas da árvore biliar extra-hepática são comuns e podem complicar a identificação das estruturas durante a CL. O SR, identificado em aproximadamente 83% dos casos, serve como um marco anatômico essencial para a dissecção segura. Estudos mostram que o SR, o ducto hepático comum (CHD) e o CBD geralmente estão no mesmo plano, o que facilita a orientação cirúrgica.

Discussão A técnica do CVS durante a CL visa evitar lesões identificando corretamente os limites anatômicos seguros. O SR é um ponto de referência crítico, especialmente em casos de vesícula biliar difícil. Quando o SR está ausente ou obscurecido por aderências inflamatórias, a linha R4U (uma linha que se estende da fissura umbilical para a direita do hilo hepático) pode ser utilizada para construir um plano seguro de dissecção.

A análise de variações anatômicas da árvore biliar extra-hepática revela uma alta incidência de configurações não típicas, com estudos indicando que até um terço dos pacientes apresentam tais variações. Essas variações podem incluir a união separada dos ductos hepáticos direito e esquerdo com o CHD ou o CBD, bem como a presença de ductos segmentares independentes que se unem diretamente ao CHD. A identificação correta dessas variações é fundamental para evitar lesões biliares durante a dissecção.

A aplicação do SR como referência anatômica demonstrou ser altamente eficaz na orientação da dissecação durante a CL. A utilização do SR, aliada à técnica CVS, mostrou-se especialmente útil em casos complicados, onde a inflamação ou aderências dificultam a visualização das estruturas anatômicas normais. Nos casos em que o SR está ausente ou obscurecido, a linha R4U foi utilizada como uma alternativa eficaz para estabelecer um plano seguro de dissecção. A aplicação dessa linha permitiu a realização de colecistectomias seguras, mesmo em situações anatômicas desafiadoras. No entanto, a eficácia da linha R4U depende da experiência do cirurgião e de seu conhecimento detalhado da anatomia hepática, destacando a importância do treinamento contínuo em técnicas de segurança cirúrgica.

Conclusão A identificação correta das variações anatômicas da árvore biliar extra-hepática e o uso de marcos anatômicos como o SR são fundamentais para a segurança da CL. A aplicação da técnica CVS, aliada ao reconhecimento dessas variações, reduz significativamente o risco de lesões biliares.

Referências

  1. Strasberg, S. M., et al. “The Critical View of Safety in Laparoscopic Cholecystectomy.”
  2. Hugh, T. B. “Anatomical Landmarks for Safe Laparoscopic Cholecystectomy.”
  3. Zubair, M., et al. “Anatomical Variations in the Extrahepatic Biliary Tree.”
  4. Couinaud, C. “Segmental Anatomy of the Liver.”
  5. Rouvière, H. “Le sillon du processus caudé.”
  6. Reynaud, C., Coucoravas, G., Giuly, J., et al. “Incisura Dextra de Gans.”
  7. Hugh, T. B. “Minimal Common Bile Duct Injury During Laparoscopic Cholecystectomy.”
  8. Gans, H. “Incisura Dextra in Classic Anatomical Literature.”

Variações Anatômicas da Árvore Biliar Extra-Hepática no Contexto da Colecistectomia Laparoscópica

Introdução A compreensão das variações anatômicas dos ductos biliares extra-hepáticos é essencial para a realização segura da colecistectomia laparoscópica. A terminologia frequentemente utilizada para descrever essas variações inclui termos como “acessório”, “anômalo” e “aberrante”. Entretanto, essas variações são naturais e suficientemente frequentes para serem antecipadas pelo cirurgião atento. A preferência é pelo termo “duto variante”.

Marcos Anatômicos Gerais para a Orientação

Durante a colecistectomia laparoscópica, é crucial reconhecer marcos anatômicos adjacentes para evitar lesões. O ligamento falciforme situa-se entre os segmentos hepáticos 3 e 4, e o ducto hepático comum (DHC) está próximo ao plano mediano do fígado entre os segmentos 4 e 5. O sulco de Rouvière é uma fissura que contém porções do pedículo portal direito e demarca o plano ventral-dorsal do ducto biliar comum (DBC), auxiliando na orientação durante a dissecção.

Anatomia dos Ductos Hepáticos Direitos

Na configuração mais comum, o ducto hepático seccional anterior direito (segmentos 5 e 8) e o ducto hepático seccional posterior direito (segmentos 6 e 7) unem-se para formar o ducto hepático direito (DHD), que se junta ao ducto hepático esquerdo para formar o DHC. Essa anatomia ocorre em 57-72% dos indivíduos. Em 15-30% dos casos, os ductos seccionais direito anterior e posterior não se unem, cada um tendo uma junção separada com o DHC ou o ducto hepático esquerdo, aumentando o risco de lesão durante a cirurgia.

Ductos Subvesicais

Os ductos subvesicais, localizados superficialmente no leito da vesícula biliar, são a fonte mais comum de vazamento biliar pós-operatório. Observados em cerca de um terço dos espécimes humanos, esses ductos, geralmente originários do segmento 5, drenam para o ducto hepático direito, o DHD ou o DHC. A dissecção deve ser mantida fora do fígado sempre que possível para evitar lesões.

Anatomia do Ducto Cístico

O ducto cístico geralmente se junta ao DHC, com a localização da junção variando do hilo hepático à área pré-ampular. Configurações paralelas e espirais do ducto cístico são comuns e representam fatores de risco significativos para lesões durante a colecistectomia. Fusão inflamatória e contração do ducto cístico são situações de alto risco.

A variabilidade anatômica dos ductos biliares extra-hepáticos requer uma abordagem cuidadosa durante a colecistectomia laparoscópica para evitar lesões. O conhecimento detalhado das possíveis variações e a identificação precisa dos marcos anatômicos são fundamentais para o sucesso cirúrgico. As variações anatômicas dos ductos biliares são frequentes e devem ser esperadas pelos cirurgiões. A terminologia adequada e o reconhecimento dessas variações são cruciais para prevenir lesões durante a colecistectomia laparoscópica. Como afirmou Lahey: “A variação anatômica é a regra, não a exceção.”

Referências

  1. Michels, NA. “Every duct drains a definite segmental area of the liver.”
  2. Strasberg, SM. “Anatomic and historical basis of variations in bile ducts.”
  3. Bismuth, H. “Variations in the anatomy of the extrahepatic bile ducts.”

Diferenciação Morfológica do Ducto Cístico e do Ducto Colédoco no Contexto da Colecistectomia Laparoscópica

Introdução

Na cirurgia laparoscópica, a precisão na identificação e dissecação das estruturas anatômicas é fundamental para a prevenção de lesões iatrogênicas da via biliar. O conhecimento detalhado das variações anatômicas do ducto cístico e do ducto colédoco é essencial para evitar complicações graves. Conforme disse Lahey em 1954: “Cholecystectomy is a dangerous operation unless one realizes that variations are very common.” Assim, a terminologia anatômica deve ser correta, consistente e padronizada para evitar mal-entendidos.

