Lesão de Vias Biliares na Colecistectomia: Prevenção e Tratamento
A via laparoscópica tem sido reconhecida como padrão de excelência para a colecistectomias. Phillipe Mouret foi quem primeiro a realizou em 1987, mas outros procedimentos já haviam sido realizados por laparoscopia e foram descritos por ginecologistas. Desenvolvida no final da década de 80 e início dos anos 90, a videolaparoscopia mudou os conceitos de acesso cirúrgico e campo operatório, introduzindo a concepção de “cirurgia minimamente invasiva”.A colecistectomia é um dos procedimentos cirúrgicos mais realizados no mundo. Com o advento da videolaparoscopia, tornou-se uma cirurgia menos traumática, mais estética, com períodos mais curtos de internação. Em contrapartida, observou-se o aumento da incidência de lesões de via biliar extra-hepática quando comparado ao procedimento aberto, fato preocupante devido à morbidade elevada desse tipo de lesão, cuja mortalidade não é desprezível.
O RELATO CIRÚRGICO

DESCRIÇÃO DO ATO OPERATÓRIO – RELATO CIRÚRGICO
O relato cirúrgico deve incluir informações detalhadas e precisas para garantir uma documentação completa e eficaz. É prejudicial descrever “oficiosamente” o ato operatório, isto é, fazer descrição sumariíssima apenas dos tempos cirúrgicos básicos com apresentação do mesmo relatório para todos os procedimentos idênticos. É preciso criticar com veemência relatos cirúrgicos em que constem apenas “cirurgia feita pela técnica habitual”. Valiosos detalhes são omitidos e se perdem para consultas, pesquisas e esclarecimentos. Deve-se evitar “descrição” prévia, injustificável em todos os casos. O ato cirúrgico será registrado como dissertação minuciosa das táticas e técnicas operatórias usadas, dos acidentes cirúrgicos, das dificuldades técnicas, daquilo que foi visto e realizado do início ao fim do procedimento. Pela sua importância, tal relatório poderá ser refeito em ocasião de mais calma e propícia à reflexão, atentando-se ao maior zelo pela legibilidade.O documento deve conter:
- Identificação do Paciente: Nome completo, idade, número de prontuário e outras informações pessoais relevantes.
- Nome do Procedimento Cirúrgico: Identificação clara do procedimento realizado.
- Diagnóstico: Condição clínica ou patologia que motivou a cirurgia.
- Nome do Cirurgião e da Equipe: Inclusão dos nomes do cirurgião principal, auxiliares, e membros da equipe de enfermagem.
- Horário de Início e Fim da Operação: Registre com precisão os horários para controle do tempo operatório.
- Estado Geral do Paciente: Descrição breve do estado geral do paciente antes e após o procedimento.
Aspectos a Evitar:
- Descrição Sumária: Evitar a descrição excessivamente resumida do ato operatório. Cada relato deve ser específico e adaptado ao procedimento realizado, não devendo ser padronizado para todos os casos semelhantes.
- Relatos Padrão: Evitar o uso de frases genéricas como “cirurgia feita pela técnica habitual”, que omitem detalhes essenciais e dificultam futuras consultas e pesquisas.
Detalhamento do Relato:
- Condições do Paciente: Descrição das condições do paciente antes e após a cirurgia.
- Afecções Concomitantes: Registro de qualquer condição adicional ou comorbidade presente.
- Tempo de Início e Fim: Hora exata de início e término da operação.
- Posição do Paciente e Uso de Coxim: Descrição da posição do paciente e do uso de dispositivos de suporte.
- Aspecto da Afecção: Grau de inflamação, disseminação e gravidade da afecção tratada.
- Produtos de Anti-sepsia: Detalhamento dos produtos utilizados para anti-sepsia.
- Via de Acesso: Descrição da via de acesso utilizada.
- Uso de Eletrocautério: Registro do uso de eletrocautério durante o procedimento.
- Fios e Suturas: Tipos e características dos fios e suturas utilizados.
- Técnica Cirúrgica: Descrição minuciosa da técnica empregada.
Exames e Materiais:
- Radiológicos Transoperatórios: Descrição dos exames radiológicos realizados durante a operação.
