Anatomia Cirúrgica Pancreática

A anatomia cirúrgica do pâncreas é um dos tópicos mais fascinantes e desafiadores da cirurgia do aparelho digestivo. Conhecer detalhadamente a estrutura e a topografia do pâncreas é crucial para a realização de procedimentos cirúrgicos seguros e eficazes. Neste artigo, vamos explorar os aspectos mais importantes da anatomia pancreática, abordando pontos-chave para estudantes de medicina e residentes de cirurgia do aparelho digestivo.

Estrutura Anatômica do Pâncreas

O pâncreas é uma glândula retroperitoneal situada transversalmente no abdome, na altura das vértebras L1-L2, abrangendo os principais vasos sanguíneos e a coluna vertebral. Ele é composto por cinco partes principais: cabeça, colo, corpo, cauda e processo uncinado.

  • Cabeça: Localizada à direita da linha média, cercada pelo duodeno. A cabeça do pâncreas possui uma extensão inferior chamada processo uncinado, que está intimamente relacionada com a veia mesentérica superior e a artéria mesentérica superior.
  • Colo: Uma parte estreita entre a cabeça e o corpo, situada anteriormente à veia porta, definida pela localização anatômica anterior à formação da veia porta, geralmente pela confluência das veias mesentérica superior e esplênica.
  • Corpo: Estende-se para a esquerda, posterior ao estômago, com a superfície anterior coberta pelo peritônio, formando parte da parede posterior do saco menor.
  • Cauda: Parte terminal que se estende até o hilo esplênico, confinada entre as camadas do ligamento esplenorrenal juntamente com a artéria esplênica e a origem da veia esplênica.
  • Processo Uncinado: Considerado uma parte distinta do pâncreas devido à sua origem embriológica diferente, estendendo-se posteriormente aos vasos mesentéricos superiores.

Peso e Dimensões Normais

Em um adulto saudável, o pâncreas tem um peso médio de aproximadamente 80 a 120 gramas. As dimensões normais do pâncreas variam, mas geralmente medem cerca de 15 a 20 cm de comprimento, 4 a 5 cm de largura na cabeça, e 1,5 a 2,5 cm de espessura.

Vascularização do Pâncreas

A vascularização do pâncreas é complexa e vital para a compreensão cirúrgica. As principais artérias que irrigam o pâncreas são:

  • Artéria Pancreatoduodenal Superior: Ramo da artéria gastroduodenal que irriga a cabeça do pâncreas.
  • Artéria Pancreatoduodenal Inferior: Ramo da artéria mesentérica superior que também fornece sangue à cabeça do pâncreas.
  • Ramos Pancreáticos da Artéria Esplênica: Irrigam o corpo e a cauda do pâncreas.

As veias pancreáticas drenam para a veia esplênica, veia mesentérica superior e, eventualmente, para a veia porta.

Ductos Pancreáticos

O pâncreas possui dois principais ductos: o ducto pancreático principal (ducto de Wirsung) e o ducto pancreático acessório (ducto de Santorini).

  • Ducto Pancreático Principal (Ducto de Wirsung): Começa na cauda do pâncreas e percorre o corpo até a cabeça, onde geralmente se junta ao ducto biliar comum na ampola de Vater, regulada pelo esfíncter de Oddi. O diâmetro normal do ducto pancreático principal varia de 1 mm na cauda até 3 mm na cabeça.
  • Ducto Pancreático Acessório (Ducto de Santorini): Corre superior e paralelo ao ducto de Wirsung, drenando parte da cabeça do pâncreas na papila duodenal menor.

O esfíncter de Oddi é uma estrutura única de fibras musculares lisas que regula o fluxo das secreções biliares e pancreáticas para o duodeno e impede o refluxo do conteúdo intestinal para o sistema ductal pancreatobiliar.

 

Considerações Cirúrgicas

Entender a anatomia pancreática é essencial para evitar complicações durante procedimentos cirúrgicos. Algumas das considerações importantes incluem:

  • Ressecção Pancreática: Procedimentos como a pancreatoduodenectomia (procedimento de Whipple) requerem um conhecimento detalhado das relações anatômicas para garantir a remoção eficaz do tumor com a menor morbidade possível.
  • Drenagem Biliar: A proximidade do pâncreas com o ducto biliar comum exige precisão ao evitar danos durante as cirurgias.
  • Anastomoses Pancreáticas: A criação de anastomoses seguras entre o pâncreas e o intestino é crítica para prevenir complicações pós-operatórias, como fístulas pancreáticas.

Variações Anatômicas

As variações anatômicas do pâncreas e dos ductos pancreáticos são comuns e podem impactar significativamente a abordagem cirúrgica. Uma compreensão detalhada dessas variações é essencial para a personalização do plano cirúrgico. Por exemplo, o pâncreas anular é uma condição em que o tecido pancreático forma um anel ao redor do duodeno, podendo causar estenose duodenal.

Conclusão

A anatomia cirúrgica pancreática é um campo complexo e detalhado que exige estudo e prática contínuos. Compreender as nuances dessa anatomia é fundamental para qualquer cirurgião do aparelho digestivo. Como disse o renomado anatomista Andreas Vesalius: “A anatomia é a fundação de todas as ciências médicas.”

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