Anatomia Normal

O ducto cístico conecta a vesícula biliar ao ducto hepático comum, formando o ducto colédoco. Este último é a principal via de passagem da bile do fígado para o duodeno. A correta identificação dessas estruturas é crucial durante a colecistectomia para evitar lesões.

Dimensões e Diâmetro

O ducto cístico geralmente tem um comprimento de 2-4 cm e um diâmetro de 1-5 mm. Já o ducto colédoco mede aproximadamente 6-8 cm de comprimento e tem um diâmetro que varia de 4-10 mm.

Trajeto e Topografia

O ducto cístico apresenta um trajeto sinuoso, que pode variar significativamente entre os pacientes. Ele se une ao ducto hepático comum para formar o ducto colédoco, que desce posteriormente ao duodeno até a ampola de Vater. A topografia dessas estruturas é fundamental para a correta dissecação durante a cirurgia.

Vascularização

O ducto cístico é irrigado principalmente pela artéria cística, um ramo da artéria hepática direita. O ducto colédoco, por sua vez, recebe irrigação de pequenos ramos axiais das artérias hepática direita, gástrica direita e pancreatoduodenal onde 60% é inferior e 40% é superior.

Epônimos e Terminologia Correta

Historicamente, a anatomia hepato-biliar tem sido confundida por diferentes nomenclaturas e epônimos imprecisos. O termo “triângulo de Calot”, descrito por Jean-Francois Calot em 1890, refere-se à área limitada pelo ducto cístico, o ducto hepático comum e a artéria cística. No entanto, o triângulo de Calot não é uma definição anatomicamente precisa, sendo preferível o termo “triângulo hepatocístico”, que é delimitado pelo ducto cístico e a vesícula biliar, o ducto hepático comum e a borda do fígado. Esta é uma área crítica onde ductos hepáticos direitos e a artéria hepática direita podem ser encontrados, sendo comumente obscurecida por inflamação aguda ou crônica.

Principais Variações Anatômicas e Suas Incidências

As variações anatômicas são comuns e devem ser antecipadas. Cerca de 20% dos ductos císticos seguem um trajeto paralelo ao ducto hepático comum, compartilhando uma bainha comum de tecido conjuntivo. Outros 5-10% têm um curso espiralado, cruzando o ducto hepático comum de forma ventral ou dorsal. As variações no trajeto e na união dos ductos são fatores de risco significativos para lesões durante a cirurgia.

Idiotopia em Relação ao Duodeno e Holotipia em Relação à Tríade Portal

O ducto colédoco passa diretamente atrás do duodeno, uma característica que o diferencia do ducto cístico durante a dissecção. Em relação à tríade portal, o ducto cístico e o ducto colédoco são componentes críticos, juntamente com a artéria hepática e a veia porta, sendo importantes marcos anatômicos para a orientação cirúrgica.

Sintopia Entre Eles

A relação espacial entre o ducto cístico e o ducto colédoco é complexa e varia com a inflamação e a dissecção cirúrgica. Durante a colecistectomia, a visualização clara do “triângulo hepatocístico” é fundamental para identificar corretamente o ducto cístico e evitar danos ao ducto colédoco.

Conclusão

O entendimento detalhado das variações anatômicas do ducto cístico e do ducto colédoco é crucial para a realização segura da colecistectomia laparoscópica. A aplicação do conceito da “vista crítica de segurança” ajuda a minimizar os riscos de lesões. Portanto, a terminologia precisa e o conhecimento das variações anatômicas são fundamentais para a prática cirúrgica segura.

Colecistectomia Laparoscópica Segura

Histórico

A primeira colecistectomia laparoscópica foi realizada por Mouret em Lyon, em 1988, com o primeiro relato escrito por Dubois em 1989. Reddick popularizou o procedimento nos Estados Unidos em 1990.

Indicações e Contraindicações

Indicações:

  • Mesmas da colecistectomia aberta.
  • O cirurgião deve estar adequadamente treinado para realizar o procedimento.
  • Manifestações de cálculos biliares sintomáticos: cólica biliar, histórico de icterícia, colecistite crônica e aguda.
  • Pancreatite por cálculos biliares.
  • Colecistite acalculosa.
  • Pólipos grandes na vesícula biliar.

Contraindicações:

  • Não há contraindicações absolutas.
  • Contraindicações relativas incluem cirrose, hipertensão portal, diátese hemorrágica e gravidez, podendo requerer modificações técnicas.

Investigação Pré-operatória e Preparação

  • Testes de Função Hepática: Essenciais para avaliar a função hepática.
  • Ultrassonografia: Tipicamente realizada para avaliar a condição da vesícula biliar.
  • Estudos Nucleares: Utilizados para avaliar a função da vesícula biliar na colecistite acalculosa.
  • Tomografia Computadorizada (TC): Necessária se houver suspeita de câncer na vesícula biliar ou grandes pólipos.
  • CPRE (Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica): Não realizada rotineiramente no pré-operatório.
  • Antibióticos Profiláticos: Administrados na indução.
  • Medidas Antitrombóticas: Devem ser tomadas medidas preventivas adequadas.

Variações Anatômicas

  • As principais variações anatômicas envolvem o ducto biliar comum e a artéria hepática direita.
  • Variações do Ducto Biliar Comum: Um ducto biliar comum muito pequeno pode ser confundido com o ducto cístico e excisado.
  • Variações de Junção dos Ductos Hepáticos: Junções baixas dos ductos hepáticos ou aberturas diretas da bolsa de Hartmann podem levar à identificação e divisão incorreta dos ductos.
  • Ausência de Ducto Cístico: Em alguns casos, a bolsa de Hartmann se abre diretamente no ducto hepático direito ou no ducto comum, complicando o procedimento.

Complicações Intraoperatórias

  • Hemorragia: Geralmente ocorre de uma artéria cística curta ou da artéria hepática direita. A hemorragia da veia porta é rara, mas torrencial, exigindo conversão imediata para cirurgia aberta.
  • Falha de Progressão: Se o procedimento não está progredindo, deve ser convertido para colecistectomia aberta.
  • Lesão do Ducto Biliar: Técnicas adequadas e conversão oportuna para cirurgia aberta minimizam o risco. Consultar imediatamente um especialista em hepatobiliar se ocorrer uma lesão.

Complicações Pós-operatórias

  • Fugas Biliares: A maioria é de baixo volume e resolve-se espontaneamente. Fugas de alto volume requerem CPRE para avaliação e manejo.
  • Coleção Subfrênica: Pode necessitar de drenagem percutânea.
  • Pneumonia: Tratada com fisioterapia e antibióticos.
  • Icterícia: Indica obstrução ou lesão maior do ducto, necessitando de CPRE ou encaminhamento a um especialista.

