Introdução
A colecistostomia é um procedimento fundamental no arsenal terapêutico para o manejo da colecistite aguda em pacientes de alto risco cirúrgico. Enquanto a colecistectomia laparoscópica permanece como tratamento definitivo, a colecistostomia surge como uma alternativa segura, minimamente invasiva e eficaz, especialmente em pacientes com comorbidades significativas ou contraindicações à anestesia geral.
No Brasil, onde o acesso à saúde ainda enfrenta desafios estruturais, a colecistostomia percutânea tem ganhado espaço como opção terapêutica em hospitais públicos e privados. Estudos locais destacam sua aplicação em pacientes idosos, portadores de doenças cardiovasculares avançadas ou em uso de anticoagulantes, perfis frequentes em nossa população.
Este artigo abordará as indicações, técnicas, complicações e resultados da colecistostomia, com foco na prática do cirurgião do aparelho digestivo.
Indicações da Colecistostomia
A colecistostomia é indicada principalmente em:
- Colecistite aguda refratária ao tratamento clínico em pacientes com alto risco cirúrgico (ASA ≥ III).
- Pacientes com distúrbios de coagulação (em uso de anticoagulantes ou com cirrose hepática).
- Colecistite acalculosa em pacientes críticos (ex.: internados em UTI).
- Gestantes no terceiro trimestre com colecistite aguda.
- Obstrução biliar em pacientes inaptos para CPRE.
Segundo as Diretrizes de Tóquio (TG13), a colecistostomia é recomendada para colecistite moderada (grau II) ou grave (grau III) não responsiva a antibioticoterapia. No Brasil, dados do Colégio Brasileiro de Cirurgiões apontam que até cerca de 5% dos casos de colecistite aguda podem ser tratados inicialmente com colecistostomia, especialmente em hospitais de referência.
Técnicas de Colecistostomia
- Percutânea (Guiada por US/TC):
- Via transhepática (preferencial para reduzir vazamento biliar).
- Via transperitoneal (menos utilizada devido a maior risco de complicações).
- Técnica de Seldinger ou trocarte direto.
- Laparoscópica:
- Opção quando a colecistectomia é inicialmente planejada, mas abortada devido a inflamação intensa.
- Cirúrgica Aberta:
- Reservada para falha das técnicas minimamente invasivas.
Aplicação na Cirurgia Digestiva
A colecistostomia tem papel crucial no manejo escalonado da colecistite aguda:
- Fase aguda: Alívio da sepse biliar.
- Fase definitiva: Decisão entre remoção do cateter ou colecistectomia tardia.
Estudos brasileiros demonstram que 30-40% dos pacientes submetidos à colecistostomia evoluem para colecistectomia eletiva, enquanto os demais mantêm o cateter como tratamento definitivo, principalmente idosos e pacientes com comorbidades graves.
Pontos-Chave para o Cirurgião Digestivo
- Seleção adequada do paciente é fundamental para evitar complicações.
- Via transhepática reduz vazamento biliar e deslocamento do cateter.
- Antibioticoterapia pré e pós-procedimento é essencial para evitar sepse.
- Remoção do cateter após 4-6 semanas (avaliar maturação do trajeto fistuloso).
- Monitorar complicações:
- Deslocamento do cateter (27%).
- Vazamento biliar (3-6%).
- Abscesso peri-hepático (9%).
Conclusões Aplicadas à Prática
A colecistostomia é uma ferramenta valiosa no tratamento da colecistite aguda em pacientes de alto risco. No cenário brasileiro, onde a população envelhecida e as comorbidades cardiovasculares são prevalentes, seu uso deve ser considerado de forma individualizada.
Embora a colecistectomia laparoscópica permaneça como padrão-ouro, a colecistostomia oferece uma alternativa segura e eficaz, reduzindo mortalidade e tempo de internação. Futuros estudos prospectivos, como o CHOCOLATE trial, trouxeram mais evidências sobre seu papel definitivo.
“A cirurgia é a arte de salvar vidas, mas também de saber quando não operar.” — William Stewart Halsted
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