Semiologia do Paciente Cirúrgico

Objetivos de Aprendizado

✓ Compreender os princípios de como realizar uma anamnese clara, realizar um exame físico adequado, apresentar os achados e formular um plano de manejo para diagnóstico cirúrgico.

✓ Entender a nomenclatura comum utilizada na cirurgia. Os estudantes que fazem parte da equipe cirúrgica, ao lidarem com seus pacientes, devem reconhecer os seguintes passos no manejo dos mesmos:

  1. Anamnese: Ouça atentamente a história do paciente.
  2. Exame Físico: Realize uma avaliação minuciosa.
  3. Registro de Notas: Documente os achados com precisão.
  4. Construção de Diagnóstico Diferencial: Pergunte-se: “Qual diagnóstico melhor explica este quadro clínico?”
  5. Investigações Complementares: Quais exames laboratoriais e de imagem são necessários para confirmar ou refutar o diagnóstico clínico?
  6. Manejo: Decida sobre o tratamento do paciente. Lembre-se de incluir a tranquilização, o alívio da dor e, na medida do possível, acalmar a ansiedade do paciente.

História Clínica e Exame Físico

O desenvolvimento de habilidades clínicas não pode ser subestimado. A dependência excessiva em investigações especiais e em imagens modernas (algumas das quais podem ser dolorosas e carregam seus próprios riscos e complicações) é renunciar às habilidades necessárias para se tornar um bom médico. Lembre-se de que o paciente estará apreensivo e, muitas vezes, com dor e desconforto. Atender a essas necessidades é a primeira tarefa de um bom médico.

A História Clínica

A história deve ser um reflexo preciso do que o paciente disse, e não sua interpretação. Faça perguntas abertas, como “Quando você estava bem pela última vez?” e “O que aconteceu depois?”, em vez de perguntas fechadas, como “Você tem dor no peito?”. Se você encontrar algo positivo, não mude de assunto até saber tudo sobre isso. Por exemplo: “Quando começou?”, “O que melhora e o que piora?”, “Onde começou e para onde foi?”, “Foi constante ou intermitente?”. Se o sintoma for caracterizado por sangramento, pergunte sobre o tipo de sangue, quando ocorreu, em que quantidade, se havia coágulos, se estava misturado com alimentos/fezes e se estava associado à dor. Lembre-se de que a maioria dos pacientes procura um cirurgião por causa de dor ou sangramento.

Tenha em mente que o paciente não tem conhecimento de anatomia. Ele pode dizer “meu estômago dói”, mas isso pode ser dor no peito inferior ou na região periumbilical – peça para ele apontar o local da dor. Tenha em mente que ele pode estar apontando para uma dor referida. Similarmente, não aceite “dor nas costas” sem esclarecer onde exatamente – sacro, coluna lombar, torácica ou cervical, ou talvez regiões lombares ou subescapulares. Ao se referir à ponta do ombro, esclareça se o paciente se refere ao acrômio; ao se referir à escápula, esclareça se é o ângulo da escápula. Tais locais de dor podem sugerir dor referida do diafragma e da vesícula biliar, respectivamente.

Muitas vezes, é útil considerar as vísceras em termos de sua embriologia. Assim, a dor epigástrica geralmente se origina de estruturas do intestino anterior, como estômago, duodeno, fígado, vesícula biliar, baço e pâncreas; a dor periumbilical é uma dor do intestino médio, proveniente do intestino delgado e do cólon ascendente, incluindo o apêndice; a dor suprapúbica é uma dor do intestino posterior, originada no cólon, reto e outras estruturas da cloaca, como a bexiga, o útero e as trompas de Falópio. A dor testicular pode também ser periumbilical, refletindo a origem intra-abdominal desses órgãos antes de sua descida para o escroto – nunca se deixe enganar pela criança com torção testicular que se queixa de dor no centro do abdômen.

O Exame Físico

Lembre-se da clássica sequência nesta ordem:

  1. Inspeção
  2. Palpação
  3. Percussão
  4. Auscultação

Aprenda a arte da inspeção cuidadosa e mantenha as mãos longe do paciente até concluir essa etapa. Observe o paciente de forma geral, como ele se deita e como respira. Ele está taquipneico devido a uma infecção pulmonar ou em resposta a uma acidose metabólica? Observe as mãos do paciente e sinta seu pulso. Pedir que ele caminhe pode revelar informações importantes em alguém com claudicação ou na avaliação da condição física geral.

Somente após uma inspeção cuidadosa você deve prosseguir para a palpação. Se estiver examinando o abdômen, peça ao paciente que tussa. Isso é um teste indireto de dor à descompressão e indica onde está o local de inflamação dentro da cavidade peritoneal. Lembre-se de examinar primeiro o lado “normal”, o lado que não é sintomático, seja no abdômen, mão, perna ou mama. Observe o paciente enquanto palpa. Se houver um nódulo, determine em qual plano anatômico ele está localizado. Está na pele, no tecido subcutâneo, na camada muscular ou, no caso do abdômen, na cavidade subjacente? O nódulo é pulsátil, expansivo ou móvel?

Escrevendo Suas Notas

Sempre registre seus achados de forma completa e precisa. Comece anotando a data e a hora da entrevista, e verifique se o nome do paciente está no topo da página e se estas são as notas corretas. Registre todos os achados, tanto negativos quanto positivos. Evite abreviações, pois podem significar coisas diferentes para pessoas diferentes; por exemplo, PID – você pode estar se referindo à doença inflamatória pélvica, mas a próxima pessoa pode interpretar como um disco intervertebral prolapsado. Use a terminologia cirúrgica correta.

Ilustre seu exame de forma clara com desenhos – use pontos de referência anatômicos e meça com precisão o diâmetro dos nódulos. Ao desenhar achados abdominais, utilize uma representação hexagonal. Uma linha contínua implica uma borda; o sombreamento pode representar uma área de sensibilidade ou o local onde a dor é sentida. Se puder palpar todo o contorno de um nódulo, desenhe uma linha para indicar isso; se puder sentir apenas a margem superior, desenhe apenas essa parte. Anote os desenhos com seus achados. No final das suas notas, escreva um resumo em um único parágrafo e faça um diagnóstico ou anote um diagnóstico diferencial. Delineie um plano de manejo e indique quais exames devem ser realizados, especificando quais você já providenciou. Assine suas notas e escreva seu nome, posição, e a hora e data legíveis abaixo.

Apresentação de Caso

O objetivo de apresentar um caso é transmitir aos seus colegas as características clínicas importantes, o diagnóstico ou diagnóstico diferencial, o manejo e as investigações do seu paciente. A apresentação não deve ser uma leitura das notas do caso, mas deve ser sucinta e objetiva, contendo achados positivos e negativos importantes. Evite usar palavras como “basicamente”, “essencialmente” ou “irrelevante”, que são supérfluas e sem sentido. Evite dizer que algo é “apenas” palpável – ou você pode sentir ou não. Decida-se. Ao final de uma boa apresentação, o ouvinte deve ter uma excelente imagem mental do paciente e dos seus problemas, o que deve ser monitorado e quais são os planos de manejo.

Conclusão

A estratégia cirúrgica envolve uma combinação de habilidades clínicas meticulosas, julgamento criterioso e uma abordagem sistemática para garantir o melhor cuidado ao paciente. Da anamnese detalhada ao exame físico preciso, cada etapa é crucial para um diagnóstico e manejo eficazes. Assim, a arte da cirurgia não reside apenas na técnica operatória, mas na compreensão e no respeito às necessidades e preocupações do paciente, garantindo um tratamento holístico e humanizado.

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