Dicas do Cirurgião Sênior

  • Hipertensão Portal e Cirrose: Considerar colecistectomia parcial para evitar hemorragias com risco de vida.
  • Colecistite Aguda Severa: Descomprimir a vesícula biliar aspirando seu conteúdo para torná-la mais manejável.
  • Cálculo Impactado na Bolsa de Hartmann: Empurrar o cálculo de volta para a vesícula biliar para permitir a manipulação segura do triângulo de Calot.

Técnicas Específicas

Ilustração da Técnica:

  1. Posicionamento dos Instrumentos: A vesícula biliar é levantada em direção cefálica com um primeiro fórceps inserido pelo portal na linha médio-clavicular, logo abaixo do rebordo costal, para segurar o pescoço da vesícula. Um segundo fórceps é inserido pelo portal na linha axilar anterior para empurrar o cólon e o duodeno para baixo, liberando o campo de visão.
  2. Incisão na Serosa: A incisão na serosa sobre a junção do ligamento hepatoduodenal é estendida paralelamente a uma linha a 5 mm da borda do fígado, melhorando a visualização do triângulo de Calot.
  1. Manobras de Tração: O pescoço da vesícula é retraído para baixo e a serosa é retraída para cima com o segundo fórceps, criando contra-tração e ampliando a visualização do triângulo de Calot. Isso também evita lesões térmicas desnecessárias na superfície do fígado.
  2. Dissecção e Identificação: Tecidos adiposos e bandas fibrosas são removidos até que a relação anatômica entre o ducto cístico e a artéria cística seja clara. A eletrocauterização é usada com cautela para evitar lesões térmicas no ducto biliar comum.
  3. Colangiografia Intraoperatória: Protagonistas da colangiografia intraoperatória sugerem que essa investigação pode minimizar o risco de lesão do trato biliar extra-hepático, fornecendo um registro anatômico preciso. No entanto, a dissecção cuidadosa e a identificação dos ductos são essenciais.

Complicações durante a Colecistectomia Laparoscópica:

  • Cálculos Múltiplos e Aderências: Podem dificultar o procedimento e aumentar o risco de complicações, como lesões térmicas em órgãos adjacentes.
  • Hemorragia e Fugas Biliares: A hemorragia deve ser controlada com coagulação ou clipes, e as fugas biliares são geralmente geridas com endoloop após aspiração da bile.
  • Extração de Cálculos: Cálculos que escapam devem ser removidos com fórceps para prevenir abscessos intra-abdominais.

Conclusão

A colecistectomia laparoscópica é um procedimento padrão com indicações específicas. A preparação pré-operatória, conhecimento das variações anatômicas e técnicas cirúrgicas meticulosas são cruciais para o sucesso. O manejo eficaz das complicações intra e pós-operatórias garante a segurança e a recuperação do paciente.

Lesão da Via Biliar Durante a Colecistectomia

A lesão da via biliar é uma complicação significativa tanto na colecistectomia aberta quanto na laparoscópica. Na colecistectomia aberta, o risco é de aproximadamente 1 em 1000 casos. No entanto, na colecistectomia laparoscópica as taxas de lesão da via biliar comum variam entre 0,2% e 3%.

Popularidade da Colecistectomia Laparoscópica

Apesar do maior risco de lesão na colecistectomia laparoscópica, sua popularidade continua a crescer entre cirurgiões e o público em geral. Este aumento se deve aos benefícios percebidos, como menor dor pós-operatória, cicatrizes menores e recuperação mais rápida. No entanto, essas vantagens podem ser rapidamente anuladas por uma única lesão da via biliar.

Fatores de Risco e Procedimentos

Estudos, como o de Easter e Moossa, mostraram que a dissecção a laser está associada a um maior risco de lesão em comparação com o uso de eletrocautério. As lesões ocorrem frequentemente devido à dificuldade de visualização clara do campo operatório, exacerbada por inflamação, cicatrizes ou sangramento na região do triângulo de Calot.

Diferenças na Tração Durante a Cirurgia

Durante a colecistectomia aberta, as forças opostas aplicadas ao fígado e ao duodeno tendem a alinhar o ducto biliar comum de maneira a minimizar sua angulação. Em contraste, na colecistectomia laparoscópica, a tração lateral e cefálica na vesícula biliar pode fazer com que o ducto cístico e o ducto biliar distal fiquem alinhados no mesmo plano, aumentando o risco de confusão anatômica e lesão inadvertida do ducto hepático comum.

Estratégias de Prevenção

Para minimizar o risco de lesões, recomenda-se uma tração lateral do fundo da vesícula biliar e uma dissecção cuidadosa no nível do infundíbulo antes da aplicação de clipes ou divisão das estruturas no triângulo de Calot. A colangiografia intraoperatória é fundamental sempre que houver dúvida sobre a anatomia, pois pode ajudar a identificar anomalias anatômicas ou lesões antes que ocorram complicações graves.

Importância do Reconhecimento Precoce

Os sintomas pós-operatórios de anorexia, íleo, náuseas ou vômitos que não melhoram conforme esperado após uma colecistectomia laparoscópica podem indicar uma lesão ductal. A detecção precoce dessas lesões e o reparo imediato por um cirurgião experiente são essenciais para um bom prognóstico a longo prazo. Lesões não detectadas durante o procedimento inicial frequentemente resultam em complicações mais graves, como peritonite biliar e estenoses anastomóticas.

Considerações Finais

Embora a colecistectomia laparoscópica ofereça vantagens significativas, é crucial que os cirurgiões estejam cientes de seus riscos e limitações. A conscientização e o reconhecimento dos fatores de risco podem ajudar a alcançar o nível de segurança esperado na colecistectomia aberta, garantindo melhores resultados para os pacientes.

Colecistectomia Segura

A colecistectomia laparoscópica, amplamente utilizada para a remoção da vesícula biliar, oferece muitas vantagens em relação à técnica aberta tradicional. Entre os benefícios estão a redução da dor pós-operatória, menor tempo de internação hospitalar e recuperação mais rápida. No entanto, esses benefícios não devem compensar a maior incidência de lesões no ducto biliar comum associada ao procedimento laparoscópico em determinadas situações.

Riscos das Lesões no Ducto Biliar

Como enfatizado por Sackier, lesões no ducto biliar comum podem resultar em complicações graves, muitas vezes referidas como “aleijados biliares”. Essas lesões podem levar a estenoses recorrentes, necessitando de múltiplas cirurgias e aumentando o risco de cirrose biliar secundária e falência hepática. O ditado cirúrgico, “o único pecado capital na cirurgia das vias biliares é a lesão do ducto biliar comum”, reflete a gravidade dessas complicações. A morbidade e mortalidade associadas a essas lesões são altas: mais de 25% dos pacientes sofrem complicações em cirurgias de seguimento e a mortalidade pós-operatória imediata de estenoses benignas do ducto biliar é de 8,3%, com uma mortalidade a longo prazo de 13%. A principal causa de morte nesses pacientes é a falência hepática, resultante de sepse ou lesão no suprimento sanguíneo do fígado, ou desenvolvendo-se como cirrose biliar e hipertensão portal.

