Prevenção Terciária da Lesão da Via Biliar

A lesão do ducto biliar (LDB) durante a colecistectomia laparoscópica continua sendo um espectro que assombra cirurgiões em todo o mundo. Com uma incidência que varia de 0,5% a 0,9%, esta complicação, embora incomum, carrega consigo o potencial de alterar drasticamente o curso da vida de um paciente. O que torna este cenário ainda mais desafiador é o fato de que apenas um terço dessas lesões são detectadas intraoperatoriamente, deixando os dois terços restantes como bombas-relógio silenciosas, prontas para detonar no período pós-operatório.

A prevenção terciária da LDB refere-se às medidas tomadas após a ocorrência da lesão para minimizar suas consequências e otimizar os resultados para o paciente. Este é um território onde a experiência, o julgamento clínico e a habilidade técnica convergem para determinar o destino do paciente.

O primeiro pilar da prevenção terciária é o reconhecimento precoce. Estudos demonstram que o reparo precoce do ducto biliar (dentro de 72 horas após a lesão) está associado a uma estadia hospitalar mais curta e a uma melhor qualidade de vida do paciente. Além disso, os resultados a longo prazo após um reparo precoce têm se mostrado favoráveis.

O segundo pilar é a escolha do cirurgião e do centro para o reparo. A análise de Stewart e Way em 1995 revelou resultados significativamente superior quando o reparo foi realizado por um cirurgião experiente em cirurgia biliar em comparação com o cirurgião primário (94% vs 17% de sucesso). Isso sublinha a importância crucial de encaminhar o paciente a um centro especializado em cirurgia hepatobiliar quando a lesão é identificada.

O terceiro pilar é a técnica cirúrgica adequada. A reconstrução biliar deve seguir princípios fundamentais: ser livre de tensão, utilizar segmentos de ducto bem vascularizados, garantir anastomose mucosa-mucosa e drenar todos os segmentos do fígado. A escolha entre anastomose ducto-ducto término-terminal e hepaticojejunostomia em Y de Roux deve ser feita com base na extensão e localização da lesão, bem como na experiência do cirurgião.

PRÍNCIPIOS TÉCNICOS DAS ANASTOMOSES BILIOENTÉRICAS

O quarto pilar é o manejo pós-operatório cuidadoso. Isso inclui a vigilância de complicações precoces, como vazamentos biliares e estenoses, bem como o acompanhamento a longo prazo para detectar complicações tardias.

É importante ressaltar que cada tentativa fracassada de reparo torna a cirurgia subsequente mais difícil e menos recompensadora. Portanto, a decisão de tentar um reparo ou encaminhar o paciente deve ser tomada com extrema cautela, sempre priorizando o melhor interesse do paciente.

Em conclusão, a prevenção terciária da lesão do ducto biliar é uma arte que demanda não apenas habilidade técnica, mas também humildade e sabedoria para reconhecer as próprias limitações. É um lembrete constante de que, na medicina, assim como na vida, às vezes o ato mais corajoso é pedir ajuda.

#LesãoDuctoBiliar #CirurgiaHepatobiliar #PrevençãoTerciária #ColecistectomiaLaparoscópica #EducaçãoCirúrgica

Nota histórica: William Stewart Halsted, pioneiro da cirurgia moderna, uma vez observou: “O cirurgião deve evitar cuidadosamente o ducto biliar comum, pois sua lesão é um dos acidentes mais graves que podem ocorrer durante uma operação na vesícula biliar.” Esta observação, feita há mais de um século, permanece pertinente até hoje, sublinhando a importância contínua da prevenção e do manejo cuidadoso das lesões biliares.

Gostou ❔Nos deixe um comentário ✍️ , compartilhe em suas redes sociais e|ou mande sua dúvida pelo 💬 Chat On-line em nossa DM do Instagram.

Deixe aqui seu comentário, dúvida e/ou sugestão