Tratamento Cirúrgico do HEMANGIOMA HEPÁTICO

O hemangioma é o tumor hepático mais comum, sendo identificado entre 5% a 7% das necropsias. Incide entre a 3ª e 5ª décadas da vida e nas mulheres e pode aumentar de tamanho na gravidez e com a administração de estrogênios.

A causa desta neoplasia ainda não está esclarecida. Especula-se o papel de hormônios sexuais, devido às seguintes observações: 1) presença de receptores estrogênios em alguns hemangiomas: 2) prevalência maior nas mulheres, em uma proporção de 4:1 a 6:1; 3) Aumento de tamanho ocorre mais frequentemente na puberdade, gravidez, uso de anticoncepcionais orais ou hormônios sexuais (estrogênios e androgênios).

A maioria dos hemangiomas é único e mede < 4 cm em diâmetro. Somente 10% são múltiplos e podem alcançar dimensões de até 27 cm de diâmetro. Hemangioma gigante é definido como aquele de > 4 cm de diâmetro. O tamanho da grande maioria dos hemangiomas permanece inalterado com o tempo.

A grande maioria dos hemangiomas é assintomática, mas lesões grandes podem causar desconforto ou dor abdominal. Complicações ocorrem raramente e incluem: 1) inflamação; 2) coagulopatia; 3) sangramento; 4) compressão das estruturas vizinhas. Rotura de hemangioma hepático com consequente sangramento é excepcional. Até 2009, no PubMed Medline existiam somente 35 casos de rotura espontânea de hemangioma hepático. Considerando a elevada prevalência deste tumor, a possibilidade raríssima de rotura espontânea, mesmo nas lesões gigantes, não deve ser considerada na indicação de tratamento. Os tumores hepáticos com maior possibilidade de sangramento são o adenoma e o hepatocarcinoma. Crescimento do tumor ou trombose pode causar manifestações clínicas mais intensas. Raramente ocorre a síndrome de Kasabach-Merritt, que se caracteriza por trombocitopenia e coagulopatia de consumo.

O diagnóstico é geralmente estabelecido com segurança com os exames de imagem. A tomografia computadorizada e a ressonância magnética geralmente estabelecem o diagnóstico, se o padrão típico de impregnação nodular, periférico e descontínuo com aumento gradual da impregnação e tendência a homogeneização nas fases tardias for observado. Além disso, na ressonância magnética, o hemangioma tipicamente apresenta um alto sinal, ou seja, é brilhante, nas sequências ponderadas em T2. A cintilografia com hemácias marcadas apresenta elevada precisão para hemangiomas > 2 cm, mas raramente é necessária.

A grande maioria dos hemangiomas não necessita tratamento, mesmo os grandes. Não existe suporte científico para interromper o uso de anticoncepcionais hormonais ou evitar a gravidez nos pacientes com hemangioma hepático, inclusive nos gigantes. Uma vez estabelecido o diagnóstico de hemangioma, também não existe indicação de realização de exames periódicos de acompanhamento.

As complicações relacionadas à hemangioma hepático são muito mais frequentes após o tratamento cirúrgico do que a conduta expectante. Apesar das taxas de complicações das hepatectomias terem sido reduzidas acentuadamente nas últimas décadas, principalmente em centro especializadas, fístulas biliares, hemorragia, coleções abdominais, complicações sistêmicas (tromboembolismo, pneumonia) e mortalidade de 0,5% a 1% são relatadas nas grandes séries. Estas complicações operatórias tornam a indicação rotineira de hepatectomia inaceitável nos pacientes com hemangioma (doença benigna com mínima sintomatologia ou complicações), exceto em casos bastante selecionados.

A ressecção de hemangioma está indicada nos casos raros de impossibilidade de excluir neoplasia maligna e na presença de manifestações clínicas importantes, crescimento significativo ou síndrome de Kasabach-Merritt. A ressecção geralmente pode ser feita por enucleação do hemangioma, mas ocasionalmente ressecções anatômicas do fígado podem ser indicadas. Estudos comparativos de enucleação e ressecção anatômica sugerem que a enucleação é associada à menor taxa de complicações abdominais, principalmente fístula biliar. Uma possível explicação para esta diferença é que o hemangioma comprime o tecido hepático adjacente, fazendo com que a enucleação dentro do espaço fibroso causado pelo tumor evite lesão de ductos biliares e vasos.

Apesar de excepcional, a rotura espontânea de hemangioma hepático é associada à elevada mortalidade, variando de 60% a 75%. Em revisão recente da literatura, Corigliano et al relataram a taxa de mortalidade de 36,4% dos pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico. A excisão cirúrgica é o tratamento mais frequentemente utilizado. A embolização arterial do vaso roto também tem sido utilizada com sucesso

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