Incidência e Prevenção

Nos Estados Unidos, são realizadas aproximadamente 500.000 colecistectomias anualmente. Em colecistectomias abertas, o risco de lesão no ducto biliar comum é de cerca de 0,1%, ou seja, 500 pacientes por ano. Para a técnica laparoscópica, os dados variam, com estudos iniciais relatando incidências de 0 a 7%. Estudos mais recentes indicam riscos entre 0,2% e 0,3%, o que significa que cerca de 1.500 pacientes por ano podem sofrer lesões no ducto biliar comum, uma incidência duas a três vezes maior em comparação com a técnica aberta. Trabalhos mais recentes mostram atualmente uma equiparação nos índices de lesões das vias biliares.

Estratégias Preventivas

Para minimizar o risco de lesões, diversas estratégias foram desenvolvidas com base na literatura relevante e nas práticas do Columbia-Presbyterian Medical Center:

  1. Seleção Apropriada de Pacientes: A colecistectomia laparoscópica não deve ser a escolha para todos os pacientes. Fatores de risco como cicatrizes abdominais, inflamação aguda severa e obesidade grave devem ser consideradas no momento do planejamento cirúrgico.
  2. Dissecção Cuidadosa: Identificação meticulosa da anatomia é crucial, especialmente devido às limitações visuais bidimensionais da cirurgia laparoscópica.
  3. Uso do Laparoscópio de 30°: Este oferece uma visão mais ampla do ducto biliar comum, permitindo uma visualização mais segura.
  4. Retração Apropriada: A tração cefálica no fundo da vesícula biliar e tração posterior e lateral no infundíbulo são necessárias para evitar a distorção do ducto biliar comum.
  5. Dissecção do Junção Ducto Cístico-Vesícula Biliar: Diferenciar entre o ducto cístico entrando na vesícula e alargando-se no infundíbulo é vital.
  6. Identificação do Junção Ducto Cístico-Ducto Biliar Comum: A junção deve ser visualizada e o caminho do ducto biliar comum deve ser determinado.
  7. Relaxamento da Retração: Relaxar a retração no infundíbulo antes de clipar o ducto cístico garante que o ducto biliar comum não esteja sendo tracionado.
  8. Manutenção de um Remanescente Longo do Ducto Cístico: Evita lesões no ducto biliar comum.
  9. Evitar Procedimentos Potencialmente Lesivos Próximos à Porta Hepática: Dissecção afiada aumenta o risco de sangramento e lesão.
  10. Uso liberal de Colangiografia Intraoperatória: Dúvidas na anatomia e diagnosticar lesões imediatamente para reparo imediato (caso o cirurgião tenha experiência em cirurgia hepatobiliar) melhora significativamente os resultados.
  11. Baixo Limite para Conversão para Cirurgia Aberta: Converte-se para a técnica aberta diante de circunstâncias difíceis, em especial o sangramento, para garantir segurança.
  12. Curva de Aprendizado: A maioria das lesões no ducto biliar comum ocorre devido à inexperiência (<50 casos). Programas de treinamento adequados podem reduzir essas lesões.

Considerações Finais

Apesar da baixa incidência geral de lesões no ducto biliar comum durante a colecistectomia laparoscópica, a preocupação com o aumento de lesões em comparação com a técnica aberta é válida. As lesões causadas pela técnica laparoscópica são mais extensas e difíceis de reparar, frequentemente ocorrendo em pacientes jovens e saudáveis. As vantagens da colecistectomia laparoscópica não trazem benefícios se aumentarem a possibilidade de lesões graves. Essas medidas preventivas e estratégias adequadas podem tornar a colecistectomia laparoscópica tão segura quanto, ou até mais segura do que, a técnica aberta.

Mechanisms of Bile Duct Injury

Mechanism of Bile Duct Injury: Understanding the Risks in Laparoscopic Cholecystectomy

Introduction

Laparoscopic cholecystectomy, the “gold standard” for treating symptomatic gallbladder disease, has transformed surgical practice since its introduction in the early 1990s. Despite its widespread adoption and the improved safety profile over time, the procedure remains fraught with risks, particularly bile duct injuries (BDIs). The incidence of BDIs during laparoscopic cholecystectomy has declined from its peak, but this complication still represents a significant challenge in digestive surgery, leading to substantial morbidity, mortality, and legal consequences. In Brazil, where an estimated 300,000 cholecystectomies are performed annually, BDIs continue to be a significant concern. This article delves into the mechanisms of bile duct injuries during laparoscopic cholecystectomy, exploring the factors that contribute to these adverse events and their implications for surgical practice.

Development of the Theme

The advent of laparoscopic cholecystectomy marked a turning point in the management of gallbladder disease, offering patients reduced postoperative pain, shorter hospital stays, and faster recovery times. However, the initial enthusiasm for this minimally invasive approach was tempered by a notable increase in bile duct injuries. As surgeons adapted to the new technique, the incidence of BDIs spiked, with early reports indicating injury rates as high as 0.7%. Today, with increased experience and refined techniques, the incidence has decreased to approximately 0.1% to 0.2%. Despite these improvements, the risk remains significant, with estimates suggesting that one in three general surgeons will cause a bile duct injury at some point in their careers.

Bile Duct Injury

Iatrogenic bile duct injuries are most often the result of perceptual errors in identifying biliary anatomy during surgery. The most common injury involves a complete transection of the common bile duct, which is also the most difficult to manage. Typically, excessive cephalad retraction of the gallbladder fundus or insufficient lateral retraction on the infundibulum leads to an alignment of the cystic and common bile ducts, causing the common bile duct to be mistaken for the cystic duct. This misidentification results in clipping and transecting the common bile duct—a scenario that can lead to devastating outcomes if not promptly recognized and appropriately managed.

Inflammatory conditions, such as acute or chronic cholecystitis, further complicate the surgical landscape. Thickened and friable tissue, along with adhesions, can obscure normal anatomical landmarks, increasing the difficulty of the procedure. Aberrant biliary anatomy, such as a low-lying right hepatic duct, poses additional risks, as these anatomical variations can be easily overlooked during surgery, leading to unintended ductal injury.

Energy sources used for hemostasis, such as electrocautery, introduce another layer of complexity. Excessive or inappropriate use of these tools can damage the bile duct or its blood supply, resulting in stricture formation or bile leaks. Another common mechanism of injury occurs when a clip is inadvertently placed across the common bile duct, often in a hurried attempt to control bleeding from the hilum without a clear view of the anatomy.