- Materiais e Peças Cirúrgicas: Registro de peças obtidas para histopatologia, biópsias, secreções colhidas, e tipo de sutura empregada, incluindo aquelas no fechamento da ferida cirúrgica.
- Objetos Relacionados a Crimes: Classificação e rotulagem de objetos que possam indicar crime para envio ao instituto médico-legal ou à autoridade policial.
- Desenhos Esquemáticos: Se possível, incluir desenhos esquemáticos para ilustrar aspectos importantes da cirurgia.
Aspectos Adicionais:
- Lesões por Arma Branca e Trajetos de Projetis: Descrição detalhada das lesões e trajetos internos, se aplicável, incluindo a extração de projéteis e corpos estranhos.
- Solicitação de Exame Histopatológico: Anotar a solicitação para exame histopatológico das peças cirúrgicas que requerem estudo diagnóstico.
- Cabeçalho e Itens da Folha de Descrição: Preencher com data, hora, duração da cirurgia, forma de anestesia, nomes dos auxiliares e outros profissionais, e assinatura com carimbo.
Importância do Relato:
A descrição cirúrgica deve ser um relato detalhado e de valor científico, que inspire confiança e credibilidade. A equipe deve conferir todo o material cirúrgico, incluindo gazes e compressas, antes e depois da operação, para garantir que nenhum corpo estranho permaneça no paciente. Intercorrências durante o ato cirúrgico devem ser anotadas no prontuário. A folha de descrição cirúrgica, quando bem preenchida, é um documento essencial para comprovar os procedimentos realizados, além de ser crucial para a cobrança dos gastos pelo serviço de faturamento e para a defesa em caso de dúvidas, demandas judiciais ou processos ético-profissionais.
“Ex nihilo nihil fit”
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PREVENÇÃO DO CÂNCER DO INTESTINO GROSSO
O cólon, incluindo o reto, é o sítio mais freqüente de tumores primários do que qualquer outro órgão do corpo humano. Trata-se do quinto tipo de tumor maligno mais freqüente no Brasil.Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, estima-se que ocorrem no Brasil, cerca de 20.000 casos novos de câncer do intestino grosso (ou colorretal, ou do cólon e do reto) e que cerca de 7.000 brasileiros morrem por conta da doença anualmente. A chance de uma pessoa desenvolver câncer do intestino grosso ao longo de sua vida é de, em média, 1 em 20. O risco de se desenvolver câncer do intestino grosso após os 50 anos é de cerca de 1%.
POR QUE PREVENIR?
O câncer colorretal é um mal silencioso. A maioria dos tumores do intestino grosso não leva a qualquer sintoma até que tenha atingido um tamanho considerável o que diminui as chances de cura. A chance de obter cura para os indivíduos com câncer colorretal e com sintomas é de cerca de 50% e pouco melhorou nos últimos 50 anos apesar dos avanços alcançados no seu diagnóstico e tratamento. Por outro lado, a chance de curar um indivíduo para o qual foi feito diagnóstico de câncer antes de ele desenvolver sintomas é de 80%. Por isso, a melhor forma de se reduzir a chance de morrer de câncer colorretal é através de seu diagnóstico precoce. Só é possível diagnosticar precocemente se praticamos a prevenção, conhecida no meio médico como rastreamento. A maioria dos casos de câncer colorretal se origina a partir de precursores benignos, os pólipos. Se os pólipos forem removidos, o câncer pode ser evitado.
QUEM TEM MAIOR RISCO DE DESENVOLVER CÂNCER COLORRETAL?
Eis os grupos de indivíduos com maior chance de desenvolver câncer do cólon e do reto:
Toda a população com mais de 50 anos;
Os indivíduos com história familiar de:câncer do intestino,pólipos do intestino,câncer do endométrio (útero),câncer de mama, e câncer de ovário.
Os pacientes com doença inflamatória intestinal de longa evolução
De um modo geral, quanto mais jovens forem os antecedentes familiares dos tumores acima relacionados, maior o risco de se ter o tumor.
