SOCRATES: Avaliação Sistemática da Dor em Cirurgia Digestiva

Introdução

A dor é um dos sintomas mais comuns que levam os pacientes a procurarem atendimento médico, e a sua avaliação precisa é crucial, especialmente na prática cirúrgica. Para estudantes de medicina, residentes de cirurgia geral e pós-graduandos em cirurgia do aparelho digestivo, o domínio da avaliação da dor é fundamental para o diagnóstico e tratamento adequados. O acrônimo SOCRATES é uma ferramenta eficaz que auxilia na sistematização da história clínica da dor, permitindo uma compreensão detalhada e contextualizada do quadro clínico do paciente.

Desenvolvimento

O Acrônimo SOCRATES

  1. Site (Localização) O primeiro passo na avaliação da dor é determinar onde ela está localizada. A dor é localizada, regional ou generalizada? Em pacientes com doenças do aparelho digestivo, a dor pode ser localizada em regiões específicas, como o epigástrio em úlceras pépticas, ou pode ser mais difusa, como na peritonite. A localização precisa ajuda a orientar o diagnóstico diferencial e a escolha das investigações complementares.
  2. Onset (Início) O início da dor é gradual, rápido ou súbito? A dor é intermitente ou constante? Essas perguntas são essenciais para determinar a etiologia da dor. Por exemplo, uma dor súbita e intensa pode sugerir uma condição aguda e grave, como uma perfuração gastrointestinal, enquanto uma dor gradual pode estar associada a processos inflamatórios crônicos, como a pancreatite.
  3. Character (Característica) A dor é descrita como aguda, em pontada, surda, latejante, apertada ou dolorida? A caracterização da dor oferece pistas valiosas sobre a patofisiologia subjacente. Por exemplo, uma dor aguda e em pontada pode sugerir isquemia, enquanto uma dor surda e contínua pode indicar inflamação crônica.
  4. Radiation (Irradiação) A dor irradia para outras áreas? A irradiação da dor é um aspecto crucial na avaliação clínica. Na cirurgia digestiva, por exemplo, a dor de cólica ureteral pode irradiar para a virilha, a dor relacionada à irritação diafragmática pode irradiar para o ombro, e a dor de origem pancreática pode se estender para as costas.
  5. Associated Symptoms (Sintomas Associados) A dor vem acompanhada de outros sintomas, como náuseas, vômitos, disúria ou icterícia? A presença de sintomas associados pode direcionar o diagnóstico para causas específicas. A dor abdominal acompanhada de icterícia, por exemplo, pode indicar colestase ou pancreatite.
  6. Timing (Cronologia) A dor ocorre em algum momento específico? A dor está associada à alimentação, ao repouso ou ao esforço físico? A cronologia da dor pode ser um indicador importante da sua etiologia. Dor após a ingestão de alimentos gordurosos pode sugerir colecistite, enquanto a dor que piora à noite pode estar relacionada a úlceras duodenais.
  7. Exacerbating or Relieving Factors (Fatores Exacerbantes ou Aliviadores) O que agrava ou alivia a dor? A dor piora com a respiração profunda, movimento ou tosse, sugerindo irritação de nervos somáticos no peritônio? A melhora com compressas quentes pode indicar dor inflamatória profunda. Na prática cirúrgica, a identificação desses fatores é essencial para o manejo adequado da dor, tanto pré quanto pós-operatória.
  8. Surgical History (Histórico Cirúrgico) O histórico cirúrgico do paciente está relacionado à dor atual? Pacientes com cirurgias prévias podem apresentar dores relacionadas a aderências, recidivas ou complicações cirúrgicas, como abscessos ou hérnias.

Pontos-Chave

  • SOCRATES é uma ferramenta prática e eficaz para a avaliação detalhada da dor em pacientes cirúrgicos.
  • A sistematização da avaliação da dor ajuda a formular hipóteses diagnósticas precisas e orienta a investigação clínica.
  • Na cirurgia digestiva, a aplicação correta do SOCRATES pode ser a chave para diagnósticos precoces e intervenções cirúrgicas oportunas.

Conclusão

A dor, um sintoma tão comum quanto desafiador, exige uma abordagem sistemática para ser compreendida e tratada corretamente. A aplicação do acrônimo SOCRATES na prática clínica diária pode transformar a avaliação da dor em uma ferramenta diagnóstica poderosa, especialmente em contextos cirúrgicos. Como bem observou o cirurgião e professor Harvey Cushing: “Um cirurgião que não pode operar não é um cirurgião, mas um cirurgião que não pode diagnosticar não é médico.”

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