In the context of laparoscopic cholecystectomy, BDIs are particularly perilous when the common bile duct is mistaken for the cystic duct. This classical injury pattern, first described by Davidoff and colleagues, typically involves clipping and dividing the common bile duct, with further proximal dissection leading to injury of the right hepatic artery and more proximal ductal structures, including the common hepatic duct and intrahepatic ducts. Poor visualization due to inadequate illumination, excessive smoke, or intraoperative bleeding exacerbates these risks, making meticulous surgical technique and optimal visualization crucial to avoiding these injuries.

Bile Duct Injury

Key Points

  1. Perceptual Errors: The primary mechanism of bile duct injury during laparoscopic cholecystectomy is the misidentification of biliary anatomy, particularly the confusion between the cystic and common bile ducts.
  2. Risk Factors: Inflammatory conditions, aberrant anatomy, and excessive use of energy devices significantly increase the risk of bile duct injuries.
  3. Incidence: Despite advancements in technique, bile duct injuries remain a significant concern, with a 0.1% to 0.2% incidence in laparoscopic cholecystectomy. In Brazil, the annual rate of cholecystectomies underscores the importance of vigilance in preventing these injuries.
  4. Complications: Bile duct injuries can lead to severe complications, including biliary stricture, leakage, infection, and even death. The financial and legal implications further highlight the need for preventive measures.

Conclusion

Understanding the mechanisms of bile duct injury during laparoscopic cholecystectomy is crucial for improving surgical outcomes and minimizing patient morbidity. Surgeons must remain vigilant in identifying biliary anatomy, particularly in the presence of risk factors such as inflammation and aberrant anatomy. Enhanced visualization techniques, careful dissection, and judicious use of energy devices are essential strategies to reduce the incidence of BDIs. As the field of minimally invasive surgery continues to evolve, ongoing education and training in these areas are paramount to ensuring patient safety and improving the quality of care.

In the words of Alexis Carrel, “There is no such thing as minor surgery, but there are many minor surgeons”. This sentiment is particularly relevant to the surgical treatment of biliary diseases, where the combination of skill, experience, and compassion is vital to patient outcomes.

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Visão Crítica de Segurança (Colecistectomia)

A colecistectomia laparoscópica (CL) é o padrão-ouro para tratamento de cálculos biliares. No entanto, o risco de lesão do ducto biliar (BDI) continua a ser preocupação significativa, uma vez que CL ainda tem taxa de BDI maior do que a via laparotômica, apesar de muitos esforços propostos para aumentar sua segurança.

A Visão Crítica da Segurança (CVS) proposta por Strasberg é a técnica para a identificação dos elementos críticos do triângulo de Calot durante a CL. Esta técnica foi adotada em vários programas de ensino e com a proposta de reduzir o risco de BDI e o uso da adequado da CVS está associado a menores taxas de BDI. O objetivo deste #Webinar é abordar a Anatomia Cirúrgica Fundamental para a realização de uma Colecistectomia Laparoscópica.

Critical View Of Safety

Steven Strasberg, 2017

“The concept of the critical view was described in 1992 but the term CVS was introduced in 1995 in an analytical review of the emerging problem of biliary injury in laparoscopic cholecystectomy. CVS was conceived not as a way to do laparoscopic cholecystectomy but as a way to avoid biliary injury. To achieve this, what was needed was a secure method of identifying the two tubular structures that are divided in a cholecystectomy, i.e., the cystic duct and the cystic artery. CVS is an adoption of a technique of secure identification in open cholecystectomy in which both cystic structures are putatively identified after which the gallbladder is taken off the cystic plate so that it is hanging free and just attached by the two cystic structures. In laparoscopic surgery complete separation of the body of the gallbladder from the cystic plate makes clipping of the cystic structures difficult so for laparoscopy the requirement was that only the lower part of the gallbladder (about one-third) had to be separated from the cystic plate. The other two requirements are that the hepatocystic triangle is cleared of fat and fibrous tissue and that there are two and only two structures attached to the gallbladder and the latter requirements were the same as in the open technique. Not until all three elements of CVS are attained may the cystic structures be clipped and divided. Intraoperatively CVS should be confirmed in a “time-out” in which the 3 elements of CVS are demonstrated. Note again that CVS is not a method of dissection but a method of target identification akin to concepts used in safe hunting procedures. Several years after the CVS was introduced there did not seem to be a lessening of biliary injuries.

Operative notes of biliary injuries were collected and studied in an attempt to determine if CVS was failing to prevent injury. We found that the method of target identification that was failing was not CVS but the infundibular technique in which the cystic duct is identified by exposing the funnel shape where the infundibulum of the gallbladder joins the cystic duct. This seemed to occur most frequently under conditions of severe acute or chronic inflammation. Inflammatory fusion and contraction may cause juxtaposition or adherence of the common hepatic duct to the side of the gallbladder. When the infundibular technique of identification is used under these conditions a compelling visual deception that the common bile duct is the cystic duct may occur. CVS is much less susceptible to this deception because more exposure is needed to achieve CVS, and either the CVS is attained, by which time the anatomic situation is clarified, or operative conditions prevent attainment of CVS and one of several important “bail-out” strategies is used thus avoiding bile duct injury.

CVS must be considered as part of an overall schema of a culture of safety in cholecystectomy. When CVS cannot be attained there are several bailout strategies such a cholecystostomy or in the case of very severe inflammation discontinuation of the procedure and referral to a tertiary center for care. The most satisfactory bailout procedure is subtotal cholecystectomy of which there are two kinds. Subtotal fenestrating cholecystectomy removes the free wall of the gallbladder and ablates the mucosa but does not close the gallbladder remnant. Subtotal reconstituting cholecystectomy closes the gallbladder making a new smaller gallbladder. Such a gallbladder remnant is undesirable since it may become the site of new gallstone formation and recurrent symptoms . Both types may be done laparoscopically.”

Strasberg SM, Hertl M, Soper NJ. An analysis of the problem of biliary injury during laparoscopic cholecystectomy. J Am Coll Surg 1995;180:101-25. 

ERCP Induced Perforations

In the epoch of minimally invasive management of biliary and pancreatic disorders, endoscopic retrograde cholangiopancreatography (ERCP) combined with endoscopic sphincterotomy (ES) has become a prevalent procedure all over the world. Even though ES is a safe procedure, it carries a small but significant number of serious complications which include pancreatitis, bleeding, cholangitis and perforation. As per old literature, ERCP-related perforations were reported in 0.5–2.1% of sphincterotomies with a mortality rate of 16–18%. However, the improvement in the experience and skill of the endoscopy specialists combined with advancements in technology have reduced the incidence of perforation to <0.5% over the years. Sphincterotomy (56%) and guidewire manipulation (23%) are widespread causes of perforations related to endoscopic retrograde cholangiopancreatography (ERCP). There is a dearth of evidence-based strategies with respect to the proper management of ERCP perforations. While one set of investigators promote on-demand conservative and surgical management, based on a clinical course, the others support operative repair in all cases on account of the complications associated with the delayed operative intervention.