Existem também evidências acerca do papel das gorduras saturadas na origem do câncer do intestino grosso. A dieta pobre em gordura animal e rica em fibras (legumes, verduras, cereais e frutas) é fator protetor contra o câncer do intestino. Modernamente, a American Society of Cancer elaborou um modelo de dieta rica em frutas, vegetais e fibras e pobre em gorduras para prevenção do câncer colorretal.
Prevenção do câncer colorretal: Recomendações dietéticas
Limitar a ingestão de gordura em 25-30% das calorias diárias. Aumentar a quantidade e variedade de frutas e vegetais (5 porções diárias); Ingerir 20-30 gramas de fibras por dia; Introduzir 3 gramas de carbonato de cálcio por dia.
EXISTE RELAÇÃO COM A CONSTIPAÇÃO?
Nenhuma. Pacientes constipados não têm maior chance de vir a ter câncer do intestino grosso exclusivamente por causa da constipação. No entanto, entende-se que a permanência de carcinógenos (normalmente presentes na dieta) ingeridos por qualquer pessoa em contato com a parede do intestino por mais tempo, como acontece com os indivíduos constipados, pode teoricamente aumentar as chances de transformação maligna. Portanto, uma vez que a melhor forma de tratar a constipação intestinal é através da dieta de fibras, que protege contra o câncer do intestino grosso, pode-se dizer que combater a constipação provavelmente previne o câncer.
COMO SE FAZ A PREVENÇÃO?
Através de exames preventivos. Os exames devem ser solicitados pelo seu médico seja ele generalista ou especialista. Existem diretrizes ou protocolos de sociedades médicas já bem estabelecidos para esse fim. Cabe ao seu médico escolher qual a melhor forma de prevenção para você: ou seja quais exames serão solicitados e com qual freqüência eles devem ser realizados. Os exames que podem ser utilizados são:
a pesquisa de sangue oculto nas fezes,
a retossigmoidoscopia, e
a colonoscopia.
QUEM DEVE FAZER O QUÊ E QUANDO?
Cabe a seu médico e você decidirem qual o melhor programa de prevenção do câncer do intestino grosso para você e sua família. Procure conhecer seus antecedentes familiares de doenças graves. Se você não tem antecedente familiar de câncer do intestino grosso ou pólipos, a prevenção pode começar aos 50 anos de idade. Se você tem mais de 50 anos e nunca preveniu, já é hora de faze-lo. Se você tem um parente próximo que teve câncer do intestino grosso antes dos 50 anos, procure seu médico e fale sobre isso com ele. Sua prevenção deverá ter início antes dos 50 anos e procure saber desde já mais detalhes do caso e se esse seu parente foi o único da família. Se você já fez uma colonoscopia e foram encontrados um ou mais pólipos, a essa altura você já deve saber quando repetir o exame. Se não, procure um GASTROENTEROLOGISTA, CIRURGIÃO DO APARELHO DIGESTIVO OU PROCTOLOGISTA.
Apendicectomia Convencional X Laparoscópica : Existe Vantagem?

A apendicite aguda é uma doença freqüente que acomete em sua maioria homens com uma idade média ao redor de 20 anos. O seu tratamento é cirúrgico e está bem estabelecido em sua abordagem convencional. O surgimento e o desenvolvimento da videolaparoscopia abriu uma nova opção para a abordagem cirúrgica dessa patologia, permitindo uma abordagem minimamente invasiva com todas as vantagens dessa técnica.
A primeira apendicectomia videolaparoscópica foi realizada há pouco mais de 20 anos. Nessas duas décadas muito se discutiu, e ainda discute-se, a respeito deste procedimento. Mesmo encontrando com freqüência vários estudos bem realizados na literatura, ainda não há um consenso a respeito das indicações precisas para a realização da apendicectomia laparoscópica; ou mesmo sobre qual método seria superior – o convencional ou o laparoscópico. No entanto, uma revisão atual da literatura nos permite observar que os novos estudos mostram a apendicectomia laparoscópica como um procedimento seguro e eficaz, que pode ser utilizado no tratamento da apendicite complicada em qualquer faixa etária e quando o diagnóstico é duvidoso. Por estes motivos, essa opção cirúrgica está ganhando cada vez mais aceitação sendo que vários trabalhos recentes apontam-na como procedimento de escolha no tratamento da apendicite aguda.
