Ortodoxia Cirúrgica
Embora “Ortodoxia” seja uma obra filosófica e teológica escrita por G.K. Chesterton, suas ideias podem ter algumas aplicações interessantes e reflexivas no cotidiano da cirurgia. Claro que a relação direta pode não ser evidente, mas certos princípios filosóficos podem fornecer perspectivas valiosas para os cirurgiões. Aqui estão algumas maneiras pelas quais as ideias de “Ortodoxia” podem ser aplicadas no contexto cirúrgico:
- Valorizar o pensamento paradoxal: A cirurgia é uma disciplina complexa e muitas vezes ambígua, onde os médicos devem tomar decisões cruciais em situações desafiadoras. Valorizar o pensamento paradoxal pode ajudar os cirurgiões a considerar opções diversas e até opostas antes de tomar decisões importantes.
- Reconhecimento da complexidade humana: Chesterton destaca a importância de compreender a natureza complexa da realidade. No contexto cirúrgico, isso se traduz em tratar cada paciente como um indivíduo único, com suas próprias circunstâncias médicas, emocionais e sociais. Isso pode ajudar os cirurgiões a abordar cada caso com uma mente aberta e livre de preconceitos.
- Equilíbrio entre tradição e inovação: Assim como Chesterton valoriza a tradição cultural, os cirurgiões podem se beneficiar de uma abordagem equilibrada entre as técnicas tradicionais e as inovações médicas. Combinar o conhecimento estabelecido com as mais recentes pesquisas e tecnologias pode levar a melhores resultados para os pacientes.
- Enfrentar a incerteza: A cirurgia pode ser imprevisível, e os resultados nem sempre são garantidos. A ortodoxia de Chesterton nos encoraja a aceitar a incerteza e a enfrentar os desafios com coragem e confiança. Essa mentalidade pode nos ajudar a enfrentar situações complicadas e se adaptar a cenários imprevistos.
- Importância da ética e moralidade: Chesterton enfatiza a importância da moralidade e da virtude. Na cirurgia, esses princípios são essenciais para garantir a melhor qualidade de atendimento ao paciente, respeitando sempre a dignidade e os direitos humanos.
- Valorizar a imaginação: A imaginação é uma parte essencial do trabalho cirúrgico, permitindo aos médicos visualizar procedimentos, simular situações e pensar em soluções criativas. A capacidade de imaginar possibilidades pode ajudar os cirurgiões a planejar cuidadosamente cada intervenção.
Embora “Ortodoxia” não tenha sido escrito com o objetivo específico de se aplicar à cirurgia, as ideias e princípios contidos na obra podem inspirar uma reflexão mais profunda e nos guiar de forma mais consciente, sensível e equilibrada.
As virtudes cardinais cirúrgicas
A prática cirúrgica é uma forma de arte que exige habilidade técnica e precisão, mas vai além disso. Os cirurgiões não apenas dominam as técnicas e procedimentos, mas também são desafiados a aplicar virtudes cardinais em cada etapa do ato operatório. A diérese, exérese, hemostasia e síntese, as quatro fases cruciais da cirurgia, podem ser vistas como um reflexo das virtudes cardinais: prudência, justiça, fortaleza e temperança. Vamos explorar como essas virtudes se manifestam na rotina de um cirurgião comprometido com o bem-estar dos pacientes.
Diérese (A Prudência como Guia) : A primeira etapa da cirurgia, a diérese, é o momento em que o cirurgião realiza uma incisão precisa para acessar o local a ser tratado. A prudência, virtude da sabedoria prática, entra em cena através do domínio da anatomia. O cirurgião deve avaliar cuidadosamente cada caso, analisar os riscos e tomar decisões fundamentadas. A prudência orienta a escolha das melhores abordagens cirúrgicas, levando em consideração a saúde geral do paciente, suas necessidades individuais e o objetivo final da intervenção.
Exérese (A Justiça na Busca pelo Equilíbrio): Na fase de exérese, o cirurgião remove tecidos ou estruturas comprometidas pela doença. Aqui, a justiça desempenha um papel essencial. O cirurgião deve agir com equidade, buscando remover apenas o que é necessário, sem excessos ou negligências. A justiça implica em tratar cada paciente com equidade, respeito e imparcialidade, levando em consideração os melhores interesses do indivíduo e buscando o bem comum. É um compromisso em garantir que o procedimento cirúrgico seja realizado com integridade e sempre em benefício do paciente.
Hemostasia (A Fortaleza para Enfrentar Desafios) : Durante a fase de hemostasia, o cirurgião aplica técnicas para controlar o sangramento e garantir um campo cirúrgico claro. Nesse momento, a fortaleza se faz presente. A cirurgia pode apresentar situações imprevistas, complicações ou momentos de grande pressão. A fortaleza permite ao cirurgião manter-se firme, agir com coragem diante de adversidades e tomar decisões rápidas, mas sábias, para proteger a vida e o bem-estar do paciente. A fortaleza é a virtude que impulsiona o cirurgião a enfrentar desafios com firmeza e superar obstáculos através de uma alma inabalável, mantendo durante todo o procedimento uma determinação com o melhor prognóstico do paciente.
Síntese (A Temperança na Busca do Equilíbrio Final) : A última etapa, a síntese, envolve a restauração da integridade do tecido por meio de suturas ou outros meios. Nesse momento, a temperança se revela. A temperança é a virtude que permite ao cirurgião exercer controle e moderação, evitando excessos e buscando a harmonia. A escolha adequada do material de sutura, a técnica precisa e o cuidado meticuloso são fundamentais. A temperança assegura que a finalização do ato operatório seja feita com prudência, justiça e fortaleza, considerando o bem-estar a longo prazo do paciente.
Logo, podemos concluir que a prática da cirurgia transcende a habilidade técnica e exige o cultivo das virtudes cardinais. A prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança tornam-se guias éticos para o cirurgião comprometido com o cuidado ao paciente. A diérese, exérese, hemostasia e síntese, cada uma refletindo uma virtude cardinal, são etapas cruciais em busca da excelência médica. Quando o cirurgião incorpora essas virtudes em sua rotina, ele se torna não apenas um técnico habilidoso, mas um verdadeiro médico que busca o bem-estar e a cura integral do paciente. A arte da cirurgia, assim, se revela não apenas como uma expressão de destreza manual, mas como uma expressão do cuidado compassivo e virtuoso que o médico oferece ao paciente.