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INDICATIONS OF SURGICAL MANAGEMENT

1. Large extravasation of contrast at the time of ERCP defined as incomplete dissipation of contrast after 1 min on follow-up plain film.
2. If there is only a small amount of contrast extravasation, where there is complete dissipation after 1 min of ERCP, on follow-up plain film, then a UGI with contrast injection on fluoroscopy is performed in 2–8 h. If this shows extravasation, we recommend surgical exploration.

3. Follow-up CT scan showing a collection due to perforation in the retroperitoneum or intraperitoneum.
4. Retained hardware unable to be removed by endoscopy along with perforation.
5. Massive subcutaneous emphysema.
6. Failure of conservative management.

A delay in diagnosis or in surgery will lead to death. The reason is that there is a massive autodigestion of body tissues which is due to a constant release of enzymes, and this eventually leads to sepsis. The principle of treatment by surgery is the same as endoscopic treatment. Any case that is suspected to have ERCP-induced perforation is kept nil by mouth, and the gastric contents are decompressed by Ryles tube and intravenous antibiotics.

This is done by diverting bile, enteric and pancreatic juices away from the site of perforation. However simple drainage will also cause the juices to flow through the perforation site and body cavities before draining out of the tubes. This could be avoided by diverting the juices through well-controlled different paths which could be done by the following procedures:
1. T-tube in CBD;
2. Placement of duodenostomy tube—lateral/end duodenostomy;
3. Duodenal diverticulization;
4. Pyloric exclusion;
5. Roux-en-Y duodenojejunostomy.

The disadvantage of using Roux-en-Y duodenojejunostomy is that if the edges are inflamed, then the sutures will not hold properly. However other procedures can be used even when the edges are inflamed. Even though duodenostomy appears to be simple, a part of gastric and duodenal contents pass across the perforation site.

Duodenal diverticulization involves three things: (1) tube to divert duodenal and pancreatic juice, (2) T-tube in CBD to divert bile and (3) distal
gastrectomy and Billroth II anastomosis to provide an alternate pathway for food and gastric juice, thereby preventing these from passing through the site of perforation. Although this procedure has been proved to be successful, it is less widely used due to its complex nature. Pyloric exclusion is a simpler form in which the pylorus is closed by purse string by long-standing absorbing sutures like PDS 2.0 instead of distal gastrectomy. Similar to duodenal diverticulization, T-tube drainage of the CBD and loop gastrojejunostomy are done. The duodenal perforation is closed over a duodenostomy tube.

Whenever there is collection which is localized to the retroperitoneum, retroperitoneal surgical approach can be carried out. Advantages of this procedure are (1) it permits gravitational drainage, (2) avoids septic complication of the peritoneal cavity, (3) directs retroperitoneal necrosectomy with post-operative washes and (4) avoids complex intra-abdominal surgeries. However the disadvantage of this procedure is that it can be used only for retroperitoneal-contained perforations.

Surgical Management of Cholangiocarcinoma

Resultado de imagem para Cholangiocarcinoma

Cholangiocarcinoma (CCA) is a rare but lethal cancer arising from the bile duct epithelium. As a whole, CCA accounts for approximately 3 % of all gastrointestinal cancers. It is an aggressive disease with a high mortality rate. Unfortunately, a significant proportion of patients with CCA present with either unresectable or metastatic disease. In a retrospective review of 225 patients with hilar cholangiocarcinoma, Jarnagin et al. reported that 29 % of patients had either unresectable disease were unfit for surgery. Curative resection offers the best chance for longterm survival. Whereas palliation with surgical bypass was once the preferred surgical procedure even for resectable disease, aggressive surgical resection is now the standard.

Classroom: Surgical Management of Cholangiocarcinoma

Minimally Invasive Approach to Choledocholithiasis

Introduction

The incidence of choledocholithiasis in patients undergoing cholecystectomy is estimated to be 10 %. The presence of common bile duct stones is associated with several known complications including cholangitis, gallstone pancreatitis, obstructive jaundice, and hepatic abscess. Making the diagnosis early and prompt management is crucial. Traditionally, when choledocholithiasis is identified with intraoperative cholangiography during the cholecystectomy, it has been managed surgically by open choledochotomy and place- ment of a T-tube. This open surgical approach has a morbidity rate of 10–15 %, mortality rate of <1 %, with a <6 % incidence of retained stones. Patients who fail endoscopic retrieval of CBD stones, as well as cases in which an endoscopic approach is not appropriate, should be explored surgically.

Clinical Manifestation

Acute obstruction of the bile duct by a stone causes a rapid distension of the biliary tree and activation of local pain fibers. Pain is the most common presenting symptom for choledocholithiasis and is localized to either the right upper quadrant or to the epigastrium. The obstruction will also cause bile stasis which is a risk factor for bacterial over- growth. The bacteria may originate from the duodenum or the stone itself. The combination of biliary obstruction and colo- nization of the biliary tree will lead to the development of fevers, the second most common presenting symptom of cho- ledocholithiasis. Biliary obstruction, if unrelieved, will lead to jaundice. When these three symptoms (pain, fever, and jaundice) are found simultaneously, it is known as Charcot’s triad. This triad suggests the diagnosis of acute ascending cholangitis, a potentially life-threatening condition. If not treated promptly, this can lead to hypotension and decreased metal status, both signs of severe sepsis. When combined with Charcot’s triad, this constellation of symptoms is commonly referred to as Reynolds pentad.

Laparoscopic common bile duct exploration

Laparoscopic common bile duct exploration (LCBDE) allows for single stage treatment of gallstone disease, reducing overall hospital stay, improving safety and cost-effectiveness when compared to the two-stage approach of ERCP and laparoscopic cholecystectomy. Bile duct clearance can be confirmed by direct visualization with a choledochoscope. But, before the advent of choledochoscope, bile duct clearance was uncertain, and blind instrumentation of the duct resulted in accentuated edema and inflammation. Due to advancement in instruments, optical magnification, and direct visualization, laparoscopic exploration of the CBD results in fewer traumas to the bile duct. This has led to an increasing tendency to close the duct primarily, reducing the need for placement of T-tubes. Still, laparoscopic bile duct exploration is being done in only a few centers. Apart from the need for special instruments, there is also a significant learning curve to acquire expertise to be able to perform a laparoscopic bile duct surgery.

