Introdução
As infecções de sítio cirúrgico (ISC) representam um dos maiores desafios enfrentados por cirurgiões e equipes de saúde em todo o mundo. Elas não só aumentam a morbidade e mortalidade entre os pacientes, mas também geram um significativo impacto econômico, prolongando o tempo de internação e aumentando os custos hospitalares. No Brasil, estima-se que a taxa de ISC possa atingir até 19% em cirurgias do aparelho digestivo, dependendo do tipo de procedimento realizado. Neste contexto, compreender as causas, riscos e, principalmente, as estratégias de prevenção das ISCs é fundamental para a prática cirúrgica segura e eficaz.
Desenvolvimento
As ISCs são infecções que ocorrem no local da incisão cirúrgica ou nos tecidos profundos, onde a cirurgia foi realizada, dentro de 30 dias após a operação, ou até mais tempo caso um dispositivo protético tenha sido implantado. Esses tipos de infecções representam cerca de 20% a 25% de todas as infecções associadas aos cuidados de saúde e são especialmente prevalentes em pacientes submetidos a procedimentos no aparelho digestivo, devido à natureza das cirurgias e à potencial contaminação do campo operatório.
Diversos fatores influenciam o risco de desenvolvimento de uma ISC, divididos em variáveis endógenas (relacionadas ao paciente) e exógenas (relacionadas ao procedimento). Entre os fatores do paciente, destacam-se a idade avançada, má nutrição, obesidade, diabetes e tabagismo. Já os fatores relacionados ao procedimento incluem a classificação da cirurgia (por exemplo, cirurgias contaminadas ou sujas), a duração da operação e o cuidado pós-operatório da incisão. A falha na administração correta de profilaxia antibiótica perioperatória também é um fator de risco independente, com estudos mostrando que a administração inadequada pode aumentar em até 6 vezes a taxa de infecções.
Aplicação na Cirurgia Digestiva
No campo da cirurgia digestiva, as ISCs são particularmente prevalentes e exigem uma abordagem meticulosa para prevenção. Cirurgias que envolvem o trato gastrointestinal, como as ressecções de intestino e procedimentos de esofagectomia, apresentam um risco aumentado devido à possibilidade de vazamento de conteúdo intestinal e contaminação do campo cirúrgico.
A profilaxia antibiótica adequada, associada à técnicas assépticas rigorosas, desempenha um papel crucial na prevenção das ISCs. A escolha do antibiótico correto, administrado no momento ideal, geralmente dentro de uma hora antes da incisão, é fundamental para reduzir a carga bacteriana no sítio cirúrgico. Além disso, a manutenção da normotermia durante a cirurgia, o controle glicêmico rigoroso em pacientes diabéticos e o manejo adequado de drenagens e curativos são práticas essenciais que devem ser implementadas.
Pontos-Chave
- Prevalência e Impacto: As ISCs são responsáveis por uma parte significativa das complicações pós-operatórias, especialmente em cirurgias digestivas.
- Fatores de Risco: Incluem características do paciente e aspectos do procedimento cirúrgico.
- Prevenção: A profilaxia antibiótica e o manejo adequado durante o perioperatório são cruciais para a prevenção.
- Abordagem Multidisciplinar: A prevenção eficaz exige a colaboração de toda a equipe cirúrgica, incluindo enfermeiros, anestesistas e farmacêuticos.
Conclusões Aplicadas à Prática do Cirurgião Digestivo
Para o cirurgião digestivo, a prevenção de ISCs deve ser uma prioridade durante todo o processo cirúrgico. A implementação de protocolos baseados em evidências, juntamente com a educação contínua da equipe de saúde, é vital para reduzir a incidência dessas infecções. Além disso, a abordagem individualizada ao paciente, levando em consideração os fatores de risco específicos e as características do procedimento, pode otimizar os resultados e melhorar a segurança do paciente.
A cirurgia é uma arte e uma ciência que exige precisão e cuidado meticuloso. Como disse Hipócrates, “Primum non nocere” — Primeiro, não causar dano. Em nenhum outro lugar essa máxima é mais relevante do que na prevenção de infecções de sítio cirúrgico.
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