Introdução A colecistectomia laparoscópica (CL) é um procedimento comum, mas a variação anatômica dos ductos biliares extra-hepáticos e a identificação incorreta de estruturas podem levar a complicações graves, como lesões biliares. A identificação precisa de marcos anatômicos, como o sulco de Rouvière (SR), é essencial para a segurança do procedimento. A técnica do Critical View of Safety (CVS) é amplamente recomendada para minimizar esses riscos, utilizando marcos anatômicos confiáveis como o SR para orientar a dissecção.

Terminologia Na literatura cirúrgica e anatômica, o SR é referido por diferentes nomes, incluindo incisura dextra de Gans e le sillon du processus caudé. Rouvière foi o primeiro a nomeá-lo “le sillon du processus caudé”, e na anatomia cirúrgica é amplamente conhecido como sulco de Rouvière.
Relevância Anatômica e Cirúrgica Os textos anatômicos clássicos não incluem dados consistentes sobre o SR. Estudos relatam a presença do SR em 68% a 80% dos fígados. A importância de identificar o SR reside no fato de que o ducto cístico e a artéria cística estão localizados anterossuperiormente ao sulco, enquanto o ducto biliar comum (CBD) está abaixo do nível do SR. Dissecções iniciadas ventralmente ao SR demonstraram menor incidência de lesões ao CBD. Além disso, o SR é crucial para realizar ressecções hepáticas segmentares ou seccionais direitas com segurança.
Resultados As variações anatômicas da árvore biliar extra-hepática são comuns e podem complicar a identificação das estruturas durante a CL. O SR, identificado em aproximadamente 83% dos casos, serve como um marco anatômico essencial para a dissecção segura. Estudos mostram que o SR, o ducto hepático comum (CHD) e o CBD geralmente estão no mesmo plano, o que facilita a orientação cirúrgica.
Discussão A técnica do CVS durante a CL visa evitar lesões identificando corretamente os limites anatômicos seguros. O SR é um ponto de referência crítico, especialmente em casos de vesícula biliar difícil. Quando o SR está ausente ou obscurecido por aderências inflamatórias, a linha R4U (uma linha que se estende da fissura umbilical para a direita do hilo hepático) pode ser utilizada para construir um plano seguro de dissecção.
A análise de variações anatômicas da árvore biliar extra-hepática revela uma alta incidência de configurações não típicas, com estudos indicando que até um terço dos pacientes apresentam tais variações. Essas variações podem incluir a união separada dos ductos hepáticos direito e esquerdo com o CHD ou o CBD, bem como a presença de ductos segmentares independentes que se unem diretamente ao CHD. A identificação correta dessas variações é fundamental para evitar lesões biliares durante a dissecção.
A aplicação do SR como referência anatômica demonstrou ser altamente eficaz na orientação da dissecação durante a CL. A utilização do SR, aliada à técnica CVS, mostrou-se especialmente útil em casos complicados, onde a inflamação ou aderências dificultam a visualização das estruturas anatômicas normais. Nos casos em que o SR está ausente ou obscurecido, a linha R4U foi utilizada como uma alternativa eficaz para estabelecer um plano seguro de dissecção. A aplicação dessa linha permitiu a realização de colecistectomias seguras, mesmo em situações anatômicas desafiadoras. No entanto, a eficácia da linha R4U depende da experiência do cirurgião e de seu conhecimento detalhado da anatomia hepática, destacando a importância do treinamento contínuo em técnicas de segurança cirúrgica.
Conclusão A identificação correta das variações anatômicas da árvore biliar extra-hepática e o uso de marcos anatômicos como o SR são fundamentais para a segurança da CL. A aplicação da técnica CVS, aliada ao reconhecimento dessas variações, reduz significativamente o risco de lesões biliares.

Referências
- Strasberg, S. M., et al. “The Critical View of Safety in Laparoscopic Cholecystectomy.”
- Hugh, T. B. “Anatomical Landmarks for Safe Laparoscopic Cholecystectomy.”
- Zubair, M., et al. “Anatomical Variations in the Extrahepatic Biliary Tree.”
- Couinaud, C. “Segmental Anatomy of the Liver.”
- Rouvière, H. “Le sillon du processus caudé.”
- Reynaud, C., Coucoravas, G., Giuly, J., et al. “Incisura Dextra de Gans.”
- Hugh, T. B. “Minimal Common Bile Duct Injury During Laparoscopic Cholecystectomy.”
- Gans, H. “Incisura Dextra in Classic Anatomical Literature.”