Morbidity and mortality rates of laparoscopic exploration are comparable to ERCP (2–17 and 1–5 %), and there is no clear difference in primary success rates between the two approaches. However, the endoscopic approach may be preferable for elderly and frail patients, who are at higher risk with surgery. Patients older than 70–80 years of age have a 4–10 % mortality rate with open duct exploration. It may be as high as 20 % in elderly patients undergoing urgent procedures. In comparison, advanced age and comor- bidities do not have a significant impact on overall complication rates for ERCP. A success rate of over 90 % has been reported with laparoscopic CBD exploration. Availability of surgical expertise and appropriate equipment affect the success rate of laparoscopic exploration, as does the size, number of the CBD stones, as well as biliary anatomy. Over the years, laparoscopic exploration has become efficient, safe, and cost effective. Complications include CBD laceration, stricture formation, bile leak, abscess, pancreatitis, and retained stones.

In cases of failure of laparoscopic CBD exploration, a guidewire or stent can be passed through the cystic duct, common bile duct, and through the ampulla into the duodenum followed by cholecystectomy. This makes the identification and cannulation of the ampulla easier during the post- operative ERCP. Laparoscopic common bile duct exploration is traditionally performed through a transcystic or transductal approach. The transcystic approach is appropriate under certain circumstances. These include a small stone (<10 mm) located in the CBD, presence of small common bile duct (<6 mm), or if there is poor access to the common duct. The transductal approach is preferable in cases of large stones, stones in proximal ducts (hepatic ducts), large occluding stones in a large duct, presence of multiple stones, or if the cystic duct is small (<4 mm) or tortuous. Contraindications for laparoscopic approach include lack of training, and severe inflammation in the porta hepatis making the exploration difficult and risky.

Key Points

With advancement in imaging technology, laparoscopic and endoscopic techniques, management of common bile duct stone has changed drasti- cally in recent years. This has made the treatment of this condition safe and more efficient. Many options are now available to manage this condition, and any particular modality for treatment should be chosen carefully based on the patient related factors, institutional protocol, available expertise, resources, and cost-effectiveness.

Classroom: M.I.A. of Choledocholithiasis

Causas de conversão da VIDEOCOLECISTECTOMIA

Visão Crítica de Segurança

Atualmente, a colecistectomia laparoscópica é a abordagem preferida para o tratamento da litíase biliar, representando cerca de 90% dos procedimentos realizados, uma marca alcançada nos Estados Unidos em 1992. A popularidade dessa técnica se deve a suas vantagens evidentes: menos dor no pós-operatório, recuperação mais rápida, redução dos dias de trabalho perdidos e menor tempo de hospitalização. Apesar de ser considerada o padrão-ouro na cirurgia biliar, a colecistectomia laparoscópica não está isenta de desafios. Entre 2% e 15% dos casos podem exigir a conversão para cirurgia convencional. Os motivos mais comuns para essa conversão incluem dificuldades na identificação da anatomia, suspeita de lesão da árvore biliar e controle de sangramentos. Identificar os fatores que contribuem para uma maior taxa de conversão é essencial para a equipe cirúrgica. Isso não apenas permite uma avaliação mais precisa da complexidade do procedimento, mas também ajuda na preparação do paciente para possíveis riscos e na mobilização de cirurgiões mais experientes quando necessário. Em um cenário onde a precisão e a segurança são cruciais, a compreensão dos desafios e a preparação adequada podem fazer toda a diferença no resultado da cirurgia.

Relacionados ao Paciente: 1. Obesidade (IMC > 35), 2. Sexo Masculino, 3. Idade > 65 anos, 4. Diabetes Mellitus e 5. ASA > 2.

Relacionadas a Doença: 1. Colecistite Aguda, 2. Líquido Pericolecístico, 3. Pós – CPRE, 4. Síndrome de Mirizzi e 5. Edema da parede da vesícula > 5 mm.

Relacionadas a Cirurgia: 1. Hemorragia, 2. Aderências firmes, 3. Anatomia obscura, 4. Fístulas internas e 5. Cirurgia abdominal prévia.

Cystic Disorders of the Bile Ducts

Captura de tela 2024-07-26 103747OVERVIEW

Cystic disorders of the bile ducts, although rare, are well-defined malformations of the intrahepatic and/or extrahepatic biliary tree. These lesions are commonly referred to as choledochal cysts,which is a misnomer, as these cysts often extend beyond the common bile duct (choledochus).

EPIDEMIOLOGY

Cystic disorders of the bile ducts account for approximately 1% of all benign biliary disease. Also, biliary cysts are four times more common in females than males. The majority of patients (60%) with bile duct cysts are diagnosed in the first decade of life, and approxi-mately 20% are diagnosed in adulthood.

CLASSIFICATION

Cystic dilatation of the bile ducts occurs in various shapes—fusi-form, cystic, saccular, and so on—and in different locations through-out the biliary tree. The most commonly used classification is the Todani modification of the Alonso-Lej classification.

ETIOLOGY

The exact etiology of biliary cysts is unknown.

CLINICAL PRESENTATION

The initial clinical presentation varies significantly between children and adults. In children, the most common symptoms are intermittent abdominal pain, nausea and vomiting, mild jaundice, and an abdom-inal mass. The classical triad of abdominal pain, jaundice, and a pal-pable abdominal mass associated with choledochal cyst is observed in only 10% to 15% of children, and it is rarely seen in adults. Symp-toms in adults often mimic those seen in patients with biliary tract disease or pancre-atitis.

SURGICAL MANAGEMENT

The definitive treatment of bile duct cysts usually includes surgical excision of the abnormal extrahepatic bile duct with biliary-enteric reconstruction. This approach relieves biliary obstruction, prevent-ing future episodes of cholangitis, stone formation, or biliary cirrho-sis and thus interrupting the inflammatory liver injury cycle. It also stops pancreatic juice reflux, and more importantly, it removes tissue at risk of malignant transformation.

Lesão de Vias Biliares na Colecistectomia: Prevenção e Tratamento



A via laparoscópica tem sido reconhecida como padrão de excelência para a colecistectomias. Phillipe Mouret foi quem primeiro a realizou em 1987, mas outros procedimentos já haviam sido realizados por laparoscopia e foram descritos por ginecologistas. Desenvolvida no final da década de 80 e início dos anos 90, a videolaparoscopia mudou os conceitos de acesso cirúrgico e campo operatório, introduzindo a concepção de “cirurgia minimamente invasiva”.A colecistectomia é um dos procedimentos cirúrgicos mais realizados no mundo. Com o advento da videolaparoscopia, tornou-se uma cirurgia menos traumática, mais estética, com períodos mais curtos de internação. Em contrapartida, observou-se o aumento da incidência de lesões de via biliar extra-hepática quando comparado ao procedimento aberto, fato preocupante devido à morbidade elevada desse tipo de lesão, cuja mortalidade não é desprezível.

Tratamento Cirúrgico da COLECISTITE AGUDA



I. INTRODUÇÃO 

Os cálculos de vesícula (COLELITÍASE) estão presentes em mais de 10% da população ocidental e esta incidência aumenta com a idade. A colelitíase é a doença do aparelho digestivo com maior número de  indicação cirúrgica. Anualmente, cerca de 200.000 colecistectomias são realizadas nos Brasil. Os fatores de risco para o surgimento dos cálculos são: obesidade, diabetes mellitus, uso de estrogênio, gravidez, doença hemolítica, hereditariedade e cirrose. Acomete principalmente as mulheres na idade reprodutiva.

São várias as complicações da colelitíase, entre elas:

1. COLECISTITE AGUDA

2. PANCREATITE AGUDA

3. COLEDOCOLITÍASE

4. FÍSTULAS INTERNAS

5. CÂNCER DA VESÍCULA

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II. FISIOPATOLOGIA

A colecistite aguda é uma doença comum em emergências em todo o mundo. Na maioria dos casos, é causada pela inflamação da parede da vesícula secundária à impactação de um cálculo no ducto cístico obstruindo-o, o que causa uma crise repentina de dor abdominal, conhecido como ABDOME AGUDO.

Colecistite litiásica

A colecistite aguda está associada à colelitíase em mais de 90% dos casos. O quadro ocorre devido à obstrução do ducto cístico por um cálculo. Se a obstrução continua, a vesícula se distende e suas paredes tornam-se edematosas. O processo inflamatório inicia-se com espessamento da parede, eritema e hemorragia subserosa. Surgem hiperemia e áreas focais de necrose. Na maioria dos casos, o cálculo se desloca e o processo inflamatório regride. Se o cálculo não se move, o quadro evolui para isquemia e necrose da parede da vesícula em cerca de 10% dos casos. A formação de abscesso e empiema dentro da vesícula é conhecida como colecistite aguda gangrenosa. Com a infecção bacteriana secundária, principalmente por anaeróbios, há formação de gás que pode ocorrer dentro ou na parede da vesícula. Esse é um quadro mais grave conhecido com colecistite enfisematosa.

Colecistite aguda alitiásica 

A colecistite aguda também pode ocorrer sem a presença de cálculos em cerca de 5% dos casos. Tem uma evolução mais rápida e frequentemente evolui para gangrena, empiema ou perfuração. Ocorre em pessoas idosas ou em estado crítico após trauma, queimaduras, nutrição parenteral de longa data, cirurgias extensas, sepses, ventilação com pressão positiva e a terapia com opioides também parece estar envolvida. A etiologia é confusa, mas a estase, a isquemia, a injúria por reperfusão e os efeitos dos mediadores pró-inflamatórios eicosanoides são apontados como causas.

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III. QUADRO CLÍNICO

O quadro se inicia com uma cólica biliar caracterizada como dor no hipocôndrio direito com irradiação para escápula direita e região epigástrica. Como sintoma mais comum, o paciente apresenta dor e pressão no hipocôndrio direito, mais duradoura das que nas crises de cólica biliar a que ele frequentemente se refere. Esse é o primeiro sinal de inflamação da vesícula. A dor pode intensificar-se quando a pessoa respira profundamente e muitas vezes estende-se à parte inferior da escápula direita e à região epigástrica. A febre, assim como náuseas e vômitos, que podem ser biliosos, são habituais em 70% dos pacientes. A febre alta, os calafrios e a distensão abdominal com diminuição da peristalse costumam indicar a formação de um abscesso, gangrena ou perfuração da vesícula biliar. Nestas condições, torna-se necessária a cirurgia de urgência. A icterícia pode indicar coledocolitíase ou compressão externa do colédoco pela vesícula inflamada.

IV. AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA

O hemograma habitualmente apresenta leucocitose com desvio para esquerda. O hepatograma está alterado com elevação das transaminases, da fosfatase alcalina, bilirrubinas e amilase. A hiperbilirrubinemia pode ser devido à compressão extrínseca pelo processo inflamatório grave, pela coledocolitíase ou pela síndrome de Mirizzi, que é causada pela impactação de um cálculo no infundíbulo que pode fistulizar para o colédoco e obstruí-lo. A hiperamilasemia pode ocorrer devido à obstrução do ducto pancreático levando à pancreatite concomitante.

A ultrassonografia é o exame inicial e permite a identificação de alterações que não são visíveis no exame físico e permite uma classificação. É considerado o exame “ouro” nesses casos. Tem alta sensibilidade para a detecção de cálculos e o espessamento da parede que é considerado anormal quando maior que 4 mm . Também pode haver visualização de líquido perivesicular, distensão da vesícula, cálculos impactados no infundíbulo e o sinal de Murphy ultrassonográfico. Este sinal é relatado quando, após a identificação da vesícula inflamada, o ultrassonografista comprime o abdômen na topografia da mesma com o transdutor e o paciente refere dor intensa. A ultrassonografia laparoscópica intraoperatória tem sido usada no lugar da colangiografia no diagnóstico da coledocolitíase.

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V. TRATAMENTO

A colecistectomia (retirada cirúrgica da vesícula biliar) é o tratamento definitivo dos pacientes com colelitíase associada à colecistite aguda. Em geral, após sua hospitalização e preparo pré-operatório (hidratação, analgésicos e antibióticos)  realiza-se a cirurgia nas primeiras 72 horas de início do quadro. A colecistectomia videolaparoscópica é o tratamento de escolha na colecistite aguda litiásica e alitiásica. A cirurgia videolaparoscópica tem como característica básica diminuir a agressão e consequente trauma cirúrgico. Tem sido demonstrada, nesta abordagem, uma menor repercussão orgânica, representada por menor reação metabólica, inflamatória e imunológica quando comparada a uma cirurgia aberta. Isto representa um grande benefício para o paciente, principalmente àqueles mais graves, já com comprometimento de órgãos e sistemas, mesmo nos pacientes com idade avançada. A taxa de conversão de cirurgia videolaparoscópica para cirurgia aberta é maior nos casos de colecistopatia calculosa aguda do que na crônica, podendo ocorrer até em 30% dos casos. O fator que mais dificulta a realização do procedimento videolaparoscópico é a alteração anatômica ou se não há uma adequada visualização das estruturas. A colecistite aguda associada ao sexo masculino, IMC > 30, idade superior a 60 anos, cirurgia abdominal prévia, ASA elevado, espessamento da vesícula maior que 4 mm e diabetes são considerados fatores de risco para a conversão para a cirurgia aberta.

VI. CONCLUSÃO 

A colecistite aguda continua sendo uma doença com a qual o cirugião se depara frequentemente. A cirurgia videolaparoscópica veio mudar o manuseio e evolução dos pacientes tornando o pós-operatório mais curto e menos doloroso. A literatura médica tem levado alguns cirurgiões a retardarem a indicação cirúrgica, entretanto novos trabalhos, inclusive com análise de medicina baseada em evidências, têm demonstrado que a intervenção na primeira semana do início do quadro é a melhor